Há dias escrevi um texto sobre a possibilidade do
acesso à comunhão por parte de divorciados
e “recasados”. Esse texto motivou uma grande e interessante discussão, na
qual aprendi imenso. O que se segue são algumas das conclusões que tirei dessas
discussões. Não vou repetir os meus argumentos, que podem encontrar no texto original.
Em primeiro lugar, tentei deixar claro, mas nem
todos perceberam, que o meu texto era uma reflexão e não um manifesto. Penso
que infelizmente temos pouco o hábito de discutir ideias de forma aberta, que
não sejam necessariamente convicções. Mas é pena, porque é precisamente através
dessas discussões, em que estamos abertos a reconhecer os nossos enganos e a
razão dos outros, que crescemos.
Ora bem. Após estes dias de discussão, concluo
que há apenas três possibilidades para que as pessoas em uniões irregulares
sejam admitidas à comunhão.
1º Se a Igreja mudar ou reformular a doutrina
da indissolubilidade do casamento.
Não acredito que isso seja possível e a minha
reflexão, por causa disso, partia de outro pressuposto.
2º Se o adultério deixar de ser considerado
pecado mortal.
O que não me parece provável nem aconselhável, embora como em tudo haja uma escala de gravidade para diferentes situações.
3º Se, mantendo-se a ideia do adultério como
pecado mortal, for tomada a decisão de “baixar a fasquia” do acesso à comunhão,
decidindo-se que não é necessário estar-se em estado de Graça para poder
comungar. (Eu sei que "baixar a fasquia" tem um sentido perjorativo, mas não me vou pôr com jogos semânticos).
O meu argumento ia mais no sentido desta
terceira hipótese.
Os meus adversários defendem que tal não é
possível, pois a ideia de que só quem está em estado de Graça é que pode
comungar é doutrina da Igreja que ninguém, nem o Papa nem os bispos, tem
autoridade para alterar.
Não tenho qualquer problema em afirmar que
reconheço aqui claramente um obstáculo que não pretendo, nem tenho capacidade
para, discutir ou derrubar. Caso a ideia de que apenas quem está em estado de
graça é que pode comungar seja, de facto, doutrina imutável, então sinceramente
não vejo maneira de as pessoas em uniões irregulares poderem alguma vez vir a
comungar.
Não sendo eu “liberal” ou “progressista”, não
posso nem quero propor qualquer solução que seja uma ruptura com a tradição da
Igreja.
Tudo o que eu respondi a quem me argumentou
desta forma é que antes do Concílio Vaticano II reinava a ideia de que a
doutrina da Igreja impedia certas mudanças, como a abertura ao ecumenismo, ao
diálogo inter-religioso e à liberdade religiosa. Contudo, os padres conciliares
conseguiram encontrar formas de reler e apresentar de forma diferente a
doutrina, aceitando estas práticas de tal maneira que hoje não reconhecemos a Igreja
sem elas. Como bem sabemos, os críticos do Concílio, tanto sede-vacantistas
como os seguidores de Monsenhor Lefebvre, apontam precisamente estas “inovações”
como razão para não aceitar o concílio, portanto a coisa não foi pacífica.
Eu não faço ideia se é ou não é possível “reler”
a doutrina, à luz dos nossos tempos, para se proceder a estas mudanças. Se não
for, então tenho que admitir que a minha própria reflexão deixa de me
convencer. Contudo, teria muita cautela em colocar-me na posição de decidir
quais são os limites da acção dos bispos nesta matéria.
Esperarei calmamente, e muito atentamente, o
resultado do sínodo, aceitando sem reservas qualquer que seja a decisão. De
facto, acho pouco provável que haja uma mudança significativa da Igreja a este
respeito.
Não queria terminar sem dizer mais uma coisa.
Ao longo destes dias foram muitas as pessoas que partilharam histórias de vida
e testemunhos muito fortes, ou publicamente, ou directamente a mim, por mensagem
privada.
Se há uma coisa que aprendi e que julgo que é
muito importante realçar, é que mesmo que as pessoas nestas situações não
possam voltar a comungar, existem outras formas de viver em Igreja e edificar
uma relação com Cristo que deviam ser melhor conhecidas.
Nesse sentido aponto para o
testemunho do Joaquim Mexia Alves, que passou por esta experiência e já
falou dela várias vezes. Leiam, mesmo… não se vão arrepender.
Bom mesmo seria fazermos todos o que Jesus fez: restituir a dignidade às pessoas, fazê-las sentirem-se dignas, qualquer que seja a sua circunstância. Isto de ligarmos mais às teorias, quaisquer que elas sejam, que às pessoas...
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