Randall Smith |
Na
qualidade de professor de teologia recebo vários pedidos para comentar
“desenvolvimentos” no Vaticano. “Pode comentar o facto do Papa Francisco ter
mandado este cardeal para aqui e mudado aquele para ali?” “O que é que isto
significa para a Igreja?” “Como é que vai afectar os católicos?” Tenho de lhes
dizer: “Desculpe, mas não comento politiquices do Vaticano”.
Em
primeiro lugar, não sei se as pessoas percebem isto ou não, mas geralmente não
cobrem políticas do Vaticano nas licenciaturas de Teologia. Estranhamente,
“Mudanças de Cardeais no Vaticano” não foi uma das cadeiras da licenciatura que
frequentei. “Lidar com Dicastérios” também não, nem “Arrumar a Casa no Banco do
Vaticano”. Por alguma razão, as universidades preferem concentrar-se em Jesus
Cristo, a Trindade, as Escrituras, a Igreja, a Salvação, as Virtudes, a Graça,
os Sacramentos – coisas desse género.
Por
isso eu não sou mais qualificado para comentar a confusão mais recente no
Vaticano do que qualquer outra pessoa. E quando ouço outras pessoas a comentar
estes assuntos, normalmente também não sabem do que estão a falar. Pode-se
contar o número de comentadores fiáveis sobre o Vaticano nos dedos de uma mão –
mesmo que tenha perdido alguns dedos.
Já
reparei que muitas pessoas papagueiam a ideia de que precisamos de “reformas no
Vaticano”, apesar de não terem a menor ideia do que as pessoas no Vaticano
fazem. Simplesmente ouviram pessoas a dizer que é preciso reformar o Vaticano
tantas vezes que repetem a ideia. A minha suposição é que claro que precisamos
de reformas. Quando é que não precisámos de reformas? Reformas constantes,
renovação, arrependimento de falhas e dedicação renovada aos objectivos
primeiros da instituição – de qualquer comunidade humana! É um dos efeitos do
pecado original.
Claro
que há alturas em que o Vaticano está melhor e outras em que está pior. Prefiro
o melhor ao pior. Mas mesmo quando está “melhor”, é sempre composto por
pecadores desgraçados necessitados do perdão, da redenção e da santificação
oferecidos por Jesus Cristo.
Não
é que eu não queira saber o que se passa no Vaticano, é só que não há nada que
possa fazer sobre o assunto. Só sei que precisamos de rezar pelo Papa e todos
os membros da Cúria. Portanto é isso que faço. Eles não precisam dos meus
conselhos.
Estarei
ingenuamente convencido de que farão sempre as escolhas certas? Um olhar rápido
por qualquer período da história da Igreja sugere redondamente que não. Mas por
outro lado, um olhar para toda a história da Igreja sugere (para quem tem
ouvidos para ouvir e olhos para ver) que o Espírito Santo continua a guardar a
Igreja e a guiá-la por entre as brumas da história. Dado o carácter de alguns
dos coitados que têm sido responsáveis por ela (como aquele tipo que negou
sequer conhecer Cristo e que viria a ser o primeiro Papa e a rocha sobre a qual
foi edificada), se o Espírito Santo não tivesse protegido a Igreja todos estes
anos, como é que teria sobrevivido?
Às
vezes preocupo-me quando vejo uma pessoa com fé pouco esclarecida a atrever-se
a olhar “para os bastidores” da Igreja. Quando alguém se torna ministro
extraordinário da comunhão, por exemplo, o lidar directamente com as hóstias
pode levar a uma certa “desmistificação” da Eucaristia. Uma pessoa que não
esteja preparada para isso pode ser tentada a pensar: “afinal isto é só um
pedaço de pão. Quer dizer, as hóstias são enviadas por correio num saco de
plástico!”
Não,
não são levadas misticamente por anjos até à porta traseira da Igreja. E antes
da consagração, de facto é mesmo apenas pão. O problema é que há pessoas que
simplesmente não têm maturidade para compreender que Deus pode pegar na coisa
mais rasca e transformá-la na coisa mais maravilhosa.
De
igual modo há pessoas que provavelmente não têm maturidade suficiente para
pensar sobre a mais recente confusão no Vaticano, porque não terão capacidade
para ver como Deus pode pegar até nesta confusão – a fuga dos discípulos,
negações de Cristo, crucificação do Salvador – e torná-la um veículo de graça.
Se não gosta de ver como a comida é preparada, saia da cozinha.
Na
mesma medida, quando o Papa publica uma encíclica ou uma exortação apostólica,
leia-a. Tente compreendê-la e vivê-la. É isso que o Vaticano faz e as pessoas
deviam-se interessar.
Infelizmente
não me parece que seja isso que acontece. Os blogs de queixas e de preocupações
recebem muitas visitas. Os artigos que explicam os ensinamentos católicos não,
ou pelo menos é isso que me dizem. Não foi São Paulo que nos alertou para
“pensar nas coisas que são de cima”? Essa sabedoria encontra-se reflectida
naquilo que lemos?
Bem
sei que muitas pessoas gostam de saber das politiquices do Vaticano. Mas eu
prefiro que os fiéis as ignorem, na medida do possível. Os fiéis têm coisas
mais importantes com que se preocupar do que a última “intriga” do Vaticano –
coisas do tipo, sei lá, dar de comer aos pobres, ir à missa, tomar conta de
pais idosos, criar os seus filhos, melhorar as escolas, renovar os bairros,
votar em políticos responsáveis, confessarem-se bem, serem esposos fiéis. A
lista de coisas mais importantes que devem preocupar um católico – as coisas
sobre as quais podemos, e devemos, fazer alguma coisa – é interminável.
Por
isso, por favor rezem constantemente pelo Papa, pelos cardeais e pelos bispos. Rezem
para que eles tenham a sabedoria e o amor para acudir fielmente aos apelos do
Espírito Santo. Depois deixem o Santo Padre e os bispos fazer o trabalho para o
qual receberam do Espírito Santo o Carisma especial. Deixem o Papa preocupar-se
com a burocracia do Vaticano. Essa é uma das suas funções – das menos
interessantes e mais aborrecidas. Nós, leigos, temos outras coisas com que nos
preocupar, sobretudo agora que se aproxima o final da Páscoa.
Randall
Smith é professor na Universidade de St. Thomas, Houston, onde recentemente foi
nomeado para a Cátedra Scanlon em Teologia.
(Publicado pela primeira vez no Domingo, 6 de Abril 2014 em The Catholic Thing)
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