Matthew Hanley |
Porém, essa é a opinião expressa na revista “Nature”, encarada
há muito tempo como uma publicação científica fiável. Agora, baniram a
classificação de macho e fêmea, descrevendo-a como “uma ideia terrível
que deve ser eliminada” uma vez que ameaça “desfazer décadas de progresso”
da ideia de que o sexo e o género são apenas “construções sociais”. Poder-se-ia
pensar que a “Nature” estaria preocupada em criar problemas de credibilidade,
mas não têm de se preocupar, pois as mentiras colossais estão na ordem do
dia.
No que diz respeito à “discrepância entre o género e o sexo que
consta da certidão de nascimento”, a “Nature” elogia a Academia Americana de
Pediatria por aconselhar os médicos a “tratar as pessoas de acordo com o seu
género escolhido, independentemente da aparência ou da genética”. Temos aqui os
pediatras apostados na apologia do transgénero: sem dúvida uma marca de uma
cultura que fez as suas pazes com o desprezo pelas crianças, pela ciência e
pela natureza humana.
Entretanto a Associação Americana de Psicologia (APA) emitiu
orientações avisando para o perigo de abraçar o conceito de “masculinidade
tradicional”. Mas se nos fiarmos na APA, então porque é que as autoridades
médicas haviam de encorajar uma mulher a tornar-se homem? Ao que parece a
abordagem reinante é de levar as mulheres com perturbações a sujeitar-se a
cirurgia de mudança de sexo – um acto de mutilação – para adquirir uma
aparência externa pouco convincente, mas também de as encorajar, daí em diante,
a desdenhar todos os traços prejudiciais associados com a masculinidade.
Há outra contradição que é frequentemente ignorada: se a
transição de um sexo para outro é algo que devemos abraçar com tanto
entusiasmo, como um bem a facilitar devido à nossa apreciação iluminada da
“fluidez” de género, porque é que existem obstáculos a abordagens legítimas
para ajudar pessoas a deixar a homossexualidade?
Embora o fenómeno seja ainda raro, tem havido um crescimento no
número de casos de identificação transgénero em anos recentes – às vezes em
grupo e aparentemente do nada. Tornar-se transgénero já não convida ao gozo mas
até, nalguns casos, é uma forma de aumentar a popularidade entre os pares.
Dizê-lo em nada menoriza o verdadeiro sofrimento que alguns adolescentes
sentem, de forma aguda, mas que tendem a ultrapassar com o passar do tempo.
O senso comum sugere que o pico de casos de transgénero se deve
ao Zeitgeist, contra a qual a classe médica, de forma particular, deve estar
atenta. Em vez disso tornou-se cúmplice da sua emergência.
Dizemos a nós mesmos que vivemos num país livre. Ninguém está a
“forçar” ninguém a promover a falsidade de que um homem se pode tornar uma
mulher, ou vice-versa. Mas só porque não vivemos na China Maoísta, não
significa que uma forma da sua Revolução Cultural não tenha vindo aqui parar.
Que o diga Anastasia Lin, que saiu da China aos 13 anos e agora
vive no Canadá. Escrevendo recentemente no Wall
Street Journal, ela aponta o dedo ao objetivo final das turbas
politicamente corretas: “O objectivo não é persuadir ou debater; é humilhar o alvo e
intimidar todos os outros. O objectivo final é destruir
todo o pensamento independente.”
Esperemos apenas que todo o extremismo que vai explodindo ao nosso
redor possa ajudar mais pessoas a compreender que o alvo neste caso, tal como
com a revolução sexual em termos mais gerais, é o próprio Cristianismo, bem
como a sua ordem social e moral. Isto significa, por definição, que é o homem em
si que se encontra na mira, algo que muitos dos que adoptaram a pseudorreligião
pós-cristã do “humanitarismo” parecem ignorar.
Lin explica que a geração dos seus pais na China “aprendeu a não
dar nas vistas e a ter cuidado com o que diziam, mesmo aos amigos mais
próximos, com medo de serem acusados de crime de pensamento”, lamentando assim
aquilo que começa a acontecer por aqui também. Demasiados de nós, num sem
número de profissões, sabem como essas palavras são verdadeiras.
A coação, em qualquer das suas formas, torna-se obrigatória sempre
que se tenta impor uma mentira às massas. Os exemplos multiplicam-se diante de
nós. Um professor na Arizona State University argumenta, no “American Journal
of Bioethics”, que os pais não devem poder impeder os seus filhos de adquirir
tratamentos para bloquear a puberdade.
Segundo o pensamento invertido tão típico do nosso tempo, é a
negação destes “tratamentos” que constitui abuso infantil, e não o
encorajamento das ilusões e a promoção de medidas agressivas que na maior parte
das vezes são prejudiciais e, em sentido real, experimentais,
uma vez que simplesmente não existe qualquer prova que justifique o seu uso.
Por agora, essa proposta não passa disso mesmo na América. Mas o
Supremo Tribunal de British Columbia, no Canadá, decretou no mês passado que o
pai de uma menina de 14 anos não pode impedir a sua tentativa quixotesca de se
transformar num rapaz. Ela tem um direito antinatural a bloqueadores de
puberdade. Mais, o pai foi avisado para ter cuidado com a língua: chamar menina
à sua filha, ou usar pronomes femininos em referência a ela seria considerado
“violência familiar”, pois a verdade é agora uma ofensa punível por lei.
E, como consequência lógica disso mesmo, desde então ele já foi
declarado “culpado” desse “crime”.
À luz desta mostra de poder ameaçadora, não adianta nada apelar à
razão. No final de contas estamos perante uma guerra de vontades. Mas uma
tomada de posição contra a irracionalidade dos tiranos do género pode
funcionar. Veja-se o que aconteceu com os muçulmanos no Reino Unido, que
conseguiram retirar um currículo pró-LGBT das escolas dos seus filhos.
O facto de a turba LGBT ter conseguido derrubar todos os outros,
mas ter recuado neste contexto, revela que a sua principal motivação é o
desmantelar da sensibilidade cristã mais do que qualquer crença inflexível na
ideologia do género. Veja-se bem quem venceu esta guerra de vontades.
Se ao menos a fé e a arte da persuasão estivessem mais na moda,
talvez mais pessoas vissem que o abandono do Cristianismo e da natureza inata
não beneficiam o homem. Pelo contrário, tendem para a ruína, como muitos
descobrem depois de se deixarem levar pela maré do transgénero.
Leia também:
Matthew Hanley é Investigador sénior no Centro Nacional
de Bioética Católica e autor, juntamente com Jokin de Irala, de ‘Affirming Love, Avoiding AIDS: What Africa Can Teach the West’, que foi recentemente
premiado como melhor livro pelo Catholic Press Association. As opiniões
expressas são próprias, e não da NCBC.
(Publicado pela primeira vez na quinta-feira, 2 de Maio de 2019 em The Catholic Thing)
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