Por cima da majestosa porta principal da Escola Santo Estêvão da Hungria, em Manhattan, estão gravadas na pedra as palavras Venite Adoremus Dominum – “Vinde, adoremos o Senhor”. À primeira vista, estas palavras podem parecer deslocadas. A escola não deve tratar de números e letras, rochas e mapas, pinturas e canções? Uma exortação desta natureza não devia estar por cima da porta de uma igreja, e não de uma escola?
Mas não, as palavras estão
mesmo no local certo. De facto, elas devem estar por cima da entrada de uma
escola católica, uma vez que todos os seus ensinamentos, todos os seus recursos
e o seu pessoal existem por uma só razão: conduzir os alunos ao Céu, onde
adorarão o Senhor para toda a eternidade.
Há quatro décadas que estou
ligado às escolas católicas, desde o jardim de infância até ao secundário, na
qualidade de aluno, professor e pai. Já visitei escolas católicas que são
perfeitamente medianas, que estão a lutar pela sobrevivência ou que se deixam consumir
pelo fogo da missão. Há muitos ingredientes que contribuem para tornar uma
escola bem-sucedida, mas a minha experiência é de que há um factor que potencia
uma escola que seja dinâmica, fiel e atractiva: um exército de professores
dedicados ao ensino enquanto forma de conduzir os seus alunos a louvar o
Senhor.
Durante esta Semana das
Escolas Católicas deixo a sugestão de nos focarmos no papel que os professores
desempenham para melhorar, ou estragar, a experiência das crianças nas escolas
católicas. Claro que isto inclui a experiência religiosa das mesmas. A este
respeito existe uma fórmula que todos conseguem compreender: se os professores
não forem firmes na fé, de forma alguma conseguirão passá-la aos seus alunos.
Existe um fenómeno nas escolas
diocesanas que me deixa sempre perplexo – era assim no meu tempo de estudante e
é assim agora com os meus filhos: demasiadas são as escolas que contratam
professores para ensinar e que depois lhes passam um livro de educação
religiosa e acrescentam: “Também tem de dar aulas de religião. Não sabemos
sequer se vai à missa, mas faz parte do seu trabalho. Leia o livro com a sua
turma e correrá tudo bem”.
Isto nunca aconteceria no
sentido contrário. Um director jamais contrataria alguém para ensinar religião,
só para depois lhe informar que também tinha de leccionar a cadeira de
geometria descritiva. Mas parece que a educação religiosa – que devia ser a
joia da coroa do currículo das escolas católicas – é tratada por muitas escolas
como um assunto secundário.
Claro que não é fácil encher
as escolas católicas em todos os ciclos e para todas as cadeiras com professores
que sejam simultaneamente bem qualificados academicamente e católicos devotos.
Mas tudo muda quando a abordagem administrativa deixa de ser a de tapar buracos
e passa a focar-se na missão. Uma missão entusiasmante atrai trabalhadores que
estejam em sintonia. Uma vez que neste mundo pós-cristão em que vivemos aquilo
de que precisamos para manter a fé viva são missionários de evangelização, as
escolas devem procurar professores onde esses missionários se encontram:
paróquias devotas, capelas de adoração perpétua, certos apostolados e
institutos e universidades reconhecidas por viverem a fé de forma zelosa.
Um pouco de publicidade gratuita para a escola onde andam três dos meus filhos |
E um pouco por todo o lado
essas escolas estão mesmo a ser construídas. Seja em modo de ensino doméstico,
sejam escolas clássicas, escolas que oferecem programas integrados nas artes
liberais tradicionais e nas virtudes. E os pais vêm mesmo, por vezes de muito
longe, para proporcionarem aos seus filhos uma educação que coloca a fé bem no
centro de cada dia, de cada cadeira e de cada actividade. Estas escolas não são
especiais apenas por causa dos seus currículos – até o melhor currículo
torna-se inerte nas mãos de professores sem fé. Antes, estas escolas florescem
por causa dos professores fiéis que, de forma apaixonada, enchem de vida os
currículos dos seus alunos.
Com uma vasta maioria da
população não praticante e desinteressada pela fé, as escolas católicas são a
melhor – e talvez a última – esperança para tornar realidade a nova
evangelização proposta por São João Paulo II. Uma escola cheia de professores
apaixonados pelo Senhor pode transformar uma vila ou até uma cidade. Pensem no
fervor dos doze apóstolos, das primeiras companhias de franciscanos,
dominicanos e jesuítas. Estes homens transformaram cidades sob a inspiração de
líderes que os enviaram em missão. Os professores estão simplesmente à espera
que esses líderes – directores, pastores e bispos – os congreguem, apresentem
uma visão apelativa e os enviem para a colheita.
Gostaria, com isto, de emitir
um apelo a todos os católicos devotos: aos alunos que estão prestes a terminar
a faculdade, às mães que estão prestes a ficar com o ninho vazio, aos homens e
mulheres de negócios que estão bem financeiramente e aos recém-reformados:
porque não considerar, em oração, dedicar alguns anos a dar aulas numa escola
católica? A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Talvez sejam
vocês os trabalhadores por quem os fiéis rezam há tanto tempo.
Não é fácil dar aulas, e é
ainda mais difícil depois de décadas a trabalhar noutros campos. O aviso do
filósofo francês Étienne Gilson aplica-se perfeitamente à educação: “A piedade
não substitui a técnica”. Os professores devem conhecer os seus alunos e devem
encontrar formas eficientes de comunicar este conhecimento. Mas se o
conseguirem fazer, e se forem verdadeiramente crentes, então podem ter um
impacto sobre os mais novos capaz de mover montanhas.
Esta semana em que celebramos
as escolas católicas, trabalhemos para aumentar o número de professores
católicos, pois são eles os missionários que fazem com que valha a pena
celebrar as escolas católicas. São eles os pastores que conduzem as nossas
pequenas ovelhas a louvar o Senhor.
David G. Bonagura, Jr. leciona
no Seminário de São José, em Nova Iorque. É autor de Steadfast in Faith: Catholicism and the Challenges of
Secularism, que será lançado no próximo inverno pela Cluny Media.
(Publicado pela primeira vez
na terça-feira, 31 de Janeiro de 2023 no The Catholic Thing)
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As escolas católicas têm uma missão magnífica, sim. Sem qualquer dúvida. Também eu fiz muitos quilómetros e mudei de casa e terra para que os meus filhos pudessem frequentar uma, quando os mais velhos iniciavam a sua escolaridade. Depois, descobri que os professores das escolas católicas são tão (pouco) católicos como quaisquer outros. Tal como descreve o artigo. E nem vou dar exemplos de ensinamentos contrários à doutrina católica nas mais variadas disciplinas, incluindo Religião e Moral... Depois descobri que os meninos das escolas católicas são tão (pouco) católicos como quaisquer outros, e numa turma, talvez haja um que seja contra o aborto ou a eutanásia, já para não falar de pontos mais subjetivos... Depois, acabaram os contratos de associação e os meus filhos passaram para a escola pública. E, surpresa das surpresas, desde então tiveram (alguns) amigos e professores católicos!!! Os meus cinco filhos mais novos têm feito o percurso nas escolas públicas, muito felizes. Ouvem coisas contrárias à fé? Sim, como ouviam nas escolas católicas. Ficam confusos? Nem um bocadinho! Porque o último reduto da nova evangelização não é, como sugere o artigo, a escola católica, mas a família católica. Aqui em casa, rapidamente se desmontam ideias e explicam confusões, e dou graças a Deus pela exposição precoce que os meus filhos têm a tantas realidades diferentes! A sua fé enrijece-se e crescem robustos. E contagiam pela alegria os seus amigos descrentes. Há um ditado judeu que diz "o Judaísmo pode sobreviver sem sinagogas, mas não sem famílias." A Igreja Católica pode sobreviver sem escolas católicas, mas não sem famílias católicas.
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