Stephen P. White |
O que a carta do bispo Morneau tinha de especial não era
só a admissão de ter errado, quase 40 anos depois da ocorrência dos factos, mas
sim aquilo que se propunha a fazer à luz desse erro.
“Por esta razão, peço voluntariamente a suspensão de todo
o ministério público. Pretendo passar o resto do meu tempo em oração por todas
as vítimas e sobreviventes de abuso sexual e praticarei atos corporais de
misericórdia, em reparação por aquilo que não fiz”.
O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas.
Enquanto católicos, acreditamos que não há pecado tão
grave que não possa ser perdoado, mas também que o perdão não apaga as
consequências materiais do pecado. E também é verdade, evidentemente, que toda
a gente tem direito ao seu bom nome. Não devemos esperar que homens inocentes
se comportem como se fossem culpados.
Dito isso, a Igreja teria muito a ganhar se mais bispos
tivessem a coragem e a humildade de seguir o exemplo de Morneau, tanto porque
baixaria o número de casos de escândalo, mas também porque a oração e a
penitência são cruciais para a missão da Igreja.
Nem todas as falhas têm de resultar na suspensão do
ministério e adoção de uma vida de oração e penitência. Mas o caso de Morneau
ganha relevância precisamente por ser tão incrivelmente raro.
Recordei-me do caso do bispo Morneau esta semana, quando
foi anunciado que o Papa Francisco tinha pedido e recebido a renúncia do bispo
Michael Hoeppner, de Crookston, Minnesota. A renúncia surge no final de uma
investigação de dois anos sobre alegações de que o bispo Hoeppner “interferiu
intencionalmente, ou evitou a investigação canónica ou civil de uma alegação de
abuso sexual de um menor”.
O Papa retirou o bispo da diocese de Crookston, mas
Hoeppner parece determinado a sair à sua maneira. Antes de renunciar, o
bispo de 71 anos marcará o fim do seu episcopado em Crookston com uma “Missa de
despedida”, que será celebrada na catedral da diocese. Nem o bispo Hoeppner,
nem aqueles que o rodeiam, incluindo muitos dos seus colegas bispos, parecem
compreender o escândalo que isto representa.
E depois temos o caso do bispo Joseph Binzer, um auxiliar
da arquidiocese de Cincinnati e ex-membro da Comissão para a Proteção de
Crianças e Jovens da Conferência Episcopal dos Estados Unidos, que resignou o
ano passado depois de ter sido revelado que não tinha denunciado às autoridades
diocesanas o caso de um padre acusado de abusos. Binzer nem sequer notificou o
seu próprio arcebispo. O padre foi depois mudado para outra paróquia, com uma
grande escola, onde voltou a abusar. No início da semana passada o bispo Binzer
foi nomeado pároco de duas grandes paróquias no Cincinnati.
Talvez esteja a ser injusto ao referir especificamente os
bispos Binzer e Hoeppner. Ambos pediram desculpa pelos seus falhanços e cada
caso é diferente, e complexo. Talvez o bispo Binzer venha a ser um excelente
pastor que conduz muitas almas até Cristo. Deus queira. Talvez o bispo Hoeppner
possa alcançar mais bem com os seus planos para o futuro do que se renunciasse ao ministério público,
como o bispo Morneau. Não vou fingir saber.
Bispo Morneau |
Porque será que são tão poucos os nossos bispos por quem
passa sequer pela cabeça que a resolução da sua inépcia a lidar com casos de
abuso sexual por parte de padres possa envolver a possibilidade da sua
própria reabilitação?
Porque será que tantos bispos caídos em desgraça, depois
de terem traído e perdido a confiança do seu rebanho, continuam a infligir-nos
com a sua presença, abusando da nossa fé e boa vontade, colocando o seu ministério
e as suas carreiras acima das necessidades de um rebanho sofredor?
Porque será que não há mais pastores dispostos a
retirar-se e a dedicar o resto das suas vidas à oração e penitência, em
reparação pelos seus pecados e falhanços – e para o bem dos seus rebanhos?
A Igreja precisa de bispos e estes não são funcionários
de Roma permutáveis, a baralhar e distribuir à nossa vontade. Mas devemos mesmo
acreditar que é tão importante para a missão da Igreja e para a edificação do
Povo de Deus que praticamente todos estes homens continuem a exercer ministério
público? Que estes homens são ministros do Evangelho tão insubstituíveis que o
perigo de escândalo é compensado pelo valor de os manter no activo? Será que as
graças que a Igreja tem a obter através de uma vida humilde de oração e
reparação são tão insignificantes em comparação?
Podem parecer apenas perguntas de mais um leigo
exasperado. Mas pergunto, não com vontade de criticar os nossos bispos por
terem falhas, como todos temos, ou para dar a entender que as suas vidas e
ministérios valem menos que palha. Pergunto, antes, para sublinhar aquilo que
está em causa.
Não somos chamados, todos nós, a morrer para nós mesmos?
Não somos chamados a depor as nossas vidas pelo Evangelho? Seria injusto
esperar mais dos nossos bispos do que Nosso Senhor pediu de nós, mas certamente
não devemos esperar menos.
Um bom pastor não abandona as suas ovelhas; dá a vida por
elas. E é precisamente por isso que mais bispos fariam bem em seguir o exemplo
do bispo Morneau. Bispos que estejam dispostos a abdicar de tudo – que não
tenham medo de dar a vida pelo seu povo – são os bispos que fazem falta à
Igreja.
Porque onde o pastor for, o rebanho seguirá.
Stephen P. White é investigador em Estudos Católicos no Centro de Ética e de Política Pública em Washington.
(Publicado em The
Catholic Thing na Quinta-feira, 15 de Abril de 2021)
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