Wednesday 29 August 2012

Aborto e Violação

Austin Ruse
A violação e o aborto têm dado muito que falar nestes dias. Infelizmente um bom político entrou de forma pouco competente numa zona politicamente explosiva e acendeu um fósforo.

Uma violação é, frequentemente, o evento mais devastador, em termos físicos e emocionais, da vida da vítima, que pode ser inundada por sentimentos de culpa, tristeza e depressão. As vítimas falam mesmo de uma sensação de sujidade. Nunca devemos menorizar este crime horrível.

É por isso que o argumento contra o aborto em casos de violação é tão difícil de fazer passar por parte do movimento pró-vida e de compreender pela sociedade. Esta é a posição da maioria dos grupos pró-vida e, também, a posição da Igreja Católica. Matar uma criança inocente nunca é justificável, mesmo que essa vida tenha sido fruto de uma violação.

A lógica é inatacável. Um nascituro é um ser humano único que, por natureza, detém certos direitos. O principal de entre eles é o direito à vida, que nunca pode ser abrogado, nem que seja em consequência de outro bem, neste caso tentar apagar a terrível dor de uma vítima de violação. Um bebé por nascer não pode ser punido pelos crimes do seu pai biológico.

Para dizer a verdade, muitos consideram isto uma perfeita loucura. Para alguns, até parece uma crueldade. Como explica Serrin Foster, presidente da Feministas pela Vida, a vítima de uma violação merece todo o amor que possamos encontrar e devemos procurar punir o agressor de forma expedita e justa.

Alguns argumentam: “Se obrigar uma mulher a carregar o filho do seu violador, isso será uma recordação diária, ao longo de nove meses, do momento mais traumático da sua vida”. Há uma certa verdade nisso. Se catalogarmos o bébé como co-autor do crime, então a sua presença será uma agressão diária. Na verdade, a pesquisa revela que esta é uma realidade para muitas mulheres com gravidezes não planeadas ou indesejadas, não apenas de violação. Elas encaram o bebé como uma ameaça às suas próprias vidas.

Mas algumas vítimas de violação chegam a um entendimento diferente sobre o seu bebé. Existem testemunhos apaixonantes de mulheres que temiam precisamente ver nos seus filhos a cara dos violadores, mas em vez disso encontraram nada mais que a cara querida de um bebé.

As crianças concebidas por violação podem ser as melhores testemunhas da verdade insofismável de que cada bebé humano é um dom de Deus. Temos disso importantes exemplos, recordo-me assim de repente da advogada e oradora Rebecca Keissling e da activista Ryan Bomberger.

Os activistas espertos procuram sempre combater em terreno favorável, e não no terreno dos seus inimigos. É por isso que a luta contra o aborto por nascimento parcial [também conhecido como aborto tardio, ou do terceiro trimestre, no qual o bebé é rodado e o parto feito até que só a cabeça continue dentro do corpo da mãe. Nessa altura fura-se o crânio com um instrumento médico, de forma a que quando se termina o parto o bebé nasce já morto] teve tanto sucesso na alteração do debate sobre a interrupção da gravidez nos Estados Unidos. Essa campanha teve lugar no terreno preferido pelos defensores da vida. Foi uma parvoíce da parte dos pró-aborto combater nesse terreno, que os deixou tão mal vistos, mas não o puderam evitar. Até a Frances Kissling, na altura presidente do movimento Catholics for a Free Choice [Católicos pela Liberdade de Escolha], confessou que a defesa do aborto por nascimento parcial custou ao seu movimento “muitos católicos pró-escolha”.
Lisa Askew, vítima de
violação e o seu bebé
Os nossos opositores neste campo também gostam de lutar no seu próprio terreno. Querem fazer deste um debate sobre casos difíceis, particularmente os casos de violação. Qualquer pessoa que fale deste assunto com amigos, família ou até estranhos, quase imediatamente se vê confrontada com a mesma situação em que se viu envolvido o congressista Todd Akin na semana passada. Tornar possível o aborto para vítimas de violação é o argumento pró-escolha por excelência, coloca-nos a nós na posição de defensar o que parece indefensável.

Uma solução fácil é simplesmente ceder – a título meramente argumentativo. “Tudo bem, fiquem com os casos difíceis. Podem ter o aborto para os casos de violação e perigo para a vida da mãe. Isso equivale a menos de 2% de todos os casos de aborto, ou cerca de 20 mil por ano”, [números relativos aos EUA].

Este argumento revela como os casos extremos, embora claramente complexos, são muito poucos no âmbito alargado do aborto. Muitos americanos pensam que estes casos são a maioria. Deixar isto claro obriga os defensores do aborto a ter que justificar os restantes 1,180,000 abortos que são praticados por outras razões.

Tenha presente que a maioria dos americanos pensa que a maior parte dos abortos devia ser proibida. Na sua vasta maioria os abortos são feitos a mães e bebés saudáveis.

Mas o problema é que, a não ser que se dedique a esta causa a tempo inteiro como voluntário ou como profissional, estes argumentos não surgem de forma rápida ou fácil. No calor da argumentação qualquer pessoa pode cometer erros.

Isto é especialmente verdade para o caso de políticos que têm de estar a par de dezenas de assuntos ao mesmo tempo e precisam de estar preparados para responder sobre todos eles a qualquer altura. Isto torna o aborto em casos de violação um verdadeiro campo minado em termos políticos.

Regra geral o movimento pró-vida permite aos políticos defender as excepções e ainda assim considerarem-se pró-vida. George Bush defendia o aborto nos casos extremos mas o movimento considera-o o presidente mais pró-vida da nossa história.

Enquanto defensores da vida consistentes devemos ajudar as vítimas da violação a perceber que ficar com o seu bebé poderá não lhes destruir a vida, mas antes ser precisamente aquilo que lhes dará alegria e sentido.

Lisa Askew, que agora tem vinte e poucos anos, disse a um jornal que tinha sido violada aos 16 anos. Ela ficou com o bebé, mas rejeitou-o e não podia ser deixada sozinha com ele. Depois aconteceu alguma coisa, o amor entrou em acção. “Eu sei que ele tem os olhos e o cabelo do pai, mas quando olho para ele não vejo outra coisa que não o meu filho lindo. Nunca deixa de me espantar que algo tão maravilhoso possa ter vindo de algo tão terrível. É o meu rapazinho lindo e não o trocaria por nada deste mundo”.



(Publicado pela primeira vez na Sexta-feira, 24 de Agosto de 2012 em www.thecatholicthing.org)

Austin Ruse é presidente do Catholic Family & Human Rights Institute (C-FAM), sedeado em Nova Iorque e em Washington D.C., uma instituição de pesquisa que se concentra unicamente nas políticas sociais internacionais. As opiniões aqui expressas são apenas as dele e não reflectem necessariamente as políticas ou as posições da C-FAM.

© 2012 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Wednesday 22 August 2012

A Guerra de Obama Contra a Liberdade Religiosa

George J. Marlin
Durante a campanha presidencial de 2008, o senador Barack Obama deu aos eleitores a impressão de que rejeitava a posição da elite do Partido Democrata de que os princípios morais são uma imposição na vida política. Tal como tinha dito num discurso em 2004: “Os secularistas estão errados quando pedem aos crentes que deixem a sua religião à porta antes de entrar na praça pública… Dizer que os homens e mulheres não devem trazer a sua “moral pessoal” para o debate público é um absurdo. A nossa lei é, por definição, a codificação da moralidade, muita da qual fundada na tradição judaico-cristã”.

Quatro anos depois sabemos que não só Obama nos enganou, como está decidido a secularizar todos os aspectos da vida americana e a declarar guerra à liberdade religiosa.

Para ter ideia da gravidade do problema, leia “No Higher Power: Obama’s War on Religious Freedom”, de Phyllis Schlafly, fundadora e presidente da Eagle  Forum e George Neumayr, da American Spectator. Este livro explica como Obama abraçou entusiasticamente as tácticas de Saul Alinsky para promover a sua agenda ideológica e a sua carreira política. Uma das máximas de Alinsky que ele praticou foi: “reveste as tuas acções na linguagem da moralidade”.

“No Higher Power” comprova que Obama e os seus subordinado têm estado a impor uma agenda secularista e têm-se esforçado por “fazer do Governo o árbitro da moralidade e subordinar a liberdade religiosa à coerção governamental”. Embora o ataque mais badalado à liberdade religiosa tenha sido o decreto do Department of Health and Human Services de que as instituições católicas devem “financiar contraceptivos, esterilização e pílulas abortivas para os seus funcionários”, tem havido muitos outros assaltos que não têm merecido tanta publicidade.

Aqui ficam algumas selecções do “Índice de Hostilidade de Obama  à Religião”, elaborada por Schlafly e Neumayr:

·        Depois de ser empossado em Janeiro de 2009, Obama revogou uma ordem executiva da era Bush que proibia a transferência de fundos públicos americanos para ONG que praticassem abortos noutros países.

·        A Administração de Obama disse em Fevereiro de 2011 que iam ser eliminadas as objecções de consciência para médicos e enfermeiros pró-vida que trabalham em hospitais com financiamento público.

·        Obama acabou com a tradição de patrocinar um evento na Casa Branca no Dia Nacional da Oração.

·        Obama eliminou o programa de vales-escolares no Distrito de Columbia. A maioria destes vales era usada em escolas paroquiais católicas.

·        A Administração Obama acabou com o financiamento de cursos de educação sexual para a abstinência.

·        O Departamento de Segurança Interna (DOHS) publicou um relatório absurdo que argumenta que os pró-vida poderiam ser uma ameaça séria à Segurança Nacional. Os pró-vida são potenciais terroristas porque o DOHS considera-os extremistas anti-Governo dedicados a uma só causa.

·        O convite ao reverendo Franklin Graham para falar no Dia Nacional da Oração no Pentágono foi cancelada porque o movimento esquerdista Military Religious Freedom Foundation o catalogou, falsamente, como islamófobo. Graham, que explicou à CNN que a acusação era absurda e que, embora não concordasse com todos os ensinamentos, não desejava qualquer mal aos muçulmanos, foi insultado publicamente pelo porta-voz do Pentágono. Segundo o Coronel Tom Collins, as suas visões teológicas sobre o Islão não são apropriadas: “Somos umas Forças Armadas inclusivas. Honramos todas as fés… a mensagem que passamos aos nossos militares e funcionários civis é da necessidade de diversidade e apreciação de todas as fés”.

·        Quando citou a frase da Declaração de Independência: “Todos os homens são criados iguais…”, Obama omitiu as palavras “pelo seu criador”.

·        Em Fevereiro de 2011, Obama ordenou ao Departamento de Justiça que deixasse e defender em tribunal a “Defesa Federal do Casamento” [que define o casamento como sendo só entre um homem e uma mulher, e impede o reconhecimento federal dos “casamentos” entre pessoas do mesmo sexo].

·        O Departamento de Assuntos de Veteranos proibiu a invocação de Jesus Cristo nas cerimónias fúnebres no Cemitério Nacional de Houston. A proibição foi cancelada depois de protestos por parte de veteranos.

·        A Força Aérea cancelou um curso sobre a Teoria da Guerra Justa que tinha sido leccionado há vinte anos porque os conteúdos examinavam pensamento cristão e bíblico. Um porta-voz disse “As chefias olharam para o material do curso e disseram que não, que podemos fazer melhor que isto”.

·        O Centro Médico Walter Reid ordenou que “Itens religiosos (como por exemplo Bíblias e material de leitura) não podem ser oferecidos ou usados nas visitas”. O regulamento foi abandonado depois da reacção negativa por parte do público.

·        O Departamento de Defesa furou a Lei de Defesa Federal do Casamento em Setembro de 2011 ao permitir cerimónias de “casamento” homossexual em instalações militares.

·        A Academia da Força Aérea deixou de participar na Operação Presente de Natal, uma caridade que distribuía mais de oito milhões de pequenos presentes a crianças pobres em mais de 100 países. A razão invocada foi: “Uma mensagem cristã evangélica estava incluída nas caixas”.

·        O Departamento de Educação anunciou em Fevereiro de 2012 que “deixará de perdoar dívidas estudantis em troca de serviço público quando esse serviço for de teor religioso”.

·        Em Fevereiro de 2012 a Força Aérea retirou a palavra Deus do lema do Gabinete de Rapid Capabilities. Agora o lema é: “A fazer milagres com o dinheiro dos outros” em vez de “A fazer o trabalho de Deus com o dinheiro dos outros”.

·        As Forças Armadas avisaram os capelães católicos para não distribuir uma carta do Arcebispo Castrense, Timothy P. Broglio, porque criticava o decreto do Department of Human Health and Services sobre contracepção e aborto nas instituições católicas.

Estes são só alguns exemplos do ataque da Administração de Obama contra a liberdade religiosa. Para aprender mais, compre um exemplar de No Higher Power.


(Publicado pela primeira vez na Quarta-feira, 22 de Agosto de 2012 em http://www.thecatholicthing.org)

George J. Marlin é editor de “The Quotable Fulton Sheen” e autor de “The American Catholic Voter”. O seu mais recente livro chama-se “Narcissist Nation: Reflections of a Blue-State Conservative”.

© 2012 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte:info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Saturday 18 August 2012

Dois anos atrás das grades para afinar a voz

Três das meninas da banda Pussy Riot foram condenadas a dois anos de pena efectiva pela “actuação” que tiveram na Catedral de Moscovo.

É uma pena severa? É. Mas não me parece totalmente desajustada. Quem ouve apenas os bem-pensantes liberais a falar do assunto diria que elas estão a ser condenadas só porque são anti-Putin, ou porque criticaram a Igreja russa. Mas aquilo que elas fizeram foi de uma total falta de respeito pelas crenças mais profundas de milhões de pessoas e a profanação de um espaço sagrado.

Para colocar as coisas em perspectiva, se eu e os meus amigos amanhã fizéssemos um “show-concerto-punk-protesto”, devidamente mascarados, na Mesquita de Meca, ou junto ao Muro das Lamentações, a protestar contra a ligação entre as respectivas religiões e Estados, o que é que vos parece que me aconteceria?

Dito isto, tinha ficado bem uma condenação meramente simbólica e, para que fique claro, com estas palavras não estou a dizer que acho que os tribunais russos funcionam de forma transparente, ou sequer que aprovo do Governo ou da sua cada vez mais estreita ligação à Igreja Ortodoxa.

Para este blog interessa especialmente analisar o papel da Igreja Russa no meio disto tudo. Parece-me que ela caiu aqui numa perigosa armadilha. Ao alinhar numa condenação e num circo mediático que interessa mais a Putin que à Igreja, expõe-se em demasia por uma causa pateta. O acto das Pussy Riot não teve nada de heroico. Foi de mau gosto, ofensivo e, sobretudo, infantil. Mas a Igreja Ortodoxa conseguiu fazer destas miúdas mártires de uma causa que nada devia ter a ver consigo e assim assumiu uma aura de perseguidora, cimentando a ideia de que está de facto ao serviço de Putin e do Kremlin.

O maior perigo da não separação entre a Igreja e o Estado é sempre para o lado da Igreja, e não do Estado. Esta é mais uma prova de que isso é verdade. A revolta do mundo por esta causa (que só prova que estamos de facto na Silly Season informativa) tem agora por alvo os padres e bispos ortodoxos que, sinceramente, merecem melhor do que serem descritos como lacaios de Vladimir Putin.

Wednesday 15 August 2012

Livres do Catolicismo

Randall Smith
Há semanas escrevi sobre uma senhora britânica, muito querida, que me informou de que “simplesmente não podia” criar a sua filha na Igreja Católica, porque esta proíbe a contracepção. Na altura pensei que se tratava de uma razão bizarra para se escolher uma religião, e ainda penso, mas entretanto ouvi uma história ainda melhor.

Conheço um jovem rapaz que está absolutamente de rastos porque a mãe da sua noiva, que é católica, informou a filha de que se recusava determinantemente a ir ao seu casamento caso o casal insistisse em  não usar contraceptivos. “Criei uma filha inteligente e independente”, sublinhou, “suficientemente inteligente para entrar em [uma prestigiada universidade da Ivy League]. Essa filha devia ser suficientemente inteligente para não se tornar escrava das regras de um bando de velhos, brancos, celibatários e de saias em Roma.”  

Simpático, não? E muito tolerante.

Talvez não valha a pena explicar que uma batina não é uma “saia”, da mesma maneira que uma veste tradicional de homens africanos não é uma “saia”. Será que ela se teria atrevido a chamar “saia” a um “Grand Boubou” africano? Se enviou a filha para uma universidade da Ivy League, não me parece. E na mesma linha, suponho que mais vale esquecer o facto ainda mais óbvio, pelo menos para quem lá esteve, de que não são só brancos que trabalham no Vaticano. Será que ela teria dito algo do género: “Como é que consegues ouvir um bando de velhos africanos, asiáticos e latino-americanos em Roma?” Não é provável.

Quanto à questão do celibato, bom, aí terá razão. Mas criticar pessoas que aceitam conselhos sobre a sexualidade de padres celibatários em Roma é como criticar pessoas qeu aceitam conselhos de monges tibetanos sobre consumismo. Já ouviram alguém  dizer: “Como é que podes aceitar conselhos sobre compras daquele monge budista no Tibete? Ele nunca tem de ir ao Centro Comercial”; Não pois não? Porque será?

É porque o anti-catolicismo é um dos últimos preconceitos aceitáveis neste país. As pessoas dizem coisas sobre católicos que não sonhariam dizer sobre outros grupos e revelam um grau de ignorância que seria simplesmente vergonhosa noutros contextos, mas que não desperta qualquer embaraço quando se dirige a católicos ou ao Catolicismo.

Mas a minha questão é outra: Onde está a tão propalada tolerância? Quem está a obrigar os outros? São mesmos os padres católicos em Roma que estão a “policiar” o quarto desta rapariga, ou é a sua mãe? Quem é que está aberto ao diálogo? O Magistério cujos membros escreveram, literalmente, centenas de páginas racionais sobre o assunto; ou a mãe que sem hesitações condena a sua filha por ser “estúpida” por se atrever a pensar em não usar contracepção?

Os católicos que concordam com os ensinamentos da Igreja a este respeito têm de aturar este tipo de ignorância e intolerância a toda a hora. Pergunte a qualquer mulher católica que tenha ido recentemente a um ginécologista quantas vezes teve de ouvir sermões por não aceitar receitas para contraceptivos, e como os médicos são paternalistas quando enfrentam esta recusa “infantil”. Pergunte a qualquer mulher católica que tenha estado grávida nos últimos tempos como foi tratada pelos médicos quando surgiu a questão de despistar deficiências.

Nos últimos anos muitas mulheres me têm perguntado se é mesmo “obrigatório por lei” fazer uma amnicentese para averiguar se o feto pode ter deficiências. Respondo-lhes que ainda não. Mas médicos de muitas áreas insistirão que se faça, sem dúvida para se protegerem de processos caso o bebé acabe por ter deficiências “indesejadas”, tornando o nascimento “indesejado” também.

Santa Perpétua e Santa Felicidade, corações livres

Nestas circunstâncias quem é que está, verdadeiramente, do lado de da liberdade das mulheres? Quem está a forçar as mulheres a fazer aquilo que não querem, e quem está a tentar educar as mulheres para tomarem decisões educadas e responsáveis sobre a sua fertilidade? Aquela mãe que se recusa a ir ao casamento da filha se ela não usar contracepção está a ajudar a sua filha a fazer uma escolha educada e responsável sobre a sua fertilidade? Ou está a escolher por ela a partir de uma posição de alegada superioridade?

Porque é que a liberdade, para estas pessoas, consiste sempre em verem-se livres do Catolicismo? A liberdade de se ser autêntica e verdadeiramente católico raramente aparece no radar destas almas “tolerantes”.

Lembro-me bem como os meus pais ficaram tristes e escandalizados quando anunciei que me ia tornar católico, isto das mesmas pessoas que sempre insistiram que “qualquer decisão é correcta, desde que seja correcta para ti”. Aparentemente, qualquer escolha seria “certa” desde que não fosse a escolha católica. A “liberdade” era sempre em função dos “constrangimentos” com que não concordavam, nunca a liberdade de ser algo diferente e verdadeiramente contra-corrente.

Francamente, tendo em conta a forma como me tinham educado – a valorizar a “liberdade” e a “autonomia” acima de tudo – tive tentado a desligar o telefone nas suas caras, de formas indignada, e dizer: “Quem são eles para questionar as minhas decisões?” Mas há aquela questão do mandamento sobre honrar o pai e a mãe. É irónico, não é? Que os valores deles de liberdade e autonomia me fizeram querer desligar, mas foi a minha fé católica, que tanto desprezavam, que me manteve ao telefone.

Na altura pareceu-me claro, e continua a sê-lo hoje, onde está a verdadeira liberdade. Há quem nos queira negar essa liberdade e, ironia suprema, é em nome da liberdade que o querem fazer. Gente dessa existe há muito tempo. São os mesmos que aconselharam Santa Perpétua quando aguardava a sua execução: “Rejeita Cristo apenas em palavras; em privado, ninguém quer saber o que fazes”.

O dela era um coração que conhecia a verdadeira liberdade.

Randall Smith é professor de teologia na Universidade de St. Thomas, Houston.


(Publicado pela primeira vez em www.thecatholicthing.com no Sábado, 11 de Agosto de 2012)

© 2012 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.



Friday 10 August 2012

Sírios, Sikhs e óculos ortodoxos

Mulher bonita vista por judeu ultra-ortodoxo
Uma das grandes notícias desta semana foi o massacre de seis sikhs num templo nos Estados Unidos. O mundo mostrou-se solidário com as vítimas e os bispos americanos publicaram uma nota a dar conta da sua proximidade.

Na Nigéria também houve violência religiosa. Em dias seguidos, ataques numa Igreja e numa mesquita causaram 22 mortos ao todo. Ambos poderão ter sido efectuados pelo Boko Haram.

Dentro de cinco dias em todas as igrejas francesas vai ser lida a oração pela França que, este ano, é bastante contra o Hollande.


17 mil escuteiros tiveram reunidos em Idanha a Nova e deram o maior abraço do mundo.


E quem disse que a religião cega os fiéis? No máximo, torna-lhes a visão desfocada….


Por fim, lembram-se do caso de D. Manuel Monteiro de Castro e o “lugar” das mulheres? A ERC condenou o Correio da Manhã pelo título difamatório

E agora, sigam as férias!

Thursday 9 August 2012

“The end is near for Bashar”, but “Free Syrian Army are gangsters”

Transcrição integral da entrevista a Alfred, um sírio católico de Rito Latino, que trabalhava na indústria cimenteira e fugiu de Aleppo para Beirute quando começou a violência. Notícia aqui.

Full transcript of the interview with Alfred, a Syrian Latin Rite Catholic who worked in the Cement industry and escaped from Aleppo to Beirute when the fighting started. News item (in Portuguese) here.


Why and when did you leave Aleppo?
Before the fighting started in Aleppo we started going back and forth to Beirut. The last two weeks were the most dangerous in Aleppo, so everybody left

What do you believe is going to happen in Syria?
As you know, the first thing that happened was that most Christians who were well off left the country. The ones who were not well off stayed in their houses, I am calling everyday to know about the community. Nobody knows about the future, about the regime. It’s all politics, and deals under the table.

In your case, personally, would you like the regime to be replaced?
For the Christian’s sake the regime is better as it protects minorities. That is what the Christians want, for the time being. But for the long term everybody needs some changes. Nobody believes in the reforms anymore, in all these promises that have led to nothing. We have been waiting for 12 years, nothing really happened for the people. Maybe the country improved a bit, but everything is in the hands of the minorities and a circle around the president.

Do you believe that if the opposition take over they will protect the Christians?
The opposition that you see on TV, they are gangsters. The Free Army, I don’t know what their purpose is, just the fall of the regime. They steel, ask for ransoms. Just two days ago they attacked one of the Christian clubs in Aleppo, they swam in the swimming pool and destroyed all the alcohol, then they wrote on the wall, “try and drink alcohol again, and you’ll see what will happen”. You are seeing some radical Islamic groups coming with this free army, it’s a mixture of everything.

Do you know any Christians who were active in the conflict? Either for or against the regime?
No. Christians are not participating, they are not taking any position. They have no interest. Everybody knows that if they join the opposition or the militias, their punishment will be death. The others think that if they are martyred they will go to heaven, that is why they are going. But Christians, they have brains, they have families, they don’t do these things.

You also do not see Alawites going to the Free Army. The minorities are not taking any position. But there are Christians who are part of the regular army, I have cousins and others who are in the Syrian army.

They don’t think of deserting?
No, that is not the case. When you hear about the big names of deserters, these are people who are bought. Like the prime-minister, this guy has been paid something and deserted, it is very obvious.


Have you been well received by the Lebanese Christians?
Most of the Syrians who have come here have a second house in Beirut, the others are renting houses. I personally purchased an apartment last year, before the problems. But people who arrived just now are not buying, because it is not time to spend money, everybody is putting money on the side.

But in terms of solidarity and friendship, have the Christians in Lebanon received the Christians from Syria as well as they should?
I don’t personally know any contacts between Christians from here and from there. The ones who came here are well off, they pay their own expenses, there is no evacuation for the time being. The other Christians from Aleppo stayed in Aleppo, because they can’t leave. The roads are cut off, it’s impossible to travel on the highway, and the flights are fully booked for the next month. The people have to wait two, three, four weeks on waiting lists to get on a plane.

I’ll give you an example, taking a taxi from town to the airport should cost maximum 10 dollars. Today, the taxi will charge 200 dollars to take you to the airport. Who can pay this kind of money? And then catching a plane to Beirut or to Damascus… and living in Beirut is expensive compared to Syria. That is why Christians are staying in their homes, most of them.

People who were in Beirut have told me that there have not been many contacts between Christians in Lebanon and Syria, some even complain of a cold reception.
Sure. Here they are Maronite, and there is no connection between the churches. In Syria we have 13 bishops, and there is no coordination between them. I know some of them personally, they are not coordinating. Each one is taking care of his own community. I went to my Bishop about 8 or 9 months ago, and I asked him why they didn’t complain to the Government, and speak of the demands of the Christians? Why didn’t they ask for our rights? Then the problems happened and one day the revolution started, then it was too late to ask about reforms, nobody asked about the reforms.

Would it be better if the different bishops were more united?
It’s like Catholics and Orthodox. Of course it would be better, but they are never at the same table agreeing. The problems between Catholics and Orthodox, it’s the same as what we have in Syria.

But even among the different Catholic bishops?
I don’t believe it, because everybody has a big community to satisfy, and they are not even able to satisfy their community. The financial situation of the churches is very poor. My church has about 20 thousand dollars a year to distribute to the poor families, and each family gets about 20 dollars a month. This is all they can do.

Do you think you will be returning to Syria?
Returning is obvious for us. We can’t live in another country. We love our country, but in this situation everything is on hold, until this fight ends. Now the army has entered Aleppo by land and we have been promised that they are trying to clean everything in one or two weeks maximum. This is what I heard, but I don’t know if this will end or not. Like in Damascus, the fourth division entered the city and they cleaned everything.

But you have insurgents from outside. I have a friend who was kidnapped last week with four other Christians, and he told me there were black people, people from Libya, from other countries… There is a mixture, they ask for money, they are gangsters. He said they saw weapons that they’d never seen in their lives.

The king of Jordan said that Assad might try and set up an Alawite enclave if he feels he can’t hold onto power. Could that happen?
No. They will not try to divide Syria. The president’s duty is to maintain whatever he can until he leaves, but of course the end is near. He will not survive. The American’s, Europeans, 80% of the world is against him. And now with these problems, and the hatred in people in Syria…

My opinion, if there is an election, I don’t know if he would even run. He’s fed up with this. If I were him I would ask for political exile, but I don’t know if he will. Everybody is defecting around him, his best friend Tlass defected. Then there was the explosion in Damascus. Nobody is around him now, nobody knows who is ruling the country now. It’s “run for your life”. If you are kidnapped it is better to pay the ransom than to ask the Government for help, because nobody will come. They are sometimes part of the corruption, the gangsters, you don’t know if the police are involved. Its chaos, it can’t get worse.

You have access to western news outlets. Do you think they are portraying the truth on the ground?
No. There are some exaggerations. I hear people from the States going to Aljazeera and asking how they can give money to the Free Army to buy weapons. This is not a civilized way. They are destroying the country. Maybe supporting Democracy and sitting around a table, this would be more civilized, but the embargoes, they are killing the country. Business has stopped, we are going backwards. We didn’t see any support from the west, food or humanitarian aid, nothing happened. The politicians just go on TV and pretend to do something good, but they are not cooperating at all with Syria.

Wednesday 8 August 2012

Contra o “Agora Evolucionário”

Enquanto procuram conduzir os jovens rumo à idade adulta os pais dizem muitas vezes, sobretudo aos adolescentes: “pensa por ti”. Claro que não é isso que querem dizer. Sob a capa dessa aparente liberdade, o que querem dizer para não pensar, muito menos agir, como os idiotas dos amigos com quem te dás. Mas pensar como os amigos – ao invés de pensar como os pais, professores ou pastores – é precisamente o que as crianças imaturas entendem por “pensar por si”.

Talvez a comparação seja injusta, mas lembrei-me deste triste facto da natureza humana quando li a entrevista recente da irmã Pat Farrell, presidente da Leadership Conference of Women Religious (LCWR) à cadeia NPR, durante a qual ela disse que o actual conflito entre as freiras americanas e o Vaticano resume-se à questão: “Pode ser-se católico e ter uma mente interrogativa?”. Que fique claro que a irmã Farrell enfrentou anos de perigo na América Latina, de onde regressou, como muitos outros, com o que me parece ser um entendimento errado da teologia da libertação. Mas arriscou a vida por aquilo em que acredita, e isso revela uma atitude adulta.

Ainda assim, há algo mais do que um pouco adolescente – e paternalista – sobre a pergunta. Amanhã [ontem] em St. Louis começa a conferência anual da LCWR, cujo tema é: “Mystery Unfolding: Leading in the Evolutionary Now” [Um mistério que se revela: Liderança no Agora Evolucionário]. Só pessoas com uma perspectiva que ultrapassou o prazo de validade por volta de 1978 é que poderiam propor em 2012 um tema que mais parece pertencer a um “então reaccionário”. Farrell e as suas irmãs são grandes fãs da evolução e de mudar as ideias para responder aos sinais do tempo – sobretudo quando essas novas ideias nada têm a ver com o Catolicismo tradicional. Tudo isto estará em cima da mesa quando discutirem as críticas do Vaticano à LCWR na conferência.

Tudo isto tem tido grande ressonância nos media, que não se têm dado ao trabalho de entrevistar religiosas que pertencem a ordens que talvez ainda existam dentro de 20 anos. Mas ao celebrar a irmã Farrell e a LCWR os media praticam uma forma subtil de ventriloquismo, passando a ideia de que os verdadeiros católicos pensam por si, precisamente porque pensam como, por exemplo, a NPR.

O meu entendimento disto é que um certo segmento de uma geração mais velha de católicos comprou gato por lebre num período caótico – aqueles anos depois do Vaticano II quando parecia que a Igreja não sabia em que é que acreditava. Pensar por si é óptimo, mas nem sempre é fácil e nunca somos os únicos a fazê-lo.

O caso mais famoso de uma pessoa a tentar pensar unicamente por si foi Descartes com o seu cogito ergo sum “penso, logo existo”. Uma antiga história francesa, provavelmente apócrifa, conta como um tolo parisiense interrogou Descartes: “Mas monsieur Descartes, e eu? Não penso, porém existo”.

Mas agora a sério, como é que Descartes poderia ter escrito o cogito se não tivesse aprendido latim com os jesuítas do College Royale em La Flèche? E porque é que criaria a sua proposição se a sociedade europeia do seu tempo não estivesse a viver uma crise epistemológica? Se podemos pensar é precisamente porque existem comunidades humanas e pessoas que nos ensinam a falar.

Pode parecer recôndito, mas é importante para a questão que temos diante de nós: “É possível ser-se católico e ter uma mente interrogativa?” Ignorem o insulto escondido na formulação da pergunta. A forma séria de colocar a questão seria: “Como é que podemos ser católicos nas nossas interrogações, tão necessárias, e nas nossas demandas intelectuais?”

Religiosas da LCWR

Ser um pensador ou um interrogador católico não é, ao contrário do que indica a LCWR, acreditar que aquilo que nos passa pela cabeça merece, só por si, algum relevo especial. Há questões de juízo e de experiência e de pertença a uma comunidade que entram em jogo também.

Um dos fundadores de The Catholic Thing, Michael Novak, disse que quando leu em Aristóteles que ninguém pode ser filósofo antes dos quarenta anos, pensou para si mesmo: “Muito bem, então o que posso fazer entretanto?”. Aí está a atitude de um jovem promissor.

A Igreja, que absorveu a sabedoria dos antigos pagãos, tem sido a encarnação deste tipo de realismo. A expressão latina sentire cum ecclesia “pensar com a Igreja”, pode parecer uma limitação à liberdade intelectual. Mas tudo se resume a saber se somos católicos, isto é, uma pessoa a fazer perguntas no contexto de uma tradição viva.

O Catolicismo não tem resposta para tudo, é certo. As freiras americanas podem pensar que sabem acabar com a pobreza ou com a crise financeira, mas a Igreja, como um todo, não sabe. Mas se em 2000 anos ela não acumulou alguma sabedoria verdadeira, então mais vale desistir.

Atribuo grande parte destes juízos apressados, mesmo dentro da Igreja, a uma atitude que persiste desde o tempo de Kant (1724 – 1804), um grande pensador e um moralista sério. Mas o seu lema pessoal Aude sapere, “atrever-se a saber”, muitas vezes associado à ideia de que a humanidade “atingiu a maioridade”, tem tido algumas consequências infelizes.

Pela minha parte, sou demasiado novo para ter seguido de perto o Concílio Vaticano II, mas lembro-me, um pouco mais tarde, de ouvir católicos a falar com grande segurança sobre um mundo que tinha “atingido a maioridade”, (um termo que aparece mesmo nos documentos do concílio) e a fazerem-se corajosamente à estrada naquilo que pensavam ser um caminho de renovação.

Passaram-se dois séculos desde Kant e meio século desde o Concílio. Temos tido melhorias materiais: contrariamente ao que dizem os liberacionistas, o capitalismo, o industrialismo e a tecnologia têm aumentado o nível de vida das pessoas comuns e retirado milhares de milhões a uma vida de pobreza. Tem sido um percurso acidentado? Claro! Mas não tem paralelo na história da humanidade.

No que diz respeito à maioridade, porém, estamos quase sempre na mesma. Se, enquanto católico – ou Ser Humano – quiser pensar um bocadinho por si, é melhor esquecer o Agora Evolucionário e reconciliar-se com esta antiga mas indispensável evidência.


(Publicado pela primeira vez na segunda-feira, 6 de Agosto 2012 em www.thecatholicthing.org)

Robert Royal é editor de The Catholic Thing e presidente do Faith and Reason Institute em Washington D.C. O seu mais recente livro The God That Did Not Fail: How Religion Built and Sustains the West está agora disponível em capa mole da Encounter Books.

© 2012 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing. 

Tuesday 7 August 2012

Freiras americanas em regenopausa a liderar o Agora Evolucionário

Não, não é mesmo uma das freiras... acho eu
Este ano o Vaticano publicou uma nota em que criticava uma organização de líderes de ordens religiosas femininas na América, que representa cerca de 80% das religiosas daquele país.

Entre as críticas está uma forte tendência feminista e exagerado empenho em causas sociais por oposição a causas que o Vaticano considera importantes, como a promoção do Cristianismo, a causa da vida, etc.

A Leadership Conference of Women Religious (LCWR) está sujeita à Santa Sé e o Vaticano nomeou um bispo para supervisionar as suas actividades de agora em diante.

Hoje começa a conferência anual da LCWR. Entre os assuntos a discutir estará a resposta a dar ao Vaticano. As freiras já indicaram que não estão nada satisfeitas e até disseram ao arcebispo Peter Sartain, o tal nomeado para supervisionar a organização, que a sua presença na conferência não seria bem-vinda.

As freiras consideram injusto que o Vaticano as critique e por isso vão concertar uma resposta num encontro subordinado ao seguinte tema: “Mystery Unfolding: Leading in the Evolutionary Now”.

Sinceramente, nem sei bem como traduzir isto: “Um mistério que se revela: Liderança no Agora Evolucionário”? Faz tanto sentido para mim assim como no inglês original.

E quem é a conferencista principal deste encontro de freiras católicas? A senhora Barbara Marx Hubbard. Certamente uma figura destacada do mundo católico americano… ou não. Marx Hubbard não é católica nem pertence a qualquer outra religião.

Então como é que ela se descreve? Segundo a sua página de Facebook, assim:
I am an 82 year old Visionary enjoying “Regenopause 2.” Regenopause 1 is from 50 to 80. # 2 is 80 and beyond. I feel I am here to be a voice for the Collective Emergence of humanity as a Co-creative Universal Species!

Mais uma vez, vou tentar traduzir: “Sou uma Visionária de 82 anos, a gozar a ‘Regenopausa 2.’ Regenopausa 1 é dos 50 aos 80. O 2 é dos 80 em diante. Sinto que estou aqui para ser uma voz da Emergência Colectiva da humanidade enquanto Espécie Co-Criadora Universal!”.

Desculpe?

Há tempos publiquei aqui no blogue uma reportagem sobre a Igreja Ortodoxa Africana de São John Coltrane. Disse na altura que: “Depois de uns quantos anos a trabalhar nesta área e mais uns quantos apenas a segui-la com interesse, continuo a surpreender-me com algumas das coisas que descubro.”

Obrigado Barbara Marx Hubbard e as simpáticas freiras da LCWR por tornarem o meu trabalho tão interessante!

Monday 6 August 2012

Obrigado ERC!

Sim, ainda o “caso” D. Manuel Monteiro de Castro e o lugar das mulheres.

Lembram-se desta polémica? Fiz disto bandeira há uns meses. É com agrado que vejo a ERC a dar razão às posições que eu defendi na altura, aqui, no Facebook e num artigo de opinião escrito para a Renascença.

Cito da deliberação da ERC, que podem ler na totalidade, se assim entenderem. Também vou meter links para os outros textos que escrevi sobre o assunto.


45. As peças em análise referem nos respetivos títulos que a “mulher deve ficar em casa”, devidamente entre aspas por forma a sinalizar que se trata de uma citação de um trecho das declarações do cardeal D. Manuel Monteiro de Castro. Como se pode verificar, ocorre, de facto, um desfasamento entre os títulos e as respectivas declarações incluídas nos corpos das notícias, com a omissão da palavra “poder” (cf. ponto 31).

46. O Bispo diz: «a mulher deve poder ficar em casa»; os órgãos de comunicação social titulam ter ele afirmado: «a mulher deve ficar em casa». São duas frases com alcance significativamente distinto.

48. Pelo exposto, entende-se que a opção pelos títulos supra citados incorre numa falta de rigor no relato dos fatos, nomeadamente no que respeita à reprodução das declarações, podendo induzir nos leitores interpretações desfasadas do sentido real dos fatos relatados na notícia.

O Conselho Regulador delibera … Declarar que os jornais “Correio da Manhã” e “Diário Económico” e o sítio online do serviço de programas “TVI 24”, por falta de rigor e exactidão na transcrição das palavras do Bispo Manuel Monteiro de Castro, ao usarem o título «a mulher deve ficar em casa», em vez de «a mulher deve poder ficar em casa» que corresponde ao que o citado efectivamente disse, violaram o artigo 3.º da Lei de Imprensa.

Wednesday 1 August 2012

Rumo à Investigação Ética de Células Estaminais

Chuck Donovan e Nora Sullivan
Quando foi criada na California, por referendo, o California Institute for Regenerative Medicine (CIRM), com o propósito de financiar a investigação com células estaminais embrionárias humanas (CEEh), o seu directror Robert Klein comentou: “Não tenho a menor dúvida de que a missão que os californianos aceitaram hoje é um primeiro passo crítico no sentido de mudar para sempre o panorama do sofrimento humano”.

O desejo de evitar o sofrimento de outros, ou de o minimizar, é certamente louvável. Mas a sedução de tratamentos do género, em grande escala, é um desafio às nossas convicções morais. Ainda por cima, como os californianos estão rapidamente a descobrir, os atalhos éticos tendem a desiludir na altura de apresentar resultados.

Vale a pena recorder a enormidade das promessas, que ainda se repetiam há poucos anos. Variavam entre a previsão do candidato a vice-presidente, John Edwards, de que os paralíticos voltariam em breve a andar sem ajuda, até às campanhas de Michael J. Fox  a favor de investigação embrionária para tratar a doença de Parkinson (posições que retractou em grande parte no dia 24 de Maio deste ano).

O nosso respeito pela fase embrionária da vida humana tem estado a regredir ao longo das décadas, graças ao aborto legalizado e práticas de fertilização in vitro que levam à criação e destruição de um sem número de novos seres humanos em todo o mundo.

A apresentação de avanços médicos quasi-milagrosos apenas desvaloriza estes seres minúsculos em favor de causas que, de resto, não levantam problemas morais. Um utilitarismo com estes propósitos elevados poderia ser irresistível.

Segundo a Academia Pontifícia pela Vida, o embrião humano é “um sujeito humano com uma identidade bem-definida que a partir da união dos gametas inicia o seu desenvolvimento próprio, contínuo e gradual”.

Mas os eleitores da California rejeitaram esta ideia por larga margem ao fundar o CIRM. A agência foi criada com o entedimento de que as CEEhs eram a solução para quase todos os problemas médicos imagináveis, e que cabia ao Estado financiar a sua investigação.

Com um orçamento de três mil milhões de dólares ao longo de dez anos, o CIRM tornou-se rapidamente a maior fonte de financianemento de investigação em células estaminais para além da National Institute of Health. Embora os fundos pudessem ser usados para qualquer tipo de investigação em células estaminais, foi dada prioridade especial às CEEhs.

Em 2007 foram atribuídos os primeiros subsídios. O CIRM emitiu 121 milhões de dólares para projectos envolvendo EEChs, e quase nada para a investigação em células estaminais adultas, células estaminais pluripotentes induzidas ou qualquer outra forma de pesquisa incontroversa.

No ano seguinte foi novamente dada prioridade às CEEhs, que receberam $25,658,662, quase o dobro do que foi atribuído a projectos de células estaminais não-embrionárias.

Nora Sullivan
Em 2009 assistiu-se a uma alteração na estratégia de financiamento do CIRM. Nesse ano, o centro anunciou um novo plano estratégico que apostaria mais em projectos com maior probabilidade de levar a ensaios clínicos e terapias. No plano lia-se que o CIRM queria estimular “o desenvolvimento de uma conduta científica de curas, que abarque a investigação em células estaminais, desde as fases de descoberta até às aplicações clínicas”.

Com estas novas prioridades deu-se uma alteração dramática no nível de atenção que passou a ser dada à investigação em células estaminais adultas e outras abordagens não controversas.

Agora, a ética e a eficácia estão de braço dado. Apesar de toda a atenção que recebe, e do dinheiro injectado, a investigação com células estaminais embrionárias ainda não demonstrou qualquer benefício terapêutico para os doentes. Apesar de alguns resultados modestos com animais, e um ensaio ainda em fase inicial no Reino Unido para o tratamento de degeneração muscular, ainda está por desenvolver-se uma única cura com base em células embrionárias.

As células são difíceis de criar e de manter em laboratório. Além disso, as células estaminais embrionárias têm um forte potencial para formação de tumores e podem mesmo danificar o tecido em que são inseridas, como seria de esperar para células que não deviam estar presentes em corpos adultos.

As células adultas, porém, que são recolhidas sem problemas éticos a partir de fontes como a medula óssea e sangue do cordão umbilical, continuam a dar óptimos resultados. Já foram utilizados para tratar uma grande variedade de problemas, desde doenças cardíacas, anemia falciforme e danos na espinal medula.

Nas palavras do Dr. David Prentice, investigador sénior na Family Research Council, “há poucas provas de que as células estaminais embrionárias sejam úteis para o tratamento de doenças e a regeneração de tecidos. Ao mesmo tempo há milhares de doentes que têm recebido tratamentos bem-sucedidos com base nas suas próprias células estaminais adultas.”

Para além disso, em 2012 assinalou-se a primeira vez que um projecto de investigação financiado pelo CIRM conseguiu uma droga sua aprovada pela Federal Drug Administration. O medicamento serve para regenerar os danos causados por ataques cardíacos e resulta da investigação em células estaminais adultas.

Até agoral, a procura de milagres nas células embrionárias, apenas serviu para perder dinheiro e vidas inocentes. Já as células adultas, por outro lado, ofefrecem um futuro cheio de esperança, sem atalhos éticos.

O já falecido físico e filósofo da ciência Stanley Jaki comentou, certa vez, que a ciencia está assente em bases que incluem “a existência de um mundo intrinsicamente ordenado em todas as suas partes e consistente nas suas interacções.” Essa obsservação podia perfeitamente aplicar-se às células estaminais, sendo que aqueles que já permitem curar seres humanos podem agora ser aproveitados e encorajados no seu percurso, sem dilemas éticos, para sucessos ainda mais retumbantes.


(Publicado pela primeira vez na Sexta-feira, 27 de Julho 2012 em http://www.thecatholicthing.org)

Chuck Donovan e Nora Sullivan são president e investigadora assistente, respectivamente, na Charlotte Lozier Institute, em Washington, D.C.

© 2012 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte:info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Partilhar