Alan L. Anderson |
Na passada sexta-feira realizou-se a 45.ª Marcha pela
Vida, em Washington, pelo que vale a pena ponderar os significativos progressos
feitos ao longo do último ano na tentativa de assegurar o mais fundamental dos
direitos que Deus nos concede – o direito à vida. As conquistas têm sido ao
nível público e por vezes político, mas nestas questões convém lembrar sempre
que os nossos verdadeiros inimigos são os “poderes e potestades”, “tronos e
dominações”, sobre os quais São Paulo nos avisou.
Alguns pró-vida, sobretudo os que estavam preocupados com
as credenciais de Donald Trump neste campo, poderão estar agradavelmente
surpreendidos com o facto de, durante este seu primeiro ano no poder, se ter
revelado um aliado fiável. Seja qual for a opinião dele no geral, agiu de forma
rápida e sólida para inverter o percurso impiedoso e anti-vida do seu
antecessor Barack Obama. Trump nomeou e garantiu a confirmação do juiz pró-vida
Neil Gorsuch para o Supremo Tribunal americano. Foi a nomeação pró-vida mais
importante de várias, incluindo o senador Jeff Sessions para procurador-geral e
Sarah Huckabee Sanders como chefe do gabinete de imprensa.
Na arena política, Trump não só reinstituiu como expandiu
dramaticamente a Política da Cidade do México, que proíbe o financiamento
federal de organizações não-governamentais que praticam e promovem o aborto;
retirou também o financiamento ao Fundo de População das Nações Unidas e
promulgou regulamentos que permitem aos Estados desviar fundos da Planned
Parenthood.
Em Outubro o Departamento de Saúde e Serviços
Humanos expandiu significativamente as objecções de
consciência para funcionários ao abrigo do Mandato de Contracepção do
Obamacare. Também em Outubro a Câmara dos Representantes aprovou uma lei que protege nascituros capazes de sentir dor, embora
essa lei esteja actualmente presa no Senado. Da mesma forma (graças a senadores
como Marco Rubio e Mike Lee, que se mantiveram firmes para que fosse aprovada),
a lei de reforma fiscal inclui um maior crédito
fiscal para crianças, que será muito benéfico para famílias trabalhadoras, promovendo
assim ainda mais uma cultura da vida.
Infelizmente também houve retrocessos ao nível dos
estados. Por exemplo, o governador republicano do Illinois, Bruce Rauner, assinou uma lei radical e anti-vida que financia os abortos
e declara que o aborto continuará a ser legal naquele estado, mesmo que o Roe
V. Wade seja revogado. Da mesma forma, tentativas por parte dos estados de
Texas e da Virgínia para retirar o financiamento à Planned Parenthood foram frustrados por um juiz e um governador anti-vida,
respectivamente.
Fraco consolo para a malta da Planned Parenthood,
contudo, uma vez que foi anunciado para o final de 2017 que o FBI e o
Departamento de Justiça lançaram uma investigação acerca da venda de tecidos fetais
obtidos através de abortos.
Mas outras duas histórias – daquelas que desaparecem tão
depressa que não temos tempo de avaliar a sua importância – que também
apareceram no final de 2017 e que nos dão que pensar, recordam-nos de que
embora as nossas batalhas se travem na arena política, jurídica e burocrática,
esta continua a ser, na sua raiz, uma guerra espiritual.
Primeiro, duas figuras mediáticas conhecidas – Chip e
Joanna Gaines do programa “Fixer Upper” – anunciaram que estão à espera do seu
quinto filho. As redes sociais explodiram com reacções ferozes. Um crítico
observou que “a sobrepopulação está a matar o planeta. Ter outra criança é um
acto irresponsável”, o que levanta o véu bonitinho que pretende esconder o que
o movimento pró-aborto tem em mente quando fala de “escolha”. Outros pareciam
regozijar-se com os boatos sensacionalistas de que o casamento do casal estava
em perigo, sugerindo que apenas estavam a ter mais um bebé para tentar salvar a
relação. “Ter um bebé não vai melhorar a vossa vida”, disse um. Um casal
anuncia que vai ter mais um bebé – um momento belo, um momento de celebração –
e chovem mentiras e fealdade. Os demónios estão certamente satisfeitos.
Depois, surgiu um video no
YouTube, postado pela Students for Life of America, no dia 4 de Janeiro, que
serve para nos mostrar os progressos feitos pelo Pai da Mentira nas nossas
instituições de ensino superior de elite. O vídeo mostra um aluno na
Universidade de Tennessee a argumentar, de forma calma e serena, a favor da
legitimidade do infanticídio, argumentando que uma vez que crianças de dois
anos não são “sensíveis” – uma palavra cujo significado parece muito orgulhoso
de conhecer – não têm direito à vida. Muitos de nós conhecemos académicos, como
Peter Singer e Steven Pinker que apresentaram argumentos igualmente
“insensíveis”. Mas que estas opiniões tão assustadoras possam ser expressas de
forma tão descomprometida por um jovem num campus em Knoxville, Tennessee, deve
servir para nos alertar sobre o quão longe se espalhou este espírito nocivo que
continua a afectar negativamente a nossa cultura.
Claro que devemos continuar as marchas, o exercício dos
nossos direitos políticos e os processos. Mas não nos esqueçamos das nossas
armas mais poderosas – esmola, jejum e oração, sobretudo o terço. O combate é
espiritual e no final de contas vencer-se-á no plano espiritual. A conversão
das leis virá depois da conversão dos corações. Seria fácil deixarmo-nos
desencorajar nesta tarefa, mas devemo-nos lembrar sempre que “Para Deus tudo é
possível” (Mt. 19,26).
Imaculado Coração de Maria, rogai por nós e pelos
nascituros que tentamos proteger.
Alan L.
Anderson trabalha há mais de vinte anos para a diocese católica de Peoria, ao
nível paroquial e diocesano. É um convertido, ia de quatro filhos e escreve
sobre cultura e fé a partir de Roanoke, Illinois.
(Publicado pela primeira vez na sexta-feira, 19 de Janeiro
de 2018 em The Catholic Thing)
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