Randall Smith |
Já
vi as Montanhas Amarelas na China, e são muito belas. Já olhei através do Vale
de Jackson Hole, Wyoming, ao cair da noite, para os picos nevados dos Grand
Tetons, e são muito belos. Mas poucas coisas no mundo são tão belas como uma
mãe a embalar suavemente o seu bebé durante a missa.
A
beleza é uma coisa surpreendente. Aparece de forma inesperada. Olhamos e de
repente somos atingidos por esta beleza inexplicável, algo inefável mas real,
como quando se dobra uma curva nas montanhas e se dá com uma vista inesperada.
Tive
essa experiência há dias na missa. Umas filas à frente uma mãe estava a embalar
o seu filho de dois anos, para a frente e para trás, enquanto cantava baixinho
o Agnus Dei. Cantava aquelas palavras e olhava-o nos olhos, como se estivesse a
cantar para ele e para Deus ao mesmo tempo. No meio do que pode ser, mesmo na
melhor das missas, a azáfama da liturgia – que oração? Que livro? De pé,
sentados ou ajoelhados? – ali estava paz: uma mãe e o seu filho “um ponto fixo num
mundo em movimento”.
Não
me entendam mal; tenho perfeita noção de que este tipo de paz divina não é o
estado mais comum quando os pais estão a lidar com os seus filhos pequenos. Não
devemos pintar uma imagem demasiado romântica da mãe e do filho, como fazem
algumas pinturas barrocas de Maria e do menino Jesus. Também não quero criticar
em demasia essas pinturas, embora tende a preferir as representações mais
antigas, é só que não quero dar uma imagem falsa do tipo de caos que a
parentalidade costuma envolver.
Mas
é precisamente por isso, ao que me parece, que achamos esses momentos de paz e
calma partilhados entre mãe e filho tão confortantes e tão belos. No ponto fixo
de um mundo em movimento, aí está o amor. O amor pode ser expressado de uma
variedade potencialmente infinita de formas, mas quando o vemos, palpavelmente
presente e inegável, são momentos de pura beleza que merecem ser saboreados.
Quando disse que há poucas coisas na vida tão
belas como uma mãe a embalar suavemente o seu filho na missa, não queria estar
a fazer uma comparação enviesada. Não é um concurso. Todas estas coisas belas
foram criadas pelo amor. Mas entre as muitas coisas belas que encontramos no
mundo se nos dermos ao trabalho de procurar – montanhas, praias, oceanos – só
os seres humanos é que conseguem olhar de volta com amor para a face do seu
Criador.
O que não nos deve deixar de encher de
espanto em relação à parentalidade é que enquanto seres humanos é-nos permitido
participar como cocriadores com Deus de uma forma especial. Outros animais
procriam, mas quantos têm o privilégio de o fazer livremente, e não apenas como
ato meramente instintivo ou impulso primário, mas de compreensão e amor?
Não é raro sentirmos o coração a amolecer
quando vemos imagens de mães e seus filhos, mesmo quando se trata de outras
espécies, seja uma cadela a amamentar as suas crias ou uma égua a encorajar o
potro recém-nascido a dar os primeiros passos. É o milagre da vida nova.
Mas as crianças humanas têm o privilégio de
ir mais além. Podem olhar de volta para as suas mães com amor. E desta forma se
preparam para olhar com amor para a face de Deus. Não os criamos para cantar
como pássaros, mas para cantar com amor a Deus. Daí a beleza em ver uma mãe a
cantar suavemente orações enquanto olha para os olhos do seu filho durante a
missa.
O
parto implica dor, tal como é um desafio constante criar filhos no meio do
nosso mundo caótico em que o mal, seja interno ou externo, está constantemente
à espreita. Mas quando todo esse barulho se acalma, o que vemos é um vislumbre
do amor primordial que criou o universo e continua a mantê-lo intacto através
das gerações.
Eu
ensino os meus alunos sobre a Trindade e a comunhão eterna de amor partilhada
entre Pai, Filho e Espírito Santo. O que eu faço é falar sobre a Trindade. Mas
para a conhecer vão ter de a experimentar. E por isso a maior parte deles só
perceberá do que fala a Igreja quando se unirem a outra pessoa naquela doação
completa de si a que chamamos casamento, e através dessa união produzirem um
terceiro, que é uma encarnação do seu dom mútuo de amor.
Claro
que poderão já ter visto esta doação altruísta dos esposos um pelo outro e a um
filho durante as suas vidas. Talvez até entendam a sua própria existência desta
forma, vendo a sua vida como uma encarnação do amor mútuo dos seus pais, embora
esta experiência se tenha vindo a tornar cada vez mais rara na nossa sociedade.
“O
sacramento do matrimónio é mais largo que a família”, diz o grande teólogo
ortodoxo Alexander Schmemann. “É o sacramento do amor divino, o mistério todo
abrangente do próprio ser, e é por isso que diz respeito a toda a Igreja e –
através da Igreja – a todo o mundo.” O pecado da humanidade não está apenas em
ter desobedecido a Deus, mas no facto de já não ver “toda a sua vida como
dependente do mundo inteiro, como um sacramento de comunhão com Deus”. Assim, a
verdadeira tragédia humana, diz Schmemann, está em viver “uma vida
não-eucarística num mundo não-eucarístico”.
A maternidade faz-nos lembrar a Encarnação e
o facto de a nossa origem ser uma encarnação do amor de Deus, destinado a viver
uma vida sacramental e eucarística num mundo sacramental e eucarístico. Devemos
dar graças a Deus pelas mães. Deus poderia ter-nos gerado a partir de um
casulo. Seria mais fácil para as mulheres, mas pior para o mundo.
Randall
Smith é professor de teologia na Universidade de St. Thomas, Houston.
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na quarta-feira, 15 de Maio de 2019)
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