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Brad Miner |
Ainda que este fosse um filme de fraca qualidade, eu
seria tentado a elogiá-lo nem que seja porque trata da prática criminal e
pecaminosa de raptar crianças para vender para escravatura sexual… e porque o
protagonista é o inestimável Jim Caviezel. Mas a verdade é que é um bom
thriller, com boas representações, realizada por Alejandro Monteverde, o mesmo
que nos trouxe o fantástico filme pró-vida Bella.
O filme inclui Caviezel, Mira Sorvino, José Zúñiga,
Eduardo Verastegui, Gerardo Taracena e Bill Camp (que tem a melhor prestação do
filme). O guião é de Monteverde e de Rod Barr, e a produção é de Verastegui.
Tim Ballard (Caviezel) deixa o seu cargo como agente
especial da U.S. Homeland Security Investigations, tornando-se freelancer, para
poder resgatar crianças raptadas por cartéis que, por sua vez, os vendem a
traficantes humanos na América Latina que, por sua vez, os revendem por todo o
mundo (incluindo para os Estados Unidos) para serem violadas por pedófilos.
Este filme é, como se diz, baseado numa história
verídica. O que levanta a questão: Quem é o verdadeiro Tim Ballard? Duas
agências americanas recusaram comentar sobre o papel que ele desempenhou, e
Tiffany Kaitlin escreveu no The Atlantic que “porta-vozes da CIA e do
DHS dizem que não podem confirmar os registos de emprego de Ballard sem a sua
autorização escrita, que ele não forneceu”.
Talvez o Sr. Ballard não veja a necessidade de revelar
algumas das repreensões que recebeu por causa dos métodos que adoptou, que
podem assemelhar-se às que vemos Caviezel protagonizar no filme. É natural que
ele tenha sido insubordinado, tendo em conta as restrições impostas aos agentes
da lei, tanto táctica como geograficamente.
O que sabemos ao certo é que Ballard fundou a Operation
Underground Railroad (O.U.R.) em 2013, com o objectivo de atravessar fronteiras
para resgatar crianças detidas por traficantes e pedófilos.
De acordo com a Wikipedia, a O.U.R. tem um ranking de
“ponto de interrogação” por parte de um grupo chamado CharityWatch “porque a
organização não divulga informação financeira”.
Interessante. Eu nunca tinha ouvido falar da
CharityWatch, que segundo outra página da Wikipedia emprega um total de cinco
pessoas. Contudo, a principal agência de avaliação de instituições de
solidariedade, a Candid, que emprega 200 pessoas e dirige a GuideStar – que
avalia organizações filantrópicas e de solidariedade social com classificações
que vão do bronze à platina – a O.U.R. tem uma avaliação de prata. Os salários
dos executivos parecem ser invulgarmente altos, mas não estamos a falar dos
escuteiros e alguns dos operacionais da O.U.R. põem a vida em risco para
cumprir as suas missões.
Mas voltemos ao filme.
Os créditos são acompanhados de imagens a preto e branco
do que parecem ser verdadeiras filmagens de câmaras de segurança de miúdos a
serem raptados na rua e levados de carro ou de motorizada.
O filme propriamente dito começa com uma falsa agente de
talentos (a actriz cubana Yessica Borroto Perryman) a recrutar crianças de
várias idades (mas todas menores) sob o pretexto de uma audição. Um pai
insuspeito (desempenhado por Zúñiga) deixa ambos os seus filhos entusiasmados
na tal audição: Rocio (a suberba Cristal Aparicio, que durante as filmagens
devia ter 15 ou 16, mas parece pré-adolescente) e o seu irmão mais novo.
Ballard consegue resgatar o irmão mais novo durante uma
rusga na fronteira entre os Estados Unidos e o México, mas não há sinal de
Rocio, o que o leva a cortar as ligações à DHS, uma vez que não consegue mais
trabalhar dentro das restrições do sistema oficial dos EUA.
Enquanto procura saber para onde foi levada a Rocio
consegue libertar um número significativo de crianças organizando uma golpada –
uma espécie de Ilha da Fantasia para pedófilos – com a ajuda de um ex-membro de
um cartel, Batman (Bill Camp) e um aventureiro rico chamado Paul (Verastegui).
Mas a busca pela Rocio continua.
E isso conduze-o à sede do traficante de droga El Alacrán
(uma actuação tipicamente ameaçadora de Taracena). Não vou revelar como é que
acaba o confronto violento entre Ballard e El Alacrán.
Só tenho uma crítica a fazer à realização de Monteverde:
perde muito tempo com silêncios e faces, sobretudo a de Caviezel. Silêncios,
caras e penumbra são as técnicas mais antigas e fiáveis para disfarçar um baixo
orçamento. Mesmo algumas das cenas de pancadaria não são visíveis, embora essa
possa ter sido uma forma de tentar evitar que o filme fosse classificado para
maiores de 18.
O dia depois de ter visto o filme, um amigo enviou-me um
artigo do New
York magazine chamado: “Os detalhes condenatórios que levaram a JPMorgan
Chase a chegar a acordo com as vítimas de Epstein”. Estamos a falar, claro, de
Jeffrey Epstein, que entrou para o mundo das finanças internacionais devido à
sua amizade com o empreendedor Leslie Wexner.
(Uma nota pessoal: A associação entre Wexner e Epstein
entristece-me. Ele tirou o curso na Universidade de Ohio State, no departamento
que era chefiado pelo meu pai quando ele era aluno. Wexner nega conhecimento da
pedofilia de Epstein. Espero que seja verdade, porque a sua filantropia,
especificamente o apoio dado à Ohio State é impressionante.)
Refirmo-me a Epstein porque a realidade do tráfico sexual
é maior do que muitos imaginam. Os seus tentáculos satânicos têm um longo
alcance, chegando aos corredores do poder e do dinheiro.
A Newsweek elencou
os nomes de alguns dos homens que viajaram nos voos privados de Epstein para as
Caraíbas (conhecidos como a Lolita Express). Não vou referir todos, mas incluem
Donald Trump, Bill Clinton, o Príncipe André, Bill Gates e Robert F. Kennedy
Jr. Todos esses nomes, e outros, foram também divulgados pela CNN e a Associated
Press.
De certa forma Epstein é como Theodore McCarrick. Lendo
histórias sobre a sua vida, encontramos sempre a mesma atitude que víamos em
relação a McCarrick: um encolher dos ombros e um piscar de olho: “Toda a gente
sabia”.
De acordo com a Human Trafficking Institute há actualmente
perto de cinco milhões de vítimas de tráfico humano, das quais um milhão são
crianças, na maioria raparigas.
As Nações Unidas dizem que o tráfico humano é um negócio
de 32 mil milhões de dólares por ano. Porque razão, perguntam, é que alguém se
dedicaria a um pecado tão criminal?
Bom, no que diz respeito à prostituição infantil, a
resposta está no facto de um chulo poder ganhar até 250 mil dólares por ano com
apenas uma rapariga, a quem obriga a praticar actos sexuais até dezenas de
vezes por dia.
Depois de ver o filme senti vontade de pesquisar mais um
pouco, de pensar um pouco fora da caixa. Mas não quero entrar demasiado fundo
nesse pântano, em parte porque os números apresentados por diferentes
organizações e agências de segurança variam muito. Os polícias podem
preocupar-se com as vítimas, mas as suas estatísticas baseiam-se em detenções. Os
activistas podem ser sinceros, mas também procuram financiamento.
Se querem chocar-se com a forma como algumas pessoas
estão a tentar normalizar a pedofilia, não precisam de ir mais longe do que o
livro The Invincible
Family de Kimberly Ellis.
Eu só tenho filhos rapazes, mas tenho uma neta, e a
preciosidade da sua vida torna bem presente na minha mente os inimagináveis
horrores deste “negócio” profano. E explica porque é que o plano de Deus inclui
o Inferno, levantado também questões sobre a forma como a Igreja Católica se
tem distanciado da pena de morte.
Brad Miner é editor chefe de The
Catholic Thing, investigador sénior da Faith & Reason Institute e faz
parte da administração da Ajuda à Igreja que Sofre, nos Estados Unidos. É autor
de seis livros e antigo editor literário do National Review.
(Publicado pela primeira vez no sábado, 1 de Julho de 2023
em The Catholic Thing)
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