Wednesday, 24 September 2014

O Estado Islâmico e as Lições do Activismo Pró-Vida

por Ellen Wilson Fielding
Aos sábados de manhã costumo passar cerca de uma hora à porta da clínica de aborto mais próxima, em oração e a fazer aconselhamento. Basicamente isso significa que quando os clientes se aproximam da clínica eu pergunto-lhes se querem os contactos de locais ou instituições que lhes podem ajudar a elas e aos seus bebés.

Nove em cada dez pessoas que passam pelas portas desviam os olhos e nem respondem. De vez em quando alguém leva um folheto. Muito raramente conseguimos ter uma conversa como deve ser.

Esta aparente falta de sucesso é comum a todos os voluntários que vão regularmente à clínica. Por aqui, qualquer resposta positiva é rara, quanto mais uma vida salva. Por isso muitas vezes a sensação é de que todas as nossas orações são desperdiçadas. Claro que algumas das pessoas que passam naquela rua movimentada são alertadas para o que se passa no edifício e alguns dos que lá entram poderão não voltar uma segunda vez.

E depois, de vez em quando, um dos trabalhadores despede-se e podemos esperar ter tido alguma coisa a ver com o assunto. Ainda assim, às vezes imagino as torrentes de graças a descer sobre este local, fruto da oração de tantas pessoas ao longo dos anos e fico frustrada. Onde é que está o vento do Pentecostes? O fogo descido do Céu? Se Jesus se materializasse na Rua Greenbelt um destes sábados de manhã, como tudo seria diferente, penso.

Bom, sim e não. Claro que Jesus exerceu um enorme poder durante os seus anos na terra: a curar os doentes, a ressuscitar os mortos, a acalmar as tempestades, a exorcizar demónios, a multiplicar pães e peixes. E mesmo a um nível mais pessoal, conseguiu atrair Mateus da mesa dos cobradores de impostos e quebrar os preconceitos da samaritana.

Mas não tinha o poder – porque Deus não concedeu a si próprio esse poder – de mudar os corações e as almas das pessoas contra a sua vontade. Por exemplo, sabemos dos Evangelhos que Jesus não conquistou o Jovem Rico, nem conseguiu evitar que Judas o traísse, nem convencer a maior parte do Povo Escolhido de que era o Messias.

Não podia obrigar ninguém contra a sua vontade porque Deus deu a todos os homens e a todas as mulheres livre arbítrio. Se Cristo estivesse à porta da nossa clínica de aborto local num sábado de manhã, imagino que teria muito mais sucesso do que nós. Mas ainda assim muitos ignorariam certamente ou rejeitariam o que ele teria para dizer. Deus – até mesmo Deus! – provavelmente não conseguiria convencer a maioria dos que trabalham na clínica, ou que procuram os seus serviços, a escolher a vida.

Recentemente tenho estado a tentar relacionar tudo isto com o que se está a passar no Médio Oriente, reflectindo particularmente sobre a tentativa, em grande parte bem-sucedida, de expulsar os cristãos das terras que os seus antepassados habitavam desde o tempo de Jesus. Adorava poder ter certezas sobre o que o nosso Governo, ou outros governos ou organizações, deviam fazer para causar o menos mal e alcançar o maior bem. Peso os argumentos para as várias soluções militares, semi-militares, económicas e humanitárias. Entre estas incluo a contribuição dos fiéis individuais: oração, jejum e esmola.


Neste momento hesito sobre a melhor acção a tomar pelos Estados Unidos, sobretudo se e quando as nossas forças e parceiros de coligação conseguirem atingir a primeira fase de neutralizar a capacidade do Estado Islâmico de controlar territórios e aterrorizar os seus habitantes. A verdade é que uma das razões da minha incerteza sobre o que “resultaria” no Iraque e na região é a falta de claridade sobre o que “resultar” significa, precisamente, neste contexto.

Procuramos alcançar uma medida relativa de paz e ordem enquanto uma força militar controla a situação e serve de apoio, por tempo indefinido, a um Governo respeitador dos direitos humanos? A nossa definição do que “funciona” reconhece a legitimidade dos meios a usar, o facto de alguns membros da coligação, a dada altura, decidirem lidar com o assunto à sua maneira e a possibilidade de quaisquer cristãos que sobrevivam no Médio Oriente passarem a ser ainda mais demonizados do que já eram por associação aos odiados ocidentais? Ou será que esta última preocupação já foi consumada pelas decisões do pós-11 de Setembro?

O que é que Jesus faria? Não sei até que ponto isto interessa, se tudo o que procuramos saber é o que Ele faria e não a vasta escolha de opções com as quais poderia concordar. Ao longo da história houve santos que discordaram muito sobre como abordar as crises sociais e políticas do seu tempo, em parte porque costuma haver mais do que uma maneira legítima de tentar seguir a Vontade de Deus e avançar os seus propósitos.

Algumas destas opções poderiam eventualmente conduzir a aquilo que consideraríamos um sucesso ou um fracasso. E é impossível saber com certeza aquilo que Deus pretende com o resultado de cada decisão, embora saibamos que “todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus” (Rom. 8:28). Seja o que for que isso quer dizer, significa pelo menos que a aparência de sucesso não pode ser o único critério para quem toma a decisão.

Quanto ao que Jesus faria neste caso em particular, não sei, mas fosse o que fosse, aposto que levaria rapidamente a uma segunda crucificação.


Ellen Wilson Fielding é editora-chefe da Human Life Review e vive em Maryland.

(Publicado pela primeira vez na quinta-feira, 18 de Setembo de 2014 em The Catholic Thing)

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