It’s
what’s inside that counts, ask any war hero
You
think you can hide but you’re never alone
Ask
Lot what he thought when his wife turned to stone
Trouble
in mind, Lord, trouble in mind
Lord,
take away this trouble in mind”
Bob Dylan, “Trouble in Mind”
Fez sete anos esta segunda-feira, dia 28 de Abril,
que fui recebido novamente na Igreja Católica, depois de quase três décadas
como Evangélico. Como já escrevi em vários locais, incluindo no meu livro “Return
to Rome” e na minha contribuição para o livro “Journeys
of Faith”, havia certas questões teológicas para as quais eu precisava de
respostas plausíveis antes de poder ser reconciliado com a Igreja. Pelo menos
foi assim que compreendi a minha própria peregrinação.
Mas agora, olhando para trás, com o benefício
tanto do conhecimento actual e de sete anos como católico praticante, estou
convencido de que a procura dessas respostas às questões teológicas, embora
central para o meu regresso, foi auxiliada por uma sede mais profunda, de que
não estava bem ciente em 2007.
A minha fé cristã tinha-se tornado, em grande
parte, uma extensão dos meus projectos académicos enquanto filósofo
profissional. É claro que não há mal em encarar a nossa fé como pertencendo a
uma tradição intelectual que pode ser racionalmente compreendida, explicada e
defendida. Afinal de contas, alguns dos nossos antecessores mais admiráveis,
incluindo Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, para não falar no agora santo
Papa João Paulo II, eram filósofos cristãos da melhor qualidade.
Mas no meu caso, quase tudo sobre as minhas
crenças tinha sido reduzido a uma questão de procurar argumentos e criticar os
meus adversários. A minha fé, ou o que restava dela, tinha-se tornado um
programa de investigação intelectual, que agora, em retrospectiva, parecia mais
um exercício de autoconvencimento, mais do que uma tentativa de persuadir os
outros. Era como um homem que, tendo-se casado, passa todas as horas a tentar
ser um bom marido lendo livros sobre o matrimónio, mas ignorando a sua mulher.
Eu tinha adoptado uma visão sobre-intelectualizada da fé cristã que me tinha fornecido um tesouro inesgotável de críticos a derrotar e de discussões para vencer, mas que me tinha deixado com uma espiritualidade diminuída, sustentada apenas pelas cascatas de ansiedade e de euforia que acompanham o pugilismo filosófico. Por esta razão, frequentemente media o Cristianismo dos outros, não com base na sua identificação com Cristo mas de acordo com a sua concordância inequívoca com uma série de “doutrinas essenciais”, como se o primeiro evento da vida depois da morte fosse um exame de teologia. Estudei, defendi e protegi Jesus, como se ele precisasse da minha ajuda. Não o amava.
Recentemente vi um bocadinho desse antigo “eu”
numa série de comentários de um escritor, blogger e apologista protestante. Num
post em que descreve o Papa Francisco como um “falso professor”, este autor
escreve: “Embora Francisco lave os pés de prisioneiros e beije a face aos
deformados, fá-lo com base em, e apontando para, este falso Evangelho, que não
conduz a Cristo, mas sim directamente para longe dele”.
Este “falso Evangelho”, segundo o autor, consiste
na visão católica da justificação, que, como referi num post, ele claramente
não compreende. Mas estas confusões à parte, pensem na mensagem que isto
transmite aos evangélicos, bem como não crentes, que o lêem: Seguir Jesus,
obedecendo aos seus mandamentos, não é a forma correcta de conduzir pessoas a
Nosso Senhor. O que é preciso é convencer as pessoas de que os seus argumentos
são melhores que os deles.
Esse era eu, antes do meu regresso a Roma. O que
eu não compreendi durante muitas décadas, aquilo que a Igreja Católica de facto
ensina, é que a vida da fé, como o estado do matrimónio, requer devoção total
de corpo, alma e mente. Estar em comunhão com a Igreja não pode ser reduzido a
uma lista de “doutrinas essenciais” para as quais se reúnem uma série de
argumentos apologéticos capazes de contrariar os desafios da descrença. Embora
a tradição intelectual da Igreja ofereça ao mundo um vasto reservatório de autores,
perspectivas, santos e sábios para satisfazer a sede filosófica, a sua
sabedoria acumulada deriva da riqueza da sua vida litúrgica.
Era dessa vida que eu tinha sede. Os sacramentos e
os sacramentais, as devoções e os livros de orações, a Bíblia e o breviário,
fazem tanto parte da minha vida cristã que não consigo imaginar-me sem eles.
Mas não é uma piedade de mera solidão. Está fortemente amarrada a uma
compreensão do Evangelho vivido na prática das virtudes teológicas: fé,
esperança e caridade. É a graça suave, expressada nas mãos estendidas de um
Papa a lavar os pés aos seus irmãos. E essa é uma boa nova.
(Publicado pela primeira vez na Sexta-feira, 25 de
Abril de 2014 em The
Catholic Thing)
Francis
J. Beckwith é professor de Filosofia e Estudos Estado-Igreja na
Universidade de Baylor. É
autor de Politics
for Christians: Statecraft as Soulcraft, e (juntamente com Robert P. George
e Susan McWilliams), A Second Look at
First Things: A Case for Conservative Politics, a festschrift in honor of
Hadley Arkes.
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