Estava a andar no meio de uma multidão, sem conseguir ver nada para além das pessoas que me apertavam de todos os lados. Não via para onde íamos, apenas sabia que andávamos à volta de alguma coisa num grande círculo. De repente parei e, contrariando o fluxo, fui em direcção ao centro.
Quando cheguei a uma clareira vi-me frente-a-frente com um ancião, sentado em cima de uma rocha. Era a única coisa que se encontrava ali.
Chamou-me pelo meu nome e perguntou-me se eu sabia quem ele era. Respondi: “És um discípulo de Cristo. És Pedro.” (Já na altura não fazia a menor ideia de onde me tinha vindo essa resposta.)
Respondeu, “Sim. E chegou a hora de vires comigo.”
Acordei exaltada. Horas mais tarde encontrava-me nos bancos de uma igreja protestante, com os pensamentos à deriva no meio de uma homilia pascal. Peguei na Bíblia e abri-a em Mateus 16,18: “Tu és Pedro e sob esta rocha edificarei a minha Igreja.”
Exactamente um ano mais tarde tornei-me católica.
Há alguns domingos, enquanto atravessava a Pennsilvania Avenue em Washington, D.C. para entrar numa igreja com o meu marido ao meu lado, o vento fez esvoaçar a blusa à volta da minha barriga, inchada com nova vida.
Os transeuntes tinham o olhar cansado e vago de uma noite de excessos. Havia lixo no passeio. Tanto as pessoas como os papéis atravessavam à frente da porta da Igreja, soprados lentamente pelo vento, como se aquela nem lá estivesse, sem qualquer destino concreto.
Por breves instantes senti-me de volta ao meu sonho, um pé suspenso por cima da passagem de peões, a minha bainha a subir lentamente em direcção às portas. O vento também me tentava empurrar, mas tinha o olhar fixo em São Pedro e na sua Rocha.
Era Domingo Laetare. A missa era da comunidade filipina, o padre era africano, duas mulheres traduziam os cânticos para língua gestual. A Igreja Universal. Apertada entre o mercado e a loja de ferragens. As leituras versavam uma das aparentemente incontáveis destruições deste ou daquele templo. O padre recordava-nos que cada vez que sentíamos o aperto do nosso sacrifício quaresmal, dávamos mais um passo em direcção a Cristo.
Nesta curta vida temos duas hipóteses. Andamos à volta da igreja, ou andamos em direcção a ela.
É assim tão simples. Ou caminhamos atrás de Cristo, a sacudir os demónios que pousam sobre os nossos ombros, sob o peso terrível do pecado. Caindo ao chão para sentir o sabor do Sangue. Um doce toque da Carne. Ou estamos de pé, nas margens, a observá-Lo.
No passado fim-de-semana, durante o Tríduo Pascal, os católicos americanos fizeram uma pausa de todo o caos da discussão do decreto da HHS [que visa forçar instituições católicas a suportar o custo de serviços contraceptivos e abortivos para os seus funcionários] para permanecer aos pés da Cruz. Ficámos lá num silêncio tão profundo que alguns conseguiam ouvir o madeiro a ranger no vento.
Naquele espaço de tempo entre a Quaresma e a oitava da Páscoa em que nos encontramos agora, o tempo fica suspenso e agarramo-nos à Cruz. Sentimos as suas farpas na nossas face molhada. Dormimos sonos irrequietos enquanto os agentes de Satanás, com as suas memórias truncadas, pensam por uma questão de horas que a vitória lhes vai sorrir.
E depois regozijamos na glória da Páscoa. O sepulcro está tão vazio, o mundo tão cheio. A vida é novamente sensual. As nossas almas cheias.
E então chega a segunda-feira de manhã e o Cardeal Dolan está de volta à televisão a defender a Igreja contra o decreto da HHS e Ross Douthat recorda-nos da crescente polarização da religião na América.
O nosso “inbox” está zangado por termos tirado o fim-de-semana para seguir a Cristo na sua Via Sacra, de nos termos colocado ao lado da sua mãe enquanto Ele morria e festejado com as mulheres, carregadas de óleos, quando vimos que o seu corpo tinha desaparecido no Domingo de manhã.
Mas a Páscoa acaba, o mundo volta à carga. Satanás pega na sua arma chamada “mundano”.
Aconteça o que acontecer com este decreto da HHS, não nos esqueçamos que a nossa é uma Igreja que já sobreviveu a mais do que um abuso burocrático. Sobreviveu a séculos de guerra e perseguição. Viu os seus templos arrasados, reconstruídos e demolidos de novo. Sobreviveu até à fumaça de Satanás no seu seio.
Actualmente sobrevive a um período de grande descrença e hostilidade. De facto, prospera misteriosamente.
Por isso enquanto descemos do Calvário e regressamos ao tempo comum mais uma vez, encontraremos novamente os males diários que atravessam os nossos caminhos. Tal como o decreto da HHS.
Deixem-me ser clara. O decreto da HHS é talvez o mais grave atentado contra a nossa Igreja que alguma vez se viu na América moderna. Estes não são tempos comuns para os católicos americanos
Mas a nossa Igreja está edificada na mais eterna das rochas.
E as portas do Inferno não prevalecerão contra Ela.
Marchemos, então, meus irmãos católicos.
Ashley E. McGuire é directora da AltCatholicah.
(Publicado pela primeira vez na Quarta-feira, 11 de Abril 2012 em www.thecatholicthing.org)
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