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Austin Ruse |
Recentemente disse a uma senhora da Letónia que tinha estado
em Moscovo e que me tinha reunido com o Governo para agradecer a sua posição
firmemente pró-família nas Nações Unidas. Ela abanou um dedo ossudo na minha
direcção e exclamou: “Não são de confiança. Se estão do seu lado, é por outras
razões. São mentirosos!”
Depois de no ano passado ter participado numa conferência em
Rodes, patrocinada por Moscovo, um amigo e colega cortou relações comigo
durante vários meses, acreditando que eu me tinha associado a gangsters e oligarcas
do KGB.
A desconfiança dá tanto para um lado como para o outro. Em
Moscovo tanto membros do Governo como cidadãos normais me disseram que os
Estados Unidos querem minar os valores e a moral do povo russo. Apontam para um
discurso, que provavelmente nunca foi proferido, por Allen Dulles, director da
CIA, que terá sugerido minar os valores russos e transformar as suas mulheres
em prostitutas. O discurso é mencionado
aqui, mas como uma
história apócrifa.
Também citam uma coisa alegadamente dita por Zbigniew
Brzezinski, que pensam, erradamente, ter feito parte da administração Reagan, no
sentido de que a América deve tentar minar a única instituição que permanece na
Rússia: a Igreja Ortodoxa.
Mas descontando estes erros, eles têm alguma razão. Afinal
de contas a Rússia, como muito do resto do mundo, está recheada de porcaria
feita nos Estados Unidos, sobretudo pornografia. Quando me encontro com
diplomatas recém-chegados às Nações Unidas, esperam encontrar proxenetas,
prostitutas e pornógrafos. Ficam chocados quando se dão de caras com pessoas
que rezam.
A América lidera, actualmente, o esforço para espalhar a
agenda homossexual a nível global. Nomeamos embaixadores homossexuais para
países tradicionais. A República Dominicana está furiosa com esse facto. É uma prioridade
da política externa americana avançar a causa homossexual sempre que possível.
Organizamos festas gay em embaixadas, até em sítios, como o Paquistão, onde
isso ofende.
Mas é a Rússia que se encontra sob o foco dos activistas
homossexuais e dos direitos humanos por causa de leis recém-criadas para
limitar os avanços homossexuais. O Parlamento russo passou uma lei, quase por
unanimidade, que proíbe a propaganda homossexual dirigida a crianças em idade
escolar e manifestações públicas de homossexualidade, como marchas.
O dramaturgo homossexual Harvey Fierstein ia tendo um ataque
no
New
York Times esta semana. Ele faz várias afirmações falsas sobre a lei, tal
como que os pais que falem sobre homossexuais de forma positiva podem ver os
seus filhos removidos ou ser presos. Segundo ele, a nova lei permitiria às
forças de segurança identificar e prender turistas suspeitos de serem
homossexuais. Tudo isto é falso e o Times devia ter vergonha de o ter
publicado.
Até conservadores estão a envolver-se. O site Daily Caller
de Tucker Carlson, publicou
uma
coluna de opinião na semana passada, chamando os homossexuais a envolver-se
com a questão na Rússia.
Eu estive na Rússia para agradecer a posição firme que a
Rússia tem tido em relação a estes assuntos nas Nações Unidas e para dizer que
os conservadores americanos são a favor da lei sobre a homossexualidade.
As afirmações de Fierstein e da imprensa homossexual de que
existe uma “guerra aos homossexuais” deixaram-me curioso. Acabei por descobrir
que a verdade é outra.
Estava no Hotel Metropol, um dos mais antigos e prestigiados
de Moscovo. Segunda-feira de manhã, à porta do hotel, observei um homem
transsexual, agora “mulher”, a passear pela rua com calças pretas e uma
camisola apertada, com decote para mostrar os seus novos peitos.
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Protesto gay na Rússia |
Ninguém reparou sequer. E ele não parecia estar
particularmente preocupado em ser visto e chateado, muito menos detido pelas
forças de segurança.
Na próxima noite, passeava ao pé do Bolshoi quando reparei
em três homens peludos, com vestidos. Mais uma vez, ninguém reparou nem os
tentou prender.
Curioso, fui à internet e meti “Gay Moscow” no Google. Longe
de se ter refugiado no armário, a cena gay de Moscovo está à vista e orgulhosa.
Dezenas de sites anunciavam restaurantes e bares. Até existem saunas.
Ouvimos dizer muita coisa sobre a Rússia hoje em dia:
Corrupção, autoritarismo, abusos. Tanto de organizações como a Human Rights
Watch, a ACLU e a Amnistia Internacional como por parte de malta conservadora.
Mas questiono-me se as coisas são tão claras como nos dão a entender.
A afirmação de que a Rússia está em guerra contra os
homossexuais é falsa. Que mais será falso? O que sei é que a Rússia está a
experimentar um despertar religioso, liderado pela Igreja Ortodoxa.
O czar dos comboios russos, Vladimir Yakunin, com quem me
encontrei, organizou recentemente uma visita à Rússia da Verdadeira Cruz de
Santo André. Havia filas de cinco horas, debaixo de chuva, para a visitar.
Felizmente, Yakunin organizou as coisas para que eu pudesse saltar a fila.
Encontrei-me também com o jovem bilionário Konstantin
Malofeev, cujo gabinete está recheado de ícones religiosos. Ele está a
trabalhar no sentido de aproximar os ortodoxos russos e os cristãos americanos.
Malofeev e muitos outros russos vêem-se como uma nação
cristã, enviada para ajudar outros cristãos pelo mundo. Para eles, pelo menos,
essa é a razão pela qual apoiam o regime de Assad; ele é melhor para os
cristãos ortodoxos na Síria.
Ele questiona-se sobre se será possível forjar uma grande
aliança global entre os ortodoxos e os católicos, e que efeito é que isso terá
na guerra cultural global que está a ser avançada pela esquerda sexual. Eu
partilho a sua curiosidade.
A conversa global é religiosa. Os secularistas podem dominar
o Ocidente, mas para lá dele nem estão em cena, excepto na medida em que
conseguem impor a sua agenda através de instituições internacionais para o
desenvolvimento.
As nossas vozes poderiam ser muito mais poderosas se nos
unirmos àqueles que muitos parecem ter interesse em silenciar.
Podemos partir do exemplo do Papa Francisco. Nos primeiros
dias do seu pontificado recebeu em audiência o Metropolita Hilarion, director
das Relações Externas da Igreja Russa. Hilarion deu a Francisco um ícone famoso
e poderoso, importante para os ortodoxos, mas para os russos em geral: Nossa
Senhora de Kazan. Francisco deu-o a Bento XVI quando se encontraram pela
primeira vez, depois da sua eleição.
A Rússia é criticada, e com razão, por muitos dos seus actos.
Mas poderá também estar sob ataque por razões que não estão inteiramente à
vista.
Austin Ruse é presidente do Catholic Family & Human
Rights Institute (C-FAM), sedeado em Nova Iorque e em Washington D.C., uma
instituição de pesquisa que se concentra unicamente nas políticas sociais
internacionais. As opiniões aqui expressas são apenas as dele e não reflectem
necessariamente as políticas ou as posições da C-FAM.