Ines A. Murzaku |
A Igreja de St. Ágata, em Caltanissetta, na Sicília, foi sujeita
a um grande ataque – assalto e profanação, a Eucaristia lançada ao chão, relíquias
destruídas, o vidro da Nossa Senhora da Dormição quebrado e um dos seus braços
partidos e a destruição de objetos sagrados. O que a minha aluna não sabia era
que este mais recente ato de vandalismo e profanação aconteceu apenas um mês
depois de um ataque à mesma igreja.
Mas aqui mais perto de casa as coisas não são melhores. Há poucas
semanas soube-se que o padre Travis Clark, pároco da paróquia de São Pedro e
São Paulo, em Pearl River, no Louisiana, tinha cometido um ato de profanação e
sacrilégio no altar da igreja, tendo relações com duas prostitutas. O ato foi
filmado por alguém que viu e informou a polícia.
O arcebispo Gregory Aymond, de Nova Orleãs, não perdeu tempo
e reagiu com força. O padre foi removido permanentemente do ministério e “nunca
mais servirá na Igreja Católica”. Numa mensagem de vídeo publicado pela
Arquidiocese, o arcebispo Aymond condenou o ato de profanação do altar, dizendo:
“A sua profanação do altar e da igreja foi demoníaca e estou
enfurecido pelas suas ações. Quando soubemos dos detalhes removemos o altar e
queimámo-lo. Irei consagrar um altar novo.”
As medidas do arcebispo são para proteger a sacralidade do
altar porque, na Igreja Católica, um altar não é um ornamento, uma decoração ou
uma peça de mobília. Pelo contrário, segundo Catecismo da Igreja Católica:
O altar da Nova Aliança é a cruz do Senhor, de onde
dimanam os sacramentos do mistério pascal. Sobre o altar, que é o centro da
igreja, é tornado presente o sacrifício da Cruz sob os sinais sacramentais. Ele
é também a mesa do Senhor, para a qual o povo de Deus é convidado. Em certas
liturgias orientais, o altar é, ainda, o símbolo do túmulo (Cristo morreu
verdadeiramente e verdadeiramente ressuscitou).
Para além disso, o Cânone 1239 §1 do Código de Direito Canónico,
especifica que um altar deve ser reservado unicamente à adoração de Deus, excluindo
qualquer outro uso profano ou sacrílego. Aplicando ainda o Cânone 1212, uma vez
que o acto de sexo em grupo teve lugar em cima do altar, este foi violado por actos
gravemente injuriosos e escandalosos para os fiéis.
As violações foram tão graves e contrárias à sacralidade do
local (Cânone 1211) que o altar da Igreja de São Pedro e São Paulo perdeu a sua
dedicação e bênção e deixou de poder ser usada para as funções sagradas. A exclusão
absoluta e perda da dedicação explicam as ações do arcebispo, nomeadamente a
remoção do altar antigo, a sua purificação pelo fogo e a dedicação de um altar
novo – cumprindo assim o rito penitencial da restauração.
Obviamente a profanação é o contrário da santidade. O profeta Ezequiel usou palavras duras para avisar os seus ouvintes da natureza radical do sacrilégio cometido quando se profanavam os santuários.
Por isso, juro pela minha vida, palavra do Soberano, o
Senhor, que, por terdes contaminado meu santuário com vossas imagens
detestáveis e com vossas práticas repugnantes, eu retirarei a minha bênção. Não
olharei com piedade para vós e não vos pouparei.
Ezequiel descrevia as consequências devastadoras para todos
os envolvidos no ato de profanação: Deus iria vingar-se porque o santo tinha
sido profanado e violado.
A destruição de Sodoma |
O fogo simboliza destruição e juízo, mas é também uma manifestação de Deus e um sinal de renovação. O Senhor fez chover enxofre sobre Sodoma e Gomorra, fogo enviado dos céus pelo Senhor. Deus consumiu os ídolos pelo fogo: “Tomou o bezerro que eles tinham feito e destruiu-o no fogo; depois de moê-lo até virar pó, espalhou-o na água e fez com que os israelitas a bebessem”.
Mas a destruição e o juízo pelo fogo têm também um elemento
construtivo. O fogo é a manifestação de Deus e um meio para a renovação do
homem.
Quando João Baptista falava aos impenitentes avisou-os que
aquele que vinha depois dele baptizaria de forma diferente: com o Espírito Santo
e com o fogo. Este novo baptismo traria a salvação, o fogo destruiria o pecado
e daria nova vida.
O “baptismo pelo fogo” é simultaneamente destrutivo e
construtivo; é um fogo que consome o pecado e o mal e conduz a nova e
regenerada vida que floresce.
O arcebispo Aymond reafirmou esta verdade quando queimou o
altar profanado. E depois encontrou-se com os seus irmãos no sacerdócio e
convidou-os a renovar as suas promessas. Vai depois celebrar uma missa de reparação.
Quanto à Igreja de Santa Ágara, em Caltanissetta, Sicília,
os polícias detiveram dois indivíduos que crêem ser os autores do acto de
vandalismo. Têm chovido donativos para reparar os danos e restaurar o altar.
O mal e a profanação da santidade sempre os teremos connosco. E com o aumento das correntes pós-cristãs e anticristãs na nossa cultura estes ultrajes tornar-se-ão mais frequentes e flagrantes. (Duas igrejas foram incendiadas no Chile há dias durante protestos políticos e vários locais católicos nos Estados Unidos têm sido atacados). Mas como se vê por este caso do altar que foi rapidamente purgado e restaurado, a Igreja continua pronta a renovar – precisamente porque é o verdadeiro e vivo Corpo de Cristo.
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