Mas o mundo continua.
Passadas poucas horas já tinha ouvido os críticos da Turner Classic Movies
a defender os filmes antigos, apesar de estes por vezes estarem manchados por
racismo-sexismo-homofobia-transfobia. Os críticos falavam como se não fosse
possível qualquer pessoa decente contestar a sabedoria moral assente que toma
todas estas coisas por iguais, a serem tratadas com a mesma reprovação.
Depois ouvi falar de dois rapazes de um liceu que foram escolhidos para
representar dois amantes homossexuais numa peça de teatro. E de outro jovem,
noutra escola, que teve de cantar uma música ordinária sobre ter uma erecção quando
olha para outra rapariga da sua sala.
Os trios amorosos estão nas notícias a toda a hora. Duvido que haja uma única
escola pública no país que não tenha hasteado a bandeira arco-íris, aqui, ali,
em todo o lado, nos cadernos, nos planos de aula, em material de leitura e nas
lapelas dos professores.
A maldade, disse Edmund Burke, é demasiado inteligente para aparecer sempre
da mesma forma. As nossas paixões – orgulho, inveja, fúria, luxúria e avareza –
mantêm-se iguais, mas mudam conforme as modas. É por isso que o homem ataca tão
frequentemente formas que em larga medida já passaram. Burke chamava-lhe
enforcar a carcaça.
E sabemos que as novas formas não atraem apenas monstros. Não duvido que
tenha havido muitas pessoas simpáticas que hastearam a suástica nas suas casas
embora não odiassem verdadeiramente os judeus, mas estavam satisfeitos
por irem na corrente com os novos e revolucionários líderes de opinião
bem-pensantes, construtores de autoestradas e restauradores da Alemanha.
Não duvido que na Rússia estalinista houvesse muitas pessoas simpáticas que
hasteavam a foice e o martelo nas suas casas embora não odiassem verdadeiramente
os ucranianos ou os ortodoxos recalcitrantes, mas estavam contentes por irem na
corrente da novidade, e por aí fora. O desejo de obter emprego, de manter o
emprego ou de merecer a aprovação dos líderes de opinião bem-pensantes pode ser
muito tentador e não requer grande grau de coragem face ao mal.
Eu não estou a dizer que a bandeira arco-íris é igual à
suástica ou à foice e martelo. Claro que não. Não estou a dizer que é igualmente
má: quando estamos a lidar com males fundamentais a questão não tem
qualquer sentido. Adorar a Baal era tão mau como adorar Moloch? Enquanto nós discutimos
o estilo de luxúria ou de ódio, os princípios em si, tanto Baal como Moloch,
apreciam um cognac espiritual flamejante e brindam. E Baal também matou os seus
milhões.
Não
tenho qualquer intenção de apontar o dedo a indivíduos. Tenho muita simpatia
por pessoas que, num tempo de profunda solidão, se agarram a uma relação
homossexual como uma última esperança. Mas o arco-íris representa toda a
revolução sexual.
Não me refiro aqui ao pecado sexual, que teremos sempre connosco, tal como
teremos mentiras, furto, homicídio, blasfémia e traição. A revolução sexual não
é uma erva daninha. É uma árvore: plantada deliberadamente, regada e cuidada.
Não é um acumular de pecados ou de maus hábitos. É um princípio que dá
maus frutos.
O princípio é o da autonomia corporal: que o que os adultos fazem,
sexualmente, é da sua conta e de mais ninguém. Junte-se a isto a paixão
romântica para adoçar o princípio, junte-se o feminismo para obscurecer a
verdade de que os homens são para as mulheres e as mulheres são para os homens,
espere umas décadas para que os gostos se mudem e temos uma sequóia completa.
Não foram os homossexuais que plantaram e fertilizaram a árvore, embora tenham feito a sua parte. Mas não interessa agora como é que a árvore cresceu, e como cresceu de tal forma que agora cobre todo o mundo ocidental com a sua sombra. A questão é que a árvore tem de ser abatida.
Repito, não estou a dizer que não haverá pecado sexual. Estou a dizer que o
princípio deve ser repudiado: a árvore é o princípio e dá o fruto mau desse
princípio.
Temo que alguns católicos possam tolerar a árvore, porque não querem ferir
os sentimentos daqueles que se deliciam com o fruto, ou porque, ainda que não
tenham gosto por aquela maçã, gostam desta; porque a árvore é
generosa e tem muito a oferecer para cada gosto, uma grande variedade de maus
frutos.
Talvez os que plantaram a árvore não tenham tido a noção de que chegaria a
isto. Talvez pensassem que uma certa cortesia poderia conter o mal: que
piscaríamos o olho ao engate do João e da Maria, mas não ao do João e do
Martim; aceitaríamos o divórcio apenas nos casos difíceis; aceitaríamos
a contracepção, mas não o aborto; aceitaríamos a pseudogamia homossexual, mas
não a poligamia; sem pensar que o aço moral mais firme não é suficientemente
duro para conter um princípio mau.
E a cortesia, a simpatia, não é aço, é papel.
A árvore tem de vir abaixo.
Pensem, pensem só nas coisas humanas e normais que poderíamos ver, que se
poderiam esperar, alcançar, coisas banais: muito amor saudável entre rapazes e
raparigas, em vez de um campo minado tanto para os morais como para os imorais;
direcção mais segura para jovens cujo caminho para o estado de homem ou de
mulher adultos foi dificultado pelo infortúnio ou pelo pecado dos seus
antepassados; uma apreciação mais clara e agradecida de cada sexo para o outro;
e com tudo isso, pecados e falhanços, ervas daninhas que nascem, como sempre,
mas em pequenas manchas, ou individualmente, e não de forma planeada, sem que
toda a humidade e nutrição fossem canalizados para alimentar um leviatã
vegetal.
É preciso arrear a bandeira.
Anthony Esolen é orador, tradutor e autor. As suas obras incluem: Out
of the Ashes: Rebuilding American Culture, Nostalgia:
Going Home in a Homeless World e o mais recente The
Hundredfold: Songs for the Lord. É professor e autor residente na Magdalen
College of the Liberal Arts em Warner, New Hampshire.
(Publicado pela primeira vez na quarta-feira, 31 de Março de 2021 em The
Catholic Thing)
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