Randall Smith |
Uma amiga
explicou-me recentemente, e de forma irritadiça, que deixou de acreditar na
existência de um “poder superior”. Ainda bem. Como os mitos gregos nos mostram,
os “poderes superiores” são capazes de todo o género de coisas que não são
particularmente simpáticas para os humanos. E, para dizer a verdade, o conceito
de um “poder superior” é demasiado fraco para perdurar muito tempo.
Por isso, quando
as pessoas rejeitam a noção de um “poder superior”, na maioria das vezes estão
a abandonar as suas ideias pagãs de Deus como um Grande Mestre de Xadrez do
Universo, que move as suas criaturas como peões no grande tabuleiro do cosmos.
Ou então têm
pensado no “poder superior” como se fosse “a força” da Guerra das Estrelas. O
problema com “a Força”, como a Guerra das Estrelas nos mostrou, é que os maus a
podem usar tão eficientemente, senão mais, que os bons. Quanto ao “equilíbrio”
na Força, bem, tanto quanto consigo perceber, significa pouco mais que guerra
constante – e mais filmes. Se a “Força” existisse mesmo, e se dependesse da
existência de bichos que vivem dentro de nós, eu inventaria uma vacina para a
curar. Personagens que conseguem estrangular outras com o poder da mente
merecem ser curadas, não admiradas.
Os cristãos não
acreditam simplesmente num “poder superior”. Acreditam num Deus de Amor Altruísta
e Abnegado. Não se trata apenas de “poder”. É poder ao serviço do amor, para o
bem dos outros, sobretudo os mais fracos e necessitados.
Se os cristãos
acreditassem mesmo nesta divindade pateta e sem alma que muitas pessoas têm na
cabeça, faríamos bem em abandonar esse “poder superior” e procurar algo melhor.
Aliás, seria um passo essencial para o desenvolvimento espiritual.
O que acontece
muitas vezes nestas situações é que a pessoa que supostamente “perdeu” a sua
fé, na verdade acaba de enfrentar, de alguma forma distinta, o maior de todos
os problemas: o problema do mal. Como é que pode haver mal no mundo se existe
um Deus perfeitamente bom e inteiramente amor? Ou então pode simplesmente ter
chegado a um ponto em que a vida parece ter perdido o sentido.
A minha
recomendação para estas pessoas é para pensarem de onde derivam a própria ideia
do “bem”. O que faz com que uma coisa seja “boa?” Quando a vida nos parece
injusta, o que é que nos levou a crer que era suposto ter sido justa? De onde
vem o “sentido”?
Não teríamos
qualquer razão para pensar que a vida, neste cosmos grande, vazio e aparentemente
sem sentido, devia ser “justa” se não nos tivesse sido dada essa esperança de
algo para lá das realidades físicas e empíricas que nos rodeiam todos os dias.
Como diz C.S.
Lewis no seu livro “O Problema do Mal”, o problema intellectual do mal só
existe precisamente porque os cristãos propuseram a noção de um Deus
perfeitamente bom e que ama perfeitamente. Sem esta noção, o sofrimento não é
um “problema”, simplesmente é. O sofrimento e a morte seriam – como muitos
acreditam que são – os produtos naturais de um universo essencialmente caótico
e desprovido de sentido. Não serve de nada ficarmos desapontados ou zangados
sobre esse tipo de coisa.
Sem um Deus
providente que nos ama, das duas uma, ou se pode escolher maximizar o prazer e
minimizar o sofrimento, como faziam os epicuristas, ou se engole a realidade e
aprende-se a viver com ela, como faziam os estóicos. Mas culpar “os deuses” ou
“o destino” nestas questões é como erguer os punhos às marés. O mar vai subir e
inundar o teu castelo de areia quer queiras quer não. Por isso sai do caminho
ou prepara-te para seres submergido.
Só aqueles que
imaginam que o universe poderia ser melhor, que imaginam que o universo é feito
para nós como um lugar de florescimento, é que têm direito a sentir-se
desapontados. E quem é que vê a realidade por essa perspectiva? Os epicuristas
e os estóicos não. Só quem acredita num criador que criou o universo para nós e
que nos ama de tal forma que se dispôs a morrer pelos nossos pecados.
Recorremos a
noções de “bondade”, de “justiça” e de “sentido” como se nos pertencessem e
depois atiramo-las à cara de Deus quando nós, e o mundo pelo qual somos
responsáveis, não correspondem aos seus padrões. Esquecemo-nos é de que Ele é
aquilo sem o qual não há sentido. Só existe “justiça” se houver um Criador do
que é justo. Não existe “mal” sem um padrão último pelo qual julgamos o “bem”.
Sem Ele, não haveria mais do que caos e falta de sentido.
Os cristãos não
acreditam que este é o “melhor dos mundos possíveis”. Bem pelo contrário. A
história cristã fala-nos de uma queda para a agonia do pecado, sofrimento e morte.
A história cristã oferece-nos um ideal a que podemos aspirar; não nos pede que
nos satisfaçamos com a nossa sorte actual. O nosso problema não está em
desejarmos demais, está no facto de, na maior parte das vezes, desejarmos de
menos.
Alguns dos que
supostamente perderam a fé, na verdade estão apenas a experimentar aquela
inquietação de um coração que só descansará Nele. Temos a tendência de criar
estas categorais confortáveis onde nos refugiar. Não é uma coisa inteiramente
má, claro. Pensamos com palavras e compreendemos por categorias. Mas todas as
categorias têm as suas limitações.
Deus presta-nos
um grande serviço quando rebenta com elas para abrir espaço para Ele: Aquele
que está para além de todas as categorias, mais do que um “ser supremo”, um Ser
Subsistente em Si mesmo, Fonte de todo o Ser e Bondade – uma pessoa e não um
poder, com poder de tal forma incomensurável que se consegue esvaziar dele para
se tornar Amor Incarnado, Deus Connosco e Por Nós.
Randall Smith é
professor na Universidade de St. Thomas, Houston, onde recentemente foi nomeado
para a Cátedra Scanlon em Teologia.
©
2014 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução
contacte: info@frinstitute.org
Acreditam também num deus sedento de adoração, se uma pessoa for um cidadão exemplar mas não acreditar em deus vai para o inferno e se for um bandido e andar todos os dias a caminhar para a igreja arrependido está absolvido e irá para o paraíso.
ReplyDelete