Pe. Paul Scalia |
Ao longo das passadas cinco
semanas temos escutado essas lições. Jesus é transfigurado diante dos apóstolos
para confirmar nas suas mentes aquilo que já sabem pela fé. Na sua conversa
paciente com a samaritana Jesus conduze-a a conhecê-lo como o Cristo: “Sou eu,
que falo contigo”. Da mesma forma conduz o cego de nascença da escuridão da
ignorância para a luz da fé. Este arranjo de leituras tem por objectivo
aprofundar a nossa fé para que possamos renovar ainda mais convictamente as
nossas promessas baptismais na Páscoa.
No passado domingo ouvimos esta
última lição sobre a fé antes da Semana Santa. O relato da ressurreição de
Lázaro (João 11, 1-45) coloca-nos diante do maior dos milagres de Jesus, o seu
último “sinal” no Evangelho de São João. Do início ao fim, estamos perante uma
história de fé. E a heroína da cena é Marta, a irmã ansiosa e mandona da mais
pacífica e contemplativa Maria. Em Marta vemo-nos como somos e como devíamos
ser.
Desde o início sentimos que Jesus
pretende aumentar a fé de Marta e de Maria. O Evangelista João diz-nos que
“Jesus amava Marta, a sua irmã, e Lázaro”. Depois diz, como se fosse uma
consequência lógica: “Quando ouviu que ele estava doente, permaneceu ainda dois
dias no lugar onde estava.” Como é que se explica esta demora?
Não é que nosso Senhor seja
insensível e despreocupado com o pobre Lázaro. É antes que ele permite que esta
grande tristeza recaia sobre aqueles que ama para poder retirar deles um maior
acto de fé. Ele permite que a situação ultrapasse a mera esperança humana.
Permite o desespero. Atrasa a sua resposta para lhes poder dar a oportunidade
de aumentarem a sua fé.
Porque é que Ele não vem?
Podemos imaginar Marta a fazer essa pergunta quando Jesus não chega
imediatamente. É uma pergunta que também nós colocamos sempre que as nossas
orações parecem demorar a ser atendidas. Quanto tempo, meu Deus? Esta passagem
fornece-nos, por isso, uma lição sobre a oração de intercessão. Não devemos
desistir de rezar quando não vemos resultados imediatos, ou quando as coisas
até parecem piorar. A nossa fé aumenta quando esperamos pelo Senhor. Ou, melhor
dito, quando Nosso Senhor nos faz esperar é para aumentar a nossa fé.
Quando Jesus finalmente chega,
Marta sai ao seu encontro. As suas palavras traduzem uma enorme confiança.
Começa com uma profissão de fé sobre o passado (que também serve de ligeira admoestação):
“Senhor, se tivesses estado aqui, o meu irmão não teria morrido”. Segue-se
imediatamente uma profissão de fé sobre aquilo que é possível no presente: “Mas,
ainda agora, eu sei que tudo o que pedires a Deus, Ele to concederá”, que é
como quem diz: Eu antes confiava em ti… e ainda confio. Nem a morte pode
quebrar esta confiança. Não obstante a morte de Lázaro e a aparente inutilidade
das suas orações, ela persevera na fé.
É uma pergunta que está ao
nível da que coloca a Pedro em Cesareia Filipe: “Quem dizeis vós que eu sou?”
De facto, Marta e Pedro são muito parecidos: obstinados, um pouco mandões, por
vezes atrapalhando-se a si mesmos, mas cheios de fé. Fica-se com a ideia de que
Jesus sentia por ambos uma afeição semelhante. Sem grandes surpresas Marta,
como Pedro, responde com firmeza: “Sim, Senhor; eu creio que tu és o Cristo,
O Filho de Deus que deve vir
ao mundo”.
Resta um teste, o mais duro de
todos. “Onde o pusestes?”, pergunta Jesus. Ele quer que a fé de Marta seja
posta à prova de forma extrema – na sepultura, frente a frente com o nada.
Marta tropeça um pouco, tentando impedir o milagre: “Senhor, já cheira mal,
pois é o quarto dia”. Por isso Jesus faz aquilo que já havia feito com Pedro,
repreende Marta: “Não te disse que se creres, verás a glória de Deus?” És capaz
de crer diante da morte? Confias só quando é mais fácil, ou também nos momentos
mais escuros? Consegues crer e confiar até nos momentos de maior morte?
Com estas palavras Marta submete-se.
A sua confiança é retribuída; Lázaro ressuscita.
Talvez nós fiquemos
satisfeitos com uma fé superficial. Mas Deus não. Podemos pôr limites à nossa
fé – a força ou a dimensão da nossa confiança, ou as situações em que
confiamos. Mas Deus não coloca quaisquer limites. Ele continua a puxar por nós
para aumentar a nossa fé. Aliás, Ele não fica satisfeito até que a nossa fé seja
plena, penetrando as nossas vidas todas, chegando mesmo à sepultura. Até
permite provas e sofrimentos, como a morte de uma pessoa querida, para dar mais
oportunidades à nossa fé. E se perseverarmos como Marta, também nós seremos recompensados.
O Pe. Paul Scalia é sacerdote
na diocese de Arlington, pároco da Igreja de Saint James em Falls Church e
delegado do bispo para o clero.
(Publicado pela primeira vez
no domingo, 26 de Março de 2023 em The Catholic
Thing)
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