por Ellen Wilson Fielding |
Nove em cada dez pessoas que passam pelas portas
desviam os olhos e nem respondem. De vez em quando alguém leva um folheto.
Muito raramente conseguimos ter uma conversa como deve ser.
Esta aparente falta de sucesso é comum a todos os
voluntários que vão regularmente à clínica. Por aqui, qualquer resposta
positiva é rara, quanto mais uma vida salva. Por isso muitas vezes a sensação é
de que todas as nossas orações são desperdiçadas. Claro que algumas das pessoas
que passam naquela rua movimentada são alertadas para o que se passa no
edifício e alguns dos que lá entram poderão não voltar uma segunda vez.
E depois, de vez em quando, um dos trabalhadores
despede-se e podemos esperar ter tido alguma coisa a ver com o assunto. Ainda
assim, às vezes imagino as torrentes de graças a descer sobre este local, fruto
da oração de tantas pessoas ao longo dos anos e fico frustrada. Onde é que está
o vento do Pentecostes? O fogo descido do Céu? Se Jesus se materializasse na
Rua Greenbelt um destes sábados de manhã, como tudo seria diferente, penso.
Bom, sim e não. Claro que Jesus exerceu um enorme
poder durante os seus anos na terra: a curar os doentes, a ressuscitar os
mortos, a acalmar as tempestades, a exorcizar demónios, a multiplicar pães e
peixes. E mesmo a um nível mais pessoal, conseguiu atrair Mateus da mesa dos
cobradores de impostos e quebrar os preconceitos da samaritana.
Mas não tinha o poder – porque Deus não concedeu a
si próprio esse poder – de mudar os corações e as almas das pessoas contra a
sua vontade. Por exemplo, sabemos dos Evangelhos que Jesus não conquistou o
Jovem Rico, nem conseguiu evitar que Judas o traísse, nem convencer a maior
parte do Povo Escolhido de que era o Messias.
Não podia obrigar ninguém contra a sua vontade
porque Deus deu a todos os homens e a todas as mulheres livre arbítrio. Se
Cristo estivesse à porta da nossa clínica de aborto local num sábado de manhã,
imagino que teria muito mais sucesso do que nós. Mas ainda assim muitos
ignorariam certamente ou rejeitariam o que ele teria para dizer. Deus – até
mesmo Deus! – provavelmente não conseguiria convencer a maioria dos que
trabalham na clínica, ou que procuram os seus serviços, a escolher a vida.
Recentemente tenho estado a tentar relacionar tudo
isto com o que se está a passar no Médio Oriente, reflectindo particularmente
sobre a tentativa, em grande parte bem-sucedida, de expulsar os cristãos das
terras que os seus antepassados habitavam desde o tempo de Jesus. Adorava poder
ter certezas sobre o que o nosso Governo, ou outros governos ou organizações,
deviam fazer para causar o menos mal e alcançar o maior bem. Peso os argumentos
para as várias soluções militares, semi-militares, económicas e humanitárias.
Entre estas incluo a contribuição dos fiéis individuais: oração, jejum e
esmola.
Neste momento hesito sobre a melhor acção a tomar
pelos Estados Unidos, sobretudo se e quando as nossas forças e parceiros de coligação
conseguirem atingir a primeira fase de neutralizar a capacidade do Estado
Islâmico de controlar territórios e aterrorizar os seus habitantes. A verdade é
que uma das razões da minha incerteza sobre o que “resultaria” no Iraque e na
região é a falta de claridade sobre o que “resultar” significa, precisamente,
neste contexto.
Procuramos alcançar uma medida relativa de paz e
ordem enquanto uma força militar controla a situação e serve de apoio, por
tempo indefinido, a um Governo respeitador dos direitos humanos? A nossa
definição do que “funciona” reconhece a legitimidade dos meios a usar, o facto
de alguns membros da coligação, a dada altura, decidirem lidar com o assunto à
sua maneira e a possibilidade de quaisquer cristãos que sobrevivam no Médio
Oriente passarem a ser ainda mais demonizados do que já eram por associação aos
odiados ocidentais? Ou será que esta última preocupação já foi consumada pelas
decisões do pós-11 de Setembro?
O que é que Jesus faria? Não sei até que ponto
isto interessa, se tudo o que procuramos saber é o que Ele faria e não a vasta
escolha de opções com as quais poderia concordar. Ao longo da história houve
santos que discordaram muito sobre como abordar as crises sociais e políticas
do seu tempo, em parte porque costuma haver mais do que uma maneira legítima de
tentar seguir a Vontade de Deus e avançar os seus propósitos.
Algumas destas opções poderiam eventualmente
conduzir a aquilo que consideraríamos um sucesso ou um fracasso. E é impossível
saber com certeza aquilo que Deus pretende com o resultado de cada decisão,
embora saibamos que “todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a
Deus” (Rom. 8:28). Seja o que for que isso quer dizer, significa pelo menos que
a aparência de sucesso não pode ser o único critério para quem toma a decisão.
Quanto ao que Jesus faria neste caso em
particular, não sei, mas fosse o que fosse, aposto que levaria rapidamente a
uma segunda crucificação.
Ellen Wilson Fielding é editora-chefe da Human Life Review e vive em Maryland.
(Publicado pela primeira vez na quinta-feira,
18 de Setembo de 2014 em The Catholic Thing)
The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.
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