Friday, 24 February 2023

Vigílias em Lisboa e retransmissores de Moscovo

Por mais que alguns estejam fartos, o grande tema continua a ser o Relatório da Comissão Independente. Ontem houve vigílias em vários pontos do país em que os católicos oraram em silêncio pelas vítimas, pela Igreja e pelos padres. O Patriarca de Lisboa esteve na vigília em Lisboa.

Antes disso D. Manuel Clemente celebrou missa de Quarta-feira de Cinzas e sublinhou que nesta questão dos abusos “não podemos falhar de modo algum”, utilizando ainda os termos “tristeza, vergonha, arrependimento”.

Como é que a Igreja deve receber os dados constantes deste relatório? Que leitura deve fazer de algumas das suas conclusões? O que vem a seguir? Foi sobre isso que conversei com o Octávio Carmo, jornalista da Ecclesia, no episódio da semana passada do podcast Hospital de Campanha. Se este assunto vos interessa – e se não interessa, devia interessar – ouçam esta conversa, mesmo!

Estive também no programa da Agência Ecclesia que foi para o ar na Sexta-feira passada a falar desta questão, desta vez com o Pedro Gil, do gabinete de imprensa da Opus Dei. Podem ver aqui.

A informação constante do relatório já me permitiu actualizar o post em que elenco todos os casos de abusos – ou alegados abusos – que houve em Portugal nas últimas décadas e já sabem que podem sempre consultar a cronologia que mantenho sobre este assunto desde 2012, e que também vai sendo actualizada.

Se acham que eu levo muito na cabeça por escrever sobre a questão dos abusos, então nem imaginem a porrada que às vezes levo pelas minhas posições críticas que assumo em relação à Igreja Ortodoxa Russa e o seu papel na guerra da Ucrânia, nomeadamente do seu Patriarca. Foi por isso com algum espanto que ontem li num artigo de opinião no Observador que há quem me considere “responsável por retransmitir a voz da Igreja Ortodoxa de Moscovo para o mundo católico”. Isto a propósito da minha recente entrevista ao bispo da Igreja Ortodoxa Russa para Portugal e Espanha, que entretanto foi publicada em versão portuguesa no Expresso. Já enviei para o Observador um curto artigo de esclarecimento, que espero poder partilhar convosco para a semana.

Deixo-vos, por fim, com o artigo desta semana do The Catholic Thing, em que John M. Grondelski explica porque é que mandamos celebrar missas pelos defuntos. Um artigo que vem mesm
o a calhar para uma altura em que começamos a caminhada quaresmal.

O que me leva à seguinte questão… Santa Quaresma para todos. Que seja um período de aprofundamento espiritual! Até para a semana, se Deus quiser.

2 comments:

  1. "em que elenco todos os casos de abusos – ou alegados abusos" - curioso que é a 1ª vez e somente aqui que se refere a "alegados abusos"....o que dirá se um dia houver uma comissão específica para tratar de abusos - ou alegados abusos" no seio de familias numerosas e o relatorio for assim mais ou menos feito como este a pedido da CEP e depois houver vigilias a pedir perdão pelas vitimas - ou alegadas vitimas- no seio de familias numerosas.

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  2. Bom dia.
    Diz no seu comentário que é "curioso que é a 1ª vez e somente aqui que se refere a "alegados abusos".
    Ora bem:
    Na cronologia que mantenho refiro a palavra alegados 11 vezes (https://actualidadereligiosa.blogspot.com/2012/12/casos-de-abusos-sexuais-em-portugal.html#.Y_yDwHbP3rc)
    No primeiro artigo que fiz com reflexões sobre o relatório, depois da sua publicação, escrevi a seguinte frase: "Em primeiro lugar, é preciso avaliar e determinar se a alegação é credível. Não nos esqueçamos que houve mais do que um caso nos últimos anos em que um padre suspeito foi de imediato suspenso enquanto o assunto era investigado, tendo-se concluído pela impossibilidade da prática daquele crime. A presunção da inocência continua a ser um bem valioso."
    No artigo "O que sabemos e o que falta saber", em que elenco todos os casos públicos até agora, escrevo o seguinte: "A inclusão dos nomes significa apenas que houve alegações e nada diz sobre a veracidade das mesmas, havendo até várias situações de pessoas sobre as quais foram levantadas suspeitas e que acabaram absolvidas."
    São apenas alguns exemplos.
    Em relação ao resto do seu comentário, não vejo que a situação seja comparável. Existem famílias numerosas, e existe uma associação de famílias numerosas, mas nem uma nem outra são análogas à Igreja enquanto instituição. Mais, a vigília não foi apenas para pedir perdão às vítimas, teve vários outros objectivos, incluindo a oração pela Igreja e pelos padres - todos.
    Cumprimentos.
    Filipe

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