Thursday 14 December 2023

Bispos e política, falar ou não falar?

Causou alguma polémica a notícia de que dei conta a semana passada de que os bispos da Baviera tinham denunciado o partido Alternativa para a Alemanha (AdF), que muitos consideram ser de extrema-direita.

Embora alguns tenham considerado que o facto de eu divulgar a notícia constituía apoio da decisão, a verdade é que eu não sei mesmo o que pensar sobre este assunto. É, sem dúvida, um terreno muito complicado.

Entretanto, acabei de publicar ontem um artigo do TheCatholic Thing que explica como o regime da Nicarágua, que tem perseguido de forma implacável a Igreja Católica, chegou ao poder com o apoio de muitos católicos, que chegaram a desempenhar cargos no Governo.

Sem dúvida, a intervenção da Igreja na política é um campo difícil e pantanoso. Normalmente os pântanos evitam-se, mas quando é preciso ir para lá – e às vezes é preciso – deve-se caminhar com o maior cuidado para não se afundar no lodo.

Se é verdade que não tenho uma posição firme sobre este assunto, tenho certamente várias ideias soltas que acho que podem contribuir para uma discussão interessante, a que vos convido a dar seguimento na caixa de comentários* ou nas redes sociais.

  • Os primeiros interessados em que os bispos se mantenham calados sobre questões de política partidária são os políticos. Talvez seja mesmo uma das coisas que mais une a esquerda e a direita.
  • Pelo contrário, acho que os bispos têm não só o direito como mesmo o dever de falar de política, sobretudo para alertar os fiéis para políticas, medidas ou propostas que sejam claramente contrárias à doutrina e aos valores cristãos.
  • Obviamente, este zelo dos bispos pelo bem-comum deve-se aplicar tanto à direita como à esquerda. Quando isso não acontece, os bispos perdem credibilidade e expõem-se a críticas que acabam por desviar a discussão daquilo que é essencial.
  • A Igreja alemã tem um historial recente louvável de intervenção pública e denúncia de políticas anticristãs. Foi firme, e sofreu devidamente, durante o regime nazi. Isso está muito bem documentado. Esse é um legado que honra os católicos alemães.
  • Há uma tendência hoje em dia para confundir direita populista com extrema-direita. Existem ligações, mas não são a mesma coisa. Eu não sei se a AdF é de extrema-direita ou não, mas aceito que os bispos da Baviera sintam que existe uma ameaça suficientemente grande para que deva ser denunciada. Agora, a AdF é a única força partidária que defende posições anticristãs? Todos os outros partidos na Alemanha defendem posições compatíveis com a doutrina católica? Tenho sérias dúvidas. A solução não é os bispos estarem calados, é os bispos falarem, mas falarem de tudo, e não apenas da ameaça mais recente ou mais premente.

E em Portugal?

Estamos a meses das eleições e os partidos preparam-se para entrar em campanha. Devem os bispos falar sobre a previsível subida da direita populista em Portugal? Podem fazê-lo sem falar sobre os perigos de reeleger uma esquerda supostamente moderada, mas que continua a insistir em presentear-nos com medidas perigosíssimas como a lei da autodeterminação de género nas escolas, a eutanásia e o aborto?

A questão, a meu ver, é que a Igreja em Portugal parece distinguir entre os partidos do sistema – com os quais tem anos de ligação, diálogo e experiência, e que por isso considera serem “seguros”, ainda que discorde e se pronuncie pontualmente sobre certas políticas isoladas – e os partidos “antissistema”, especialmente os novos. No caso da direita populista, por exemplo, acresce o facto de alguns tentarem apresentá-lo como estando alinhado com os valores católicos. Eu percebo que para os bispos seja mais fácil alertar contra esses partidos novos, e pessoalmente não acho mal que o façam, mas acho que estamos num ponto em que não podem continuar a confiar cegamente nos partidos “do sistema” que continuam a inquinar o mesmo, tornando-o impróprio para consumo, alimentando assim a impaciência e a revolta que fazem subir os partidos populistas e extremistas.

Pessoalmente, gostava de ver bispos com coragem de criticar abertamente as políticas anticristãs do populismo da direita e da esquerda, mas que critiquem com igual vigor as políticas dos partidos supostamente moderados que continuam a destruir a família, a impor uma cultura da morte e a tratar os nossos filhos como matéria-prima para formatação ideológica.

É possível fazer isto? Não é certamente fácil. Mas talvez se os bispos demonstrassem vontade firme de criticar as medidas e propostas condenáveis de qualquer partido, mesmo que isso implique criticá-los a todos, elogiando as medidas que verdadeiramente promovem o bem comum e os valores cristãos, ainda que isso implique elogiar medidas em todos os partidos, isso leve os próprios partidos a passar a tomar em consideração a possível reacção da Igreja – como força formadora de consciências – quando elaboram e anunciam os seus programas políticos.

Utópico? Talvez. Mas se não acreditarmos que há uma saída deste lamaçal, então só nos resta o desespero, e o desespero transformado em votos costuma dar muito mau resultado.  


* Há algum tempo que adoptei a prática de não entrar em diálogo com autores de comentários anónimos. Eu assumo tudo o que escrevo e digo, espero o mesmo de quem quer conversar comigo. 

1 comment:

  1. Esses bispos bávaros, a começar pelo «apropriadamente» apelidado Marx, deveriam ter vergonha. Com o seu comportamento mais não fazem do que incentivar ainda mais os islamitas. E seria interessante saber o que pensam sobre isto:

    https://www.thegatewaypundit.com/2023/12/son-btch-this-is-our-country-muslim-youths/

    ReplyDelete

Partilhar