Normalmente associamos milagres eucarísticos a hóstias que sangram, ou hóstias e vinho que se transformam materialmente em carne e sangue, e que ficam miracolosamente preservados, etc., e muitas vezes esses milagres ocorrem como resposta a uma profanação, mas este é de natureza diferente.
O padre Crowley estava a preparar a distribuição da Comunhão na missa das 10h. Ele não podia fazer a distribuição, pelo que percebi, porque tinha um dedo ligado, e por isso deu a uma ministra da comunhão um cibório com hóstias. Ela dirigiu-se a uma das zonas da igreja onde costuma haver mais gente para comungar e quando olhou para a quantidade de hóstias no cibório ficou preocupada porque pensou que não iriam chegar e que teria de ir pedir mais a outro ministro da comunhão.
Contudo, quando olhou novamente para o cibório, já depois de ter distribuído muitas hóstias, apercebeu-se que ele estava aparentemente tão ou mais cheio do que inicialmente. À medida que continuava a distribuir, acontecia o mesmo. Quando terminou a distribuição, a bem mais de uma centena de pessoas, o cibório continha tantas ou mais hóstias do que no início. A questão não lhe passou despercebida e informou também o padre, que sabia mais ou menos quantas hóstias tinha o cibório e viu que em nenhuma altura ela foi pedir "reforços". O padre informou a congregação na missa e depois as autoridades diocesanas, que agora irão documentar e analisar o fenómeno.
Aqui podem ouvir a homilia da semana seguinte, em que o Pe Crawley explica o que se passou.
Há uma série de pontos que me vêm logo à cabeça ao ouvir estas palavras.
Em primeiro lugar, como não pensar imediatamente no milagre da multiplicação dos pães e dos peixes? Mas não é só isso. Eu sei e acredito que essa passagem do Evangelho tem várias camadas de significados, que o número de cinco pães e dois peixes, que somados dá sete, não é um acaso e tem um simbolismo, e admito até que possa haver fundamento na teoria de que se tratou também de uma partilha geral de alimentos. Agora, sempre me irritou a insistência por parte de alguns de que a multiplicação foi apenas simbólica, e que o verdadeiro milagre foi a partilha por parte de todos. Não é que a partilha não seja uma coisa boa, mas isto é normalmente dito dando a entender que Jesus não poderia ter multiplicado os pães porque isso é fisicamente impossível. Pois bem, a confirmar-se o que se diz ter passado em Thomaston, não é.
A segunda coisa que me ocorre é que a Igreja Católica nos Estados Unidos está em plena campanha de renovação eucarística. Os bispos consideraram isto necessário depois de algumas sondagens mostrarem que a esmagadora maioria dos católicos nos EUA acreditam que a Eucaristia é apenas um símbolo da Última Ceia, e não o verdadeiro Corpo e Sangue de Cristo. Que este milagre - repito, a confirmar-se - tenha ocorrido nesta altura é, claro, muitíssimo significativo, e é algo que devemos agradecer a Deus.
Terceiro, tocou-me o facto de o Pe Crawley estar aberto à ideia de que isto se calhar até acontece com mais frequência do que nós pensamos, só que desta vez foi notório e os envolvidos não podiam deixar de reparar. Talvez seja mesmo assim. Talvez não. Seja como for, faz-me pensar que nós não sabemos a quantidade de vezes que Deus intervém nas nossas vidas, através de gestos aparentemente pequenos mas que até podem afectar-nos muito. Andamos tantas vezes a pedinchar milagres, quem sabe a quantidade de milagres que já nos aconteceram sem darmos por isso?
Por fim, e como o Pe Crawley sublinha, isto até pode ter sido um milagre e se o foi, como diz de forma muito americana: "cool". Mas não nos esqueçamos que o verdadeiro milagre é o facto de Deus se deixar transformar todos os dias em alimento espiritual e físico para bem dos nossos corpos e das nossas almas. O verdadeiro milagre acontece na consagração, quer dêmos por isso ou não, e quando estamos a uma semana de Nosso Senhor nos ser retirado, no único dia do ano em que não há missa e em que os sacrários se esvaziam, fazemos bem em meditar sobre isso e dar muitas graças a Deus por esse tremendo dom. E isto é verdade, seja o milagre de Thomaston real ou não.
Com São João Bosco ocorreu um milagre idêntico e o comentário que ele fez a esse milagre foi precisamente que o milagre da transubstanciação é muito maior que o da multiplicação das hóstias.
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