Friday 28 December 2012

Putin, Pequim e Taizé

Oh Nikitas you will never know...
Decorre por estes dias em Roma um encontro do movimento ecuménico Taizé. Estão presentes 750 portugueses, o irmão David, único português na ordem, ajuda a explicar porquê.

Vladimir Putin promulgou hoje uma lei que proíbe a adopção de crianças russas por americanos. A Igreja Ortodoxa e a comunidade judaica temem que os órfãos estejam a pagar o preço das birras políticas dos adultos…

Os chineses encontraram um novo inimigo na sua guerra contra as auto-imolações no Tibete. Afinal a culpa é também das televisões nos mosteiros.

Neste último mail do ano deixo-vos com um convite, dirigido sobretudo a quem vive em Coimbra e no Porto e tenha interesse ou curiosidade em ouvir uma banda de música contemporânea cristã. Está tudo aqui.

Votos de uma boa passagem de ano e de um excelente Ano Novo!

Concerto "É tempo de mudar"

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Recebi ontem um e-mail de uma amiga protestante a divulgar este projecto ecuménico, que tenho todo o gosto em divulgar:

Convido-vos para os concertos "É tempo de mudar" do Projecto A Essência, que terão lugar em Coimbra e no Porto nos dias 28 e 29 de Dezembro, às 21h.

Este projecto nasceu de um grupo de amigos cristãos, católicos e protestantes, da zona de Coimbra. Transcrevo palavras que os próprios deixaram no facebook:

Criado especialmente para o público mais jovem, a nossa mensagem é que Cristo é mais do que um assunto actual, é através d´Ele que transpomos montanhas e nos fortalecemos diariamente.

"A Essência" é uma banda de louvor Cristã que se encontra no registo contemporâneo. Acreditamos que este tipo de louvor atrai e fortalece a humanidade para a essência que é Jesus Cristo! Sem imposições, nem obrigações, o amor de Deus deve brotar e fluir, de forma natural, em cada um. Assim, o nosso grande objectivo é chegar aos corações das pessoas, fazendo brilhar a mensagem de esperança e de amor de Cristo.

A nossa assinatura: É tempo de Mudar!

Thursday 27 December 2012

Natal à Nigeriana

Merry Christmas, from Boko Haram
Espero que todos tenham tido um bom Natal!



Precisamente na Nigéria, este foi um Natal como qualquer outro. Leia-se com bombas e mortos nas igrejas. É o terceiro ano consecutivo.

Não deixa de ser pertinente. Facilmente nos esquecemos que também o Natal contém um aspecto da Cruz, como escrevi recentemente a convite do Imissio.


É por estas e por outras que em média um cristão morreu pela sua fé em cada cinco minutos durante 2012, segundo o sociólogo Massimo Introvigne.

Lembram-se da senhora espanhola que decidiu “restaurar” uma imagem do Ecce Homo na sua igreja? Graças a essa pintura, a vila de Borja está a sobreviver à crise. É caso para dizer que Deus escreve direito por linhas… feias?

Parabéns à Lusa, que apresentou um pacote de reportagens. Como é que católicos, muçulmanos e judeus lidam com a crise em Lisboa?

E, possivelmente influenciado pelo ranking que elaborei sobre as notícias religiosas do ano de 2012, que colocaram o Vatileaks em 1º lugar, Bento XVI decidiu perdoar o seu ex-mordomo, que assim sai da prisão. (Eu disse possivelmente…)

Por fim, chamada de atenção para o artigo desta semana de The Catholic Thing. Howard Kainz pergunta “Que nos trouxe o Protestantismo?”, numa análise interessante sobre os efeitos da reforma para o Cristianismo ocidental.

Wednesday 26 December 2012

O que nos trouxe o Protestantismo?






Nota prévia: Tenho o privilégio de contar entre os meus leitores muitas pessoas de tradição protestante. Publico este artigo de Howard Kainz certo de que compreendam que o faço no espírito do conhecimento e troca de ideias e não como qualquer ataque mesquinho às suas crenças religiosas. Se vos servir de consolo, traduzi-o ao som de "Amamos Duvall", que Tiago Guillul simpaticamente me ofereceu antes do Natal.
Filipe d'Avillez


Duas publicações recentes partilham um tema que podíamos resumir como “O que nos trouxe o Protestantismo?”. Em “The Unintended Reformation”, o professor Brad Gregory, da Universidade de Notre Dame, enumera os desenvolvimentos históricos através dos quais o Protestantismo, cujo objectivo inicial era a reforma da Igreja, resultou em milhares de “denominações” com mensagens contraditórias, isoladas umas das outras por mecanismos secularistas de tolerância e relativismo. Em “If Protestantism is True”, Devin Rose dá conta das suas investigações teológicas pessoais que o conduziram, inesperadamente, para o seio da Igreja Católica.

Face à aparente corrupção e má gestão das autoridades eclesiais e do papado, a ideia aparentemente inspirada dos primeiros “reformadores” protestantes, era simplesmente de regressar às Escrituras para encontrar orientação. No Verão de 1519 Martinho Lutero, por exemplo, tinha chegado à conclusão que só nas escrituras é que se podia encontrar a única verdadeira e inquestionável fundação da fé e vivência cristãs. Sola scriptura.

Mas quais escrituras? Devin Rose começou a sua busca com a pressuposição de que a única autoridade infalível é a Bíblia protestante, composta de sessenta e seis livros. Mas poderia ter a certeza de que os restantes sete livros – Tobit, Judite, Sabedoria, Ben Sirá, Baruc, 1 e 2 Macabeus – da Bíblia católica não são fiáveis? Fossem quais fossem as escrituras aceites, nenhuma afirma que deve ser recebida como autoridade final. Na verdade os sessenta e seis livros incluídos na Bíblia Protestante foram inicialmente considerados “canónicos” com base na autoridade da Igreja Católica – uma fonte suspeita, aos olhos dos reformadores.

Mas mesmo partindo do princípio de que a Bíblia protestante é definitiva, qual dos reformadores devemos seguir? Tal como Devin Rose, Brad Gregory deparou-se com inúmeras discussões entre os principais reformadores, precisamente na altura em que procuravam lançar as fundações da restauração do Cristianismo:

Lutero e Melanchthon discordaram de Zwingli e dos seus aliados sobre a natureza da presença de Cristo na Ceia do Senhor... Perante o testemunho de Zwingli: “Tenho por certo que Deus me ensina, porque o experimentei”, Lutero contrapõe: “Tenham atenção a Zwingly e evitem os seus livros como se fossem o veneno infernal de Satanás...”. Muitos cristãos anti-romanos discordaram suficientemente de Lutero, Zwingly, Bucer, João Calvino e todos os outros líderes luteranos ou da reforma protestante sobre verdade de Deus ao ponto de se recusarem a prestar culto ou estar em comunhão com eles.

Mas é preciso interpretar correctamente a Bíblia. Gregory demonstra como os princípios tradicionais de interpretação foram descartados à medida que os vários reformadores, certos da sua inspiração, deixaram de se considerar obrigados a respeitar a tradição:

Os reformadores rejeitaram as interpretações e afirmações patrísticas sobre a Escritura, tal como rejeitaram a exegese medieval, os decretos papais, o direito canónico, os decretos conciliares e as práticas eclesiais em tudo quanto contradizia as suas próprias interpretações da Bíblia... Discordaram sobre o significado e a prioridade dos textos bíblicos e da relação entre esses textos e as doutrinas sobre os sacramentos, culto, graça, Igreja e por aí fora. Discordaram sobre os princípios interpretativas que deviam orientar a compreensão das Escrituras, como por exemplo a relação entre o Antigo e o Novo Testamento, ou a permissibilidade de práticas religiosas que não tinham sido explicitamente proibidas ou sancionadas na Bíblia.

Sem surpresas, a disseminação de diferentes interpretações por denominações protestantes ao longo dos séculos tem perturbado muitos dos nossos contemporâneos que procuram a mais plena expressão da verdade cristã. Devin Rose comenta:

O espectro protestante cobre agora uma grande variedade de crenças contraditórias: baptismo infantil contra baptismo de crentes, a presença, de alguma forma ou apenas simbólica, de Cristo na Eucaristia, a indissolubilidade do casamento ou a aceitação do divórcio, a condenação do aborto enquanto homicídio ou a permissibilidade do aborto, a ordenação de mulheres ou só de homens, a trindade enquanto Deus em três Pessoas ou enquanto um Deus com três propósitos. Há diferenças sobre a predestinação e o livre arbítrio, sobre se é possível perder-se a salvação, sobre a validade do “casamento” homossexual, e por aí fora... O casamento já foi, em tempos, considerado uma união indissolúvel por todos os cristãos mas, tal como a contracepção, a esterilização e o aborto, a maioria das comunidades protestantes já inverteu os seus ensinamentos sobre a impossibilidade do divórcio e recasamento, permitindo agora aos seus membros que se casem, desde que tenham obtido primeiro do seu anterior esposo um divórcio civil.

Os pais do Protestantismo
Perante uma disparidade tal de interpretações vem-nos à mente 1 Coríntios 14,8: “E, se a trombeta só emitir sons confusos, quem é que se prepara para a guerra?” A World Christian Encyclopedia afirma que existem mais de 33 mil denominações cristãs. A escolha difícil, enfrentada muitas vezes por protestantes sérios, é entre a Igreja e “igrejas”.

De acordo com Devin Rose, a consequência última e inevitável de se basear a religião num livro, mesmo um livro sagrado e inspirado como a Bíblia, foi uma variedade de interpretações contraditórias, sem que exista qualquer critério fiável de escolha para o crente. Rose foi coerente com a sua própria proposição, “se o Protestantismo é verdade”, e encontrou... a Igreja.

Brad Gregory vai ainda mais longe, traçando a origem da hegemonia actual do secularismo às discórdias incessantes e intratáveis entre protestantes e entre católicos e protestantes. Sem outra solução para harmonizar a dissensão, a Holanda foi pioneira na condução do mundo Ocidental à “liberdade de religião”. Os juízes holandeses:

Romperam com mais de um milénio de Cristianismo... ao transformar a fé “numa questão privada de preferência individual”. A liberdade de  religião protegeu a sociedade da religião e, por isso, secularizou a sociedade e a religião...

No meio desta secularização, “os cristãos americanos estão divididos em relação a todas as questões polémicas políticas e morais, do divórcio ao aborto, ao sistema de saúde e à ecologia.”

Como lidamos, então,com as “Questões de Vida” tão prementes? Gregory explica que nos voltámos para as ciências empíricas e o cientismo materialista como fonte de verdade por defeito. Depositamos a nossa confiança em ciências como a física que, depois de oitenta anos, ainda não faz a menor ideia como conciliar a teoria quântica com a teoria da relatividade; ou ciências como a psicologia evolucionária, que nos apresenta uma longa lista de comportamentos contraditórios que alegadamente têm a sua origem na evolução biológica: o Ser Humano enquanto ferozmente competitivo ou naturalmente cooperativo; essencialmente monogâmico ou polígamo; genocida ou pacífico; que cuida dos pobres ou os ignora.

Não obstante aderimos, religiosamente, à ciência como juiz supremo. Deus nos valha.


Howard Kainz é professor emérito de Filosofia na Universidade de Marquette University. Os seus livros mais recentes incluem Natural Law: an Introduction and Reexamination(2004), The Philosophy of Human Nature (2008), e The Existence of God and the Faith-Instinct (2010)

(Publicado pela primeira vez em www.thecatholicthing.com no Domingo, 23 de Dezembro de 2012)

© 2012 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte:info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Friday 21 December 2012

O mundo continua, o ranking acabou. Santo Natal!

Já foi divulgado o número 1 do meu ranking de notícias de religião de 2012. E o primeiro lugar vai para o caso Vatileaks, fantasticamente protagonizado pelo mordomo Paolo Gabriele… era óbvio não era?

Neste post podem ver a lista completa, juntamente com o que foi, para mim, a foto do ano.

De fora da contagem ficam os abusos sexuais na Igreja Portuguesa. Por um lado porque a coisa só rebentou quando eu já tinha acabado a lista, mas principalmente porque ainda estamos para ver até que ponto é que estamos perante uma avalanche de casos, como houve noutros países, ou um caso isolado numa diocese.

Ontem foi instaurado um inquérito à Ordem dos Hospitaleiros de São João de Deus. A ordem emitiu um comunicado esta tarde a dizer que não se passa nada, mas só se referem a um caso que terá sido arquivado o ano passado…


Bento XVI falou hoje à Cúria Romana e elegeu os ataques à família como um dos grandes perigos do nosso tempo. É um tema caro a Bento XVI, que não é de agora, como explica Aura Miguel num artigo de opinião.

E pronto. Resta-me desejar-vos um Santo Natal a todos, estes mails só devem regressar lá para dia 27. Podem ir vendo as últimas no Facebook. Para aqueles que sentem que o Advento passou sem darem conta, ainda têm uns dias para aproveitar! Aqui estão duas sugestões para o fazerem.

O ano religioso de 2012

Foto do ano, na minha opinião
Ao longo das últimas semanas elaborei aqui um ranking do ano de 2012 no que diz respeito às notícias de religião.

Foram dez temas e há para todos os gostos. Temos o Islão, o Judaísmo, o Cristianismo e o Budismo, temos. Temos notícias de África, da Europa, da Ásia, do Médio Oriente. Temos renovações de liderança e temos guerras intermináveis... é só escolher.

O ranking é feito com base no meu critério, não deixa por isso de ser falível, mas penso que apresenta uma bom retrato do ano e, sobretudo, releva alguns temas que passaram quase despercebidos na imprensa mas que são da maior importância.

Em 10º lugar da lista coloquei a viagem do Papa ao México e a Cuba. Contudo, a nível de imagens, penso que foi dessa viagem que surgiu a fotografia do ano, que é a que está neste post, de um manifestante a ser levado para fora da missa campal depois de ter gritado "Abaixo o Comunismo".

Aqui está a lista completa:

1 – Caso Vatileaks

2 – A Guerra Civil na Síria

3 – A Sociedade de São Pio X e os 360º

4 – Liberdade Religiosa na Europa

5 – Liberdade Religiosa nos EUA

6 – Auto-imolações no Tibete

7 – Boko Haram e o espectro da guerra religiosa na Nigéria

8 – Ofensas ao Islão e repercussões

9 – Novos líderes dos coptas e dos anglicanos

10 – Viagens do Papa a Cuba, México e Líbano

1 – Caso Vatileaks

Foi o mordomo, claro.

O caso que passou a ser conhecido como Vatileaks acabou mesmo por ser o mais mediático do ano de 2012.

Na sua essência, este caso teve a ver com a divulgação de documentos secretos do Vaticano na imprensa. Os primeiros que foram realmente notícia continuam alegações de corrupção e falta de transparência, feitas pelo actual Núncio Apostólico da Santa Sé nos Estados Unidos.

Monsenhor Viganò queixava-se, em cartas privadas ao Papa que foram divulgadas, de ter sido enviado para os EUA como castigo pelo facto de ter tentado impedir os jogos de interesses no Governo da Santa Sé. Esses casos de corrupção passavam, por exemplo, por contratar empreiteiros mais caros que a norma para a execução de obras, e coisas do género.

Inicialmente o suspeito evidente da divulgação dos documentos foi o próprio Viganò, mas rapidamente se percebeu que estava mais em jogo. Nos primeiros documentos que foram sendo divulgados, incluindo a absurda notícia sobre uma eventual conspiração para matar o Papa, a pessoa que sempre ficou pior na fotografia foi o número dois do Papa, o Cardeal Bertone.
Monsenhor Viganò

Esse facto levou muitos a especular que a divulgação de documentos secretos era uma arma no meio de uma guerra interna entre figuras da Cúria Romana.

Mas eis que é detido o Mordomo, numa viragem quase cómica de um caso que até tem bastante gravidade, pois se nestes documentos secretos do que se falava era sobretudo intriga, há certamente informação muito sensível que circula pelo Vaticano que se viesse a público poderia colocar em risco projectos importantes ou mesmo a segurança de pessoas.

Paolo Gabriele, assim se chama o mordomo, disse que tinha agido por iniciativa própria. No seu apartamento foram encontradas caixas cheias de documentação que tinham sido retiradas dos aposentos pessoais de Bento XVI. O Vaticano apressa-se a garantir que Gabriele, com a pontual ajuda de um informático da Santa Sé, tinha actuado sozinho. O mordomo não nega e é condenado a pena de prisão efectiva.

Aparentemente o encerramento deste caso iliba toda a cúria e deita por terra as teorias já mencionadas de conspirações e guerras de poder debaixo do nariz de um Papa que, diz-se, tem pouca vocação para o Governo do dia-a-dia do Vaticano. Nem todos se deixam convencer por esta versão, mas pelo menos até prova em contrário continuará a ser a oficial. Afinal de contas, a vida real é por vezes mais simples que as teorias conspirativas, talvez seja o caso aqui também.

ADENDA: No dia depois de ter escrito este texto, Bento XVI concedeu um indulto a Paolo Gabriele, que é agora um homem livre.

Thursday 20 December 2012

Bento XVI: Autor, Colunista, Papa

Paulo VI - À espera de um milagre...
Hoje o jornal económico Financial Times publicou um artigo de um alemão. O que em si não seria notícia, não fosse o alemão Bento XVI e não fosse esta a primeira vez que o Papa escreve um artigo de jornal.

O artigo é sobre o Natal mas, como tudo o que este Papa escreve (sem ser no Twitter, pelo menos), é muito profundo e tem vários recados. César das Neves considera que esta foi uma boa forma de chegar a quem passa o Natal afastado da Igreja.

Hoje a ONU disse que o conflito na Síria assumiu contornos sectários. Basicamente aquilo que nós temos estado a dizer há um ano e meio. Obrigado ONU! Saiba tudo sobre este assunto com o número dois do ranking de notícias de religião de 2012 – A guerra civil na Síria!


No muro das Lamentações é que não faltam milagres, ou melhor, falta pelo menos um, para confirmar os outros. Confuso? Envolve mais de 370 milhões de euros…


Destaque ainda para a entrevista de ontem de Aura Miguel a Isabel Almeida e Brito, directora de um colégio, sobre o lugar da Fé na vida de quem trabalha no meio do mundo. Hoje e amanhã à noite ouviremos testemunhos de um médico e de alguém do mundo do direito.

E termino com um elogio a Thereza Ameal cujo livro “As Minhas Primeiras Orações”, que consta do Plano Nacional de Leitura e foi traduzido para italiano, vai agora ser traduzido e posto à venda na Coreia do Sul! Saibam mais aqui.

Exemplo a seguir!

Numa altura em que toda a gente se queixa da situação em Portugal, nada como um exemplo de sucesso que ainda por cima apela à oração!

Apresento-vos os livros de Thereza Ameal, autora de dois livros de oração para crianças, editadas pela Paulus.

“As Minhas Primeiras Orações” teve muita saída em Portugal, tanto que foi traduzido para italiano, quando normalmente é o inverso que acontece… Como se isso não bastasse, agora vai ser publicado na Coreia do Sul, um feito magnífico para um empreendimento deste género.

Em baixo podem ver a apresentação dos livros:



A Thereza recebe os meus mails diários e enviou-me esta informação. Não me farto de dizer que é também para isto que criei esta mailing list e, mais tarde, o blogue. Deve funcionar nos dois sentidos. Não prometo falar de tudo o que me pedem, mas se não pedirem é que é mais complicado!

Desde já obrigado à Thereza, tenho todo o gosto em divulgar esta obra interessantíssima!

2 – A Guerra Civil na Síria

Mapa de distribuição religiosa na Síria
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Graças a Deus, existe a ONU!

A Organização confirmou hoje que existem militantes do Hezbollah a combater pelo regime de Bashar al-Assad, na Síria e alertou para o facto de a guerra civil naquele país ter assumido contornos de luta sectária! A sério?!

Pois este é um tema sobre o qual temos falado incansavelmente durante todo o ano, até mais, mas foi sem dúvida um dos grandes temas deste ano no que diz respeito a informação internacional e também religiosa, porque a religião desempenha um grande e importante papel neste conflito.

A guerra na Síria ajuda-nos a compreender que isto da Primavera Árabe não é um fenómeno simples, igual em todos os países. A situação na Síria não tem nada a ver com o Egipto ou com a Tunísia. Se na Tunísia a população é praticamente homogénea, e no Egipto são apenas dois os grupos etno-religiosos de peso, os muçulmanos sunitas e os cristãos, a Síria é uma manta de retalhos.

Se não vejamos:

População: Cerca de 22 milhões
Distribuição religiosa:
            Muçulmanos sunitas: 74%
            Muçulmanos de tradição xiita: 13%
            Cristãos, várias denominações: 10%
            Drusos: 3%

Mas se fosse só assim seria demasiado simples! Então temos que 9% da população é curda. Os curdos são na maioria sunitas, mas mantêm-se à parte da população árabe, por isso os árabes sunitas são apenas cerca de 65% da população total.

Entre os xiitas temos também três grupos distintos, mas o grupo principal são os alauitas, uma vertente esotérica do xiismo. Os alauitas vivem também no Líbano e na Turquia mas a maioria vive na Síria e, desde a subida ao poder da família Assad, dominam os aparelhos do poder político e militar, isto apesar de serem apenas cerca de 10% da população total.

Por fim, os cristãos pertencem a várias denominações diferentes. Há católicos (de várias igrejas), ortodoxos, arménios e protestantes. A variedade de hierarquias e uma notória falta de coordenação significam que os cristãos, mesmo que estejam de acordo, raramente falam a uma só voz.

Vamos então ao conflito. Quem é que está a lutar pela queda do regime?

O grosso dos militantes anti-Assad são árabes sunitas. São apoiados financeira e militarmente pelos países árabes sunitas do Golfo, muitos dos quais tentam impor aos grupos que financiam as suas ideologias extremistas. Contudo, alguns membros de outros grupos étnicos ou religiosos também apoiam a oposição.

E quem apoia Assad? Os alauitas, sem dúvida. Mesmo que não gostem da figura e da repressão do regime, vivem aterrorizados com o que lhes pode acontecer caso os sunitas tomem o poder. As garantias por parte da oposição de que não haverá lugar a retribuições e vinganças não parecem consolar os alauitas.

Os cristãos também apoiam, no geral, Assad. A Síria era, até há cerca de dois anos, um dos sítios mais seguros para os cristãos viverem em todo o Médio Oriente. Pela minha experiência pessoal, de contacto com cristãos sírios, mesmo antes do começo das revoltas, eles não gostavam do regime em si, mas calculavam que era um mal menor, tendo em conta o que se passava nos países à volta. Como os alauitas, temem um eventual Governo islamista sunita.

Na corda bamba estão os drusos que, mais que tudo, querem que os deixem em paz.

Complicado? Calma que ainda fica pior. É que há também os actores externos. Vejamos.

O Irão é a única potência regional xiita e faz tudo o que tem ao seu dispor para salvaguardar a sua influência regional. Uma Síria em mãos alauitas é aliada do Irão, uma Síria sunita não é. Por isso o Irão apoia Assad até porque o fim do regime impediria os iranianos de continuar a apoiar o Hezbollah, no Líbano.

O que nos leva precisamente ao Hezbollah. Esse grupo político-militar xiita é, actualmente, o mais influente no Líbano. Tem um arsenal próprio e conta com o tal apoio do Irão, que é muito significativo. Com o seu poder continua a fazer frente a Israel, como pode. Para o Hezbollah a perda da conduta Síria, por onde vêm armas do Irão, seria desastrosa. É por isso que o Hezbollah está, de facto, há muito tempo, a combater na Síria ao lado das forças armadas de Assad.

Para além dos países do Golfo que apoiam financeiramente a oposição há ainda que ter em conta a Turquia. Os turcos já não são aquele baluarte do secularismo que eram há anos, o país tem-se tornado crescentemente islâmico e à medida que a Europa vai mostrando que não a quer na União Europeia, os turcos vão virando as atenções para o Médio Oriente, conscientes de que a Primavera Árabe pode muito bem aumentar a sua influência na região.

Por isso a Turquia, um dos países sunitas mais importantes do Médio Oriente, também quer ver os sunitas no poder na Síria, de preferência com uma dívida de agradecimento para com Ancara.

E quem é que não pode ver os turcos à frente? Os curdos, pelo que esse grupo se mantém muito desconfiado em relação à oposição na Síria também.

Resumindo, uma enorme misturada, mas onde a religião é um factor chave para se compreender o que se está a passar. Não é, de certeza, uma mera questão de amantes da liberdade contra um estado tirânico.

Também é necessário realçar, claro, que há excepções. Há cristãos empenhados na oposição e há sunitas que não querem ver Assad pelas costas. A tendência até pode ser para a passagem gradual dos cristãos e outras minorias para o lado da oposição, à medida que percebem que a vida normal e calma que gozavam simplesmente não regressará.

E, claro, há muitos factores extra-religiosos na equação. O apoio da Rússia e da China a Assad tem outras raízes, por exemplo, e os EUA e Europa não apoiam certamente a oposição por amor ao Islamismo.

Actualmente a queda do regime parece ser simplesmente uma questão de tempo, mas isso não será o fim da história, é que muitos destes grupos poderão, em situações de perigo juntar-se nas suas terras ancestrais, e tentar, quem sabe, criar estruturas autónomas de Governo. Mas isso já são suposições.


Ver também:

Wednesday 19 December 2012

I want to believe!

Mulder queria fazer parte dos 84%?
Anuncio-vos uma boa nova! Depois de um mês de interrupção regressam os artigos em português de The Catholic Thing. Esta semana Howard Kainz fala do mito da Superpopulação.


E vai em seis o Patriarcas que deixam vagos os seus tronos em 2012… Agora foi o Patriarca dos Caldeus. Não morreu, mas renunciou. Em Janeiro teremos substituto.

O que é que você faria se no seu país estivesse a decorrer uma campanha de inoculação contra a poliomielite? Se é amigo dos Talibans então é natural que a sua resposta envolva assassinatos a sangue frio de funcionárias de saúde… afinal de contas o que é a campanha contra esta doença terrível que não uma tentativa de esterilizar muçulmanos?

Continuamos com o ranking de notícias de religião de 2012 e hoje entramos no Top 3. Então em terceiro lugar temos a autêntica montanha russa que foram as conversações entre os tradicionalistas da Sociedade de São Pio X e Roma.

3 - A Sociedade de São Pio X e os 360º

O líder da SSPX e o Papa Bento XVI
Todos conhecem a famosa (e provavelmente apócrifa) história do futebolista que se alegra por a sua vida ter dado uma volta de 360º…

Pois foi mais ou menos isso que se passou, até agora pelo menos, nas conversações entre o Vaticano e a Sociedade de São Pio X, que reúne os tradicionalistas que seguiram o Arcebispo Marcel Lefebvre e estão em situação de ruptura com Roma.

Durante a primeira metade do ano de 2012 falou-se e escreveu-se muito sobre a iminência da reunificação. Foi uma verdadeira montanha russa que começou com aproximação, depois aparente afastamento, depois aproximação tão grande que importantes vaticanistas e comentadores chegaram a dar o acordo por certo e, finalmente, o balde de água fria que foi a certeza de que não se tinha chegado a acordo.

Os documentos são confidenciais mas o que se sabe é que o Vaticano estava disposto a oferecer aos SSPX uma prelatura pessoal que lhes daria autonomia para se governarem, em comunhão plena com a Santa Sé. Mas ao que parece a exigência de que o grupo aceitasse que o Concílio Vaticano II não representava qualquer ruptura na doutrina da Igreja parece ter sido demais para o Bispo Fellay, actual líder do grupo, e os seus seguidores.

Muitos foram os que vaticinaram que este diálogo “ou ia ou rachava”, por assim dizer. A confirmar-se essas previsões, então rachou e os tradicionalistas poderão estar agora a sair definitivamente da órbita de Roma.

Se isso se confirmar, então é pena. Por um lado porque esta era uma reunificação muito desejada por Bento XVI, que investiu nela a grande custo pessoal. Por outro, porque assim aumenta a probabilidade de a SSPX começar a entrar na espiral de loucura que costuma caracterizar estes grupos cismáticos.

Apesar do fracasso do diálogo, pelo menos aparentemente e até agora, os efeitos não deixaram de se fazer sentir. Um dos quatro bispos tradicionalistas, o anti-semita e ferozmente anti-romano Williamson, foi afastado da sociedade e alguns padres saíram também para formar um novo grupo (acção típica da espiral de loucura de que falava).

É claro que o diálogo continua mas neste momento, e ao contrário do que pensava há seis meses, julgo que a reconciliação será bastante pouco provável.

O Mito da Superpopulação e a Nova Moralidade

Muitos dos que viveram os anos 60 recordam claramente a publicação de “A Bomba Populacional”, de Paul Ehrlich, em 1968, que assustou o público e influenciou os media no que diz respeito à percepção da demografia. Ehrlich reavivou a já desacreditada teoria de Thomas Malthus, do século dezoito, que defendia que a população mundial iria sobrepor-se sempre aos recursos alimentares a não ser que fosse drasticamente reduzida. Ehrlich avisou que na década de 70 se iriam fazer sentir grandes fomes e que até ao fim do século XX centenas de milhões morreriam de subnutrição, a Índia ia colapsar e a Inglaterra desapareceria.

O livro de Ehrlich não foi o primeiro passo no pânico geral sobre a superpopulação, tendo sido antecedida por medidas da administração Johnson. Num discurso nas Nações Unidas em 1965 Johnson disse que “cinco dólares investidos no controlo da população valem cem dólares investidos no crescimento económico”. O Presidente insistiu ainda que fossem implementados programas de esterilização na Índia como condição para apoio alimentar americano.

O controlo populacional tornou-se finalmente um dogma político quando o Memorando de Estudo da Segurança Nacional sobre as “Implicações do Crescimento Populacional Mundial para os Interesses Externos e Segurança dos Estados Unidos”, foi formalmente adoptado como política externa americana. Em 1976 um memorando pedia aos Estados Unidos que “usassem o apoio alimentar para impor o controlo populacional à escala global”.

Esta política mantém-se. Os fundos designados para apoio externo dependem do controlo populacional. Contraceptivos, e não comida ou medicamentos, são frequentemente os principais produtos entregues em áreas estratégicas. Stephen Mosher, autor de Population Control: Real Costs, Illusory Benefits, [Controlo Populacional: Custos Reais, Benefícios Imaginários] cita esta queixa de um obstetra queniano:

“O nosso sistema de saúde está em ruptura. Milhares de quenianos vão morrer de Malária, cujo tratamento custa poucos cêntimos, em clínicas cujas prateleiras estão repletas de comprimidos [contraceptivos], DIU, Norplant, Depo-Provera e por aí fora, no valor de milhões de dólares, a maioria dos quais fornecidos com dinheiro americano.”

Este desejo alargado de diminuir a população mundial é, à primeira vista, algo estranho. É que o mundo não está propriamente a ficar sem espaço. Em 2007 o site www.populationmyth.com publicou um mapa dos Estados Unidos que mostrava como os 6,5 mil milhões de pessoas então vivas no planeta conseguiam caber em cada um dos Estados do país. É verdade que em Rhode Island só se ficava com pouco mais de um metro quadrado por pessoa, mas no Texas dá quase 350 metros quadrados.

Mais recentemente o Instituto de Pesquisa Populacional (www.pop.org) deu seguimento ao exemplo do Texas e publicou no YouTube um cartoon que mostra que se todas as sete mil milhões de pessoas pudessem ser transportadas para o Texas, cada família teria espaço para ter uma casa com jardim (presumivelmente a construção de prédios daria para melhorar a média de metros quadrados por pessoa). Um engenheiro foi ainda mais longe e mostrou no seu blog www.simplyshrug.com que seria possível fornecer água e comida pelo Rio Columbia e terreno agrícola para sustentar esta migração hipotética.


O problema, portanto, não é de falta de espaço. Então o que se quer dizer por superpopulação? Evidentemente o problema é o excesso de pobres, associado à ideia de que se de alguma maneira fosse possível evitar que os pobres se reproduzissem, seriam capazes de escapar à pobreza.

Mas digamos que conseguíamos diminuir a população mundial num terço. Isso significaria a diminuição automática da percentagem de pobres? Não necessariamente. A percentagem poderia até crescer de forma astronómica. Pais envelhecidos, sem a ajuda de um número cada vez menor de filhos e parentes, dependendo do Estado; economias em ruínas devido à falta de trabalhadores, rebeldes a tomar o poder e a criar novas versões de escravatura, líderes políticos a atribuírem mais poder a si mesmos sem quaisquer restrições constitucionais, e por aí fora.

Por outras palavras, aquilo a que se chama “superpopulação” no fundo não passa do problema milenar económico-político de uma justa administração dos recursos mundiais. Trata-se de um problema político e geopolítico complexo que nunca se pode resolver com soluções simplistas como reduzir o número de pessoas no mundo. De facto, a aplicação desta “solução” levou ao perigo de um “Inverno demográfico” entre europeus, russos, japoneses e outras comunidades políticas que, por causa da descida do número de nascimentos, caminham para a “não-renovação” e possibilidade de deixarem de existir dentro de algumas gerações.

A encíclica Humane Vitae, de Paulo VI, sobre a contracepção, surgiu no mesmo ano que o livro de Ehrlich e deu lugar imediatamente a uma tempestade de protestos entre os católicos, começando por uma declaração assinada por 200 teólogos católicos e publicado no New York Times no dia 30 de Julho de 1968, que assegurava todas as pessoas com dúvidas de consciência de que se podia discordar legitimamente do Magistério quando este entrava em conflito com o “sentido dos Fiéis”. As consciências católicas, já formadas pela ortodoxia “científica” de que o mundo já estava muito sobrepovoado, passaram a justificar a sua dissensão no tema da contracepção nesta base.

Surgiram então novos conceitos de virtude. Os casais que usavam contraceptivos podiam-se orgulhar do facto de não estar a contribuir para um problema mundialmente conhecido. Não ter filhos podia ser entendido como a mais alta medida de preocupação social! Os educadores e políticos que ensinavam “sexo seguro” podiam respirar fundo, aliviados pelo facto de estarem a cumprir o seu papel em limitar o número de pobres nas cidades.

Mesmo os pró-vida podiam promover os contraceptivos como forma de diminuir o número de abortos. Governos ditatoriais, como a China, podiam impor políticas do “filho único”, enquanto os Governos de tradição mais democrática, como os Estados Unidos, podiam simplesmente exigir às seguradoras que cobrissem os custos de contraceptivos e processos de esterilização, na esperança de poder chegar a algo do género da política do “filho único” eventualmente, quando se tornasse mais aceitável para os cidadãos.

A desgraça dos grandes problemas é a tentação de recorrer a soluções simplistas para os ultrapassar. A preocupação com o acesso a, refinação ou cultivo de, e distribuição de, recursos humanos é um problema global e político interminável e perene. Mas é um problema que não pode ser resolvido, e até pode ser piorado, pelos movimentos que tentam combater a superpopulação com contraceptivos.



Howard Kainz é professor emérito de Filosofia na Universidade de Marquette University. Os seus mais recentes livros incluem Natural Law: an Introduction and Reexamination(2004), The Philosophy of Human Nature (2008), e The Existence of God and the Faith-Instinct (2010)

(Publicado pela primeira vez em www.thecatholicthing.com na Quinta-feira, 13 de Dezembro de 2012)

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Tuesday 18 December 2012

João X, Adriano Moreira e Ginjinha

João X: numa discoteca perto de si?
O que dizer perante uma tragédia como a de Newtown, nos EUA? Nada. Ou então isto: aqui podem ver a conferência de imprensa de um pai que perdeu a filha mas que fala de amor e de compaixão. Robbie Parker, que é da Igreja Mórmon, contou ainda aos jornalistas que se despediu da sua filha na manhã de sexta-feira com um beijinho e palavras… em português.

O país está cheio de “ex-padres” que em muitos casos são leais e fiéis à Igrejas e cujos conhecimentos e experiência não são aproveitados. A diocese de Viseu quer mudar isso.

João X podia perfeitamente ser o nome de um DJ ou de um rapper, mas não, neste caso é mesmo o novo Patriarca da Igreja Ortodoxa de Antioquia.


E para os lados de Óbidos não é só aldeias de Natal, chocolate e ginjinha. Há também mais de mil presépios para ver na Igreja de Gaeiras.

Sem palavras

Robbie Parker com a sua filha Emilie
Ninguém com coração terá ficado indiferente ao terrível massacre da escola de Newtown na Sexta-feira passada.

Hoje encontrei este vídeo que aqui partilho e que é verdadeiramente arrebatador.

Robbie Parker perdeu a filha de seis anos no tiroteio e convocou uma conferência de imprensa para transmitir ao mundo aquilo por que está a passar.

Parker falou da sua filha, das saudades que terá e dos dons que “o Pai celeste” lhe deu.

Num momento particularmente emotivo Parker explica que a sua família está a rezar pelas famílias de todas as vítimas incluindo a família do atirador que matou a sua filha. A palavra perdão não é pronunciada, mas está implícita.

O atirador estava a agir com a liberdade que Deus lhe concedeu, afirmou Robbie. Essa é a mesma liberdade que ele tem agora para escolher não ser consumido pelo ódio e desejo de vingança.

Enquanto via o vídeo só me ocorria que esta é, sem sombra de dúvida, uma reacção verdadeiramente cristã a uma tragédia deste calibre.

Curiosamente, ao relembrar os últimos momentos que passou com a sua filha, Parker explica que se despediu dela de manhã em português, porque estava a ensiná-la a falar a nossa língua.

Esse dado, e outros mais subtis, levaram muita gente a observar que os Parker eram provavelmente membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, mais conhecidos como Mórmones, e que tenha aprendido português durante os dois anos de missão que quase todos os mórmones de 18 aos cumprem.

A suspeita confirmou-se e descobri que Parker foi missionário no Brasil.

Independentemente de tudo o que separa as diferentes igrejas e confissões, e no caso dos mórmones a lista é bem longa, estes gestos e atitudes ultrapassam em muito qualquer divisão. Estimemo-los.

Monday 17 December 2012

Tristeza no novo continente e liberdade religiosa no velho

Vigília de oração pelas vítimas de Newtown
A tragédia de Newtown dominou o fim-de-semana. Os bispos americanos asseguram os familiares das vítimas que estão a rezar por eles e o Papa revelou-se profundamente triste pelo episódio.

O Papa recebeu hoje o Presidente da Autoridade Palestiniana, que lá esteve no contexto da viagem que está a fazer pela Europa para agradecer o reconhecimento pela ONU enquanto Estado observador.

Este fim-de-semana foi de bênção das grávidas em vários pontos do país. Em Lisboa D. Nuno Brás falou da vida de fé como único caminho para a felicidade.

E D. Jorge Ortiga, que hoje publicou a sua mensagem de Natal, disse também que o Estado e a sociedade têm de dar as mãos para resolver os problemas das pessoas.

Estamos a entrar na recta final do ranking das 10 notícias mais importantes de 2012 em termos de religião! Se bem se recordam o número 5 foi a liberdade religiosa nos EUA, no número 4 temos a liberdade religiosa na Europa. Dois continentes que enfrentam o mesmo desafio por razões completamente diferentes.

4 – Liberdade Religiosa na Europa


Uma semana mais tarde um tribunal em Colónia proibiu a circuncisão de crianças por razões religiosas, o que passados seis meses ficou novamente resolvido por forma legislativa.

Há coisa de semanas o debate sobre a matança ritual, que afecta judeus e muçulmanos, voltou a estar na ordem do dia, mas desta vez na Polónia.


À primeira vista são várias notícias diferentes, mas todas têm em comum as novas ameaças à liberdade religiosa na Europa.

Se não se tiver em conta o caso britânico, então até seria possível fingir que isto não é mais do que um continente historicamente cristão a adaptar-se a novas religiões, como o Islão, que vão chegando juntamente com as suas tradições.  No caso da matança ritual o que choca os opositores é o facto de os animais não serem atordoados quando são abatidos.

Mas não é nada disso. Os judeus vivem na Europa há milhares de anos e sempre usaram os mesmos rituais para matar animais e garantir que a carne é ritualmente pura, acontece que esses rituais são praticamente idênticos aos islâmicos. Ou seja, isto não é nada de novo. O que é novo é a ideia de que um grupo religioso, respeitável e bem implementado na sociedade, possa ser agora impedido de levar a cabo uma prática que lhe é essencial.

Com a carne, ainda vá que não vá, há comunidades judaicas e muçulmanas que não têm dimensão suficiente para garantir toda a logística necessária para montar os processos de matança que respeitem as regras kosher e halal. Podem passar muito bem sem comer carne, se assim entenderem. Mas o que dizer sobre a circuncisão?

Sejamos claros. A história da proibição, e mais tarde legalização, da circuncisão religiosa na Alemanha (por mais que tenha sido só num Estado e a verdade é que rapidamente o fenómeno se espalhou), é uma das mais importantes notícias deste ano. A circuncisão é, para os judeus e muçulmanos, o cumprimento de um mandato divino, a correspondência do povo à aliança estabelecida por Deus. Uma comunidade judaica que não pode circuncidar os seus filhos está efectivamente a ser impedida de ser judaica.

Chegámos mesmo ao tempo em que um tribunal se julga no direito de proibir algo deste género? Pelos vistos sim. Pode-se argumentar que é indiferente porque mais tarde o Parlamento legalizou a circuncisão, mas apesar de resolver o problema a solução não deixa de ser preocupante também. Efectivamente, a circuncisão é hoje legal na Alemanha por decreto, não porque é um direito inalienável dos pais, mas sim porque os políticos se deram ao luxo de o permitir. Da mesma forma poderão retirar esse direito quando quiserem. Isto é, simplesmente, inacreditável.

Inacreditável e só possível porque chegámos a um ponto em que somos governados por classes políticas para quem a sensibilidade religiosa é inexistente. O exemplo máximo disso foi a provedora das crianças na Noruega que sugeriu, qual iluminada, que os judeus e muçulmanos passassem a circuncidar os seus filhos “simbolicamente”. Simbolicamente? Que mais senhora provedora? Porque é que não pedimos aos carnívoros para passarem a comer carne apenas de forma simbólica? Baptismo simbólico para os cristãos? Afinal de contas, a água fria pode fazer mal aos pequenos.

No meio disto continua no Reino Unido a saga de duas pessoas que foram despedidas por que se recusaram a retirar crucifixos e outras duas porque disseram que eram contra o “casamento” homossexual. O caso está perante o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem porque os tribunais britânicos não reconheceram nestes despedimentos nada de anormal.

Shirley Chaplin, uma das queixosas
Uma sociedade em que eu, de um dia para o outro, tenho de deixar de usar o meu crucifixo ao pescoço, ou no qual eu perco o meu emprego porque digo que defendo que o conceito de casamento não deve ser mudado, é uma sociedade em que a liberdade religiosa está severamente ferida.

E é porque acredito que isto é uma clara tendência e não apenas um apanhado de factos isolados, que não tenho dúvidas em considerar que as notícias sobre liberdade religiosa na Europa são, no seu conjunto, uma das histórias mais importantes dos nossos tempos, às quais não se está a dar o devido valor.

Thursday 13 December 2012

Ministra secundária mais conservadora que primeiro conservador

Freiras anglicanas a caminho de Roma
O Ministério Público decidiu abrir um inquérito sobre alegados abusos sexuais no Patriarcado de Lisboa, depois de Catalina Pestana ter dito que sabia de pelo menos cinco casos. D. Nuno Brás, ontem na Renascença, saudou a decisão e estranhou ela não ter sido tomada há mais tempo, mas afirmou não ter conhecimento de nenhum caso concreto.

A Alemanha aprovou uma lei que protege a circuncisão naquele país. Sim, chegámos ao ponto em que o ritual central da mais antiga religião monoteísta do mundo tem de ser protegido por decreto…

No Reino Unido o primeiro-ministro conservador não descansa enquanto não mudar a definição do conceito de casamento. Uma sua ministra tornou-se a mais recente crítica da proposta de legalizar o “casamento” gay.


No Reino Unido uma comunidade de 11 freiras anglicanas decidiu entrar em comunhão com a Igreja Católica ao abrigo do Ordinariato de Nossa Senhora de Walsingham.

Amanhã é dia de festas de Natal nas escolas dos herdeiros, por isso não deve haver Actualidade Religiosa. Bom fim-de-semana e até segunda, se Deus quiser!

Wednesday 12 December 2012

12/12/12 e o Papa no Twitter

Foi no dia 12/12/12 que Bento XVI mandou o seu primeiro “tweet”. Mesmo assim, o mundo não acabou.

Há cada vez menos cristãos na Inglaterra, mas apesar de uma diminuição de 13% numa década, continuam a ser maioria naquele país. Ateus e agnósticos subiram 10%.

O bispo da Guarda esteve com os alunos do seminário menor do Fundão e com as suas famílias. Até agora a resposta de D. Manuel Felício a este escândalo está a ser exemplar, ao que tudo indica.

No Egipto foi hoje detido um activista ateu, acusado de blasfémia e ofensas à religião. Alber Saber não discriminava e ofendia cristãos e muçulmanos de forma igual.

Estamos já a meio da tabela do Ranking de 2012 de notícias de religião. Hoje olhamos mais de perto a “guerra” entre Obama e os bispos católicos americanos.

Atenção a todos os que interessam pelo diálogo inter-religioso. No próximo domingo, dia 16, estarei presente numa tertúlia no LX Factory para falar deste assunto, juntamente com Ajahn Vajiro (um monge budista), o muçulmano António Barahona e Pedro Teixeira da Mota. É às 16h, na Ask For Alchemy, no edifício 4. Há um custo de 5 euros para não-sócios, mas com direito a lanche e a conversa promete ser interessante. Apareçam e divulguem!

5 – Liberdade Religiosa nos EUA

Assistimos em 2012 a uma luta hercúlea nos Estados Unidos que opôs a hierarquia da Igreja Católica à Presidência, que está longe de terminar. Em causa está a liberdade religiosa, um dos direitos fundamentais para aquele país e que os bispos consideram estar a ser posta em causa pelo Governo.

No centro da questão está o plano de reforma do sistema de saúde que foi a grande bandeira de Obama no seu primeiro mandato. Os bispos até apoiaram a passagem de ObamaCare, como passou a ser conhecido, mas não esperavam o decreto que foi emitido o ano passado que obriga muitas instituições religiosas a fornecer aos seus funcionários seguros de saúde que incluam a cobertura de serviços abortivos e contraceptivos.

De fora ficam as igrejas propriamente ditas, ou seja, uma pessoa que esteja empregada como organista ou como sacristã não tem direito a um seguro com estes serviços. Mas de fora fica tudo o que são hospitais, universidades e escolas, por exemplo. Ou seja, um hospital católico tem de pagar os serviços abortivos e contraceptivos de que os seus funcionários eventualmente queiram beneficiar.

E que dizer das empresas privadas? São muitos os católicos que já contestaram este decreto por via judicial, não aceitando que o Estado os obrigue a financiar um serviço não essencial que ainda por cima atenta contra os seus valores morais.

Obama v. Católicos
Os bispos queixaram-se imediatamente e à primeira vista Obama ofereceu um compromisso. O custo desses serviços seria suportado pelas seguradoras e não pela instituição. Mas rapidamente se percebeu que essa não era solução nenhuma. Por um lado porque a seguradora simplesmente iria aumentar o prémio, por outro porque muitas instituições não recorrem a seguradoras externas, preferindo gerir os seus próprios sistemas de seguro, pelo que a decisão nada resolve.

O episcopado norte-americano, habilmente liderado pelo Arcebispo de Nova Iorque, Cardeal Timothy Dolan, não cruzou os braços. Num movimento inédito naquele país todos os bispos se declararam contra a medida. Nem uma dissensão. Aos católicos juntaram-se vários outros líderes religiosos que, não tendo nada de especial contra a contracepção viam com alarme este ataque à liberdade religiosa. Obama não cedeu.

Estavam lançados os dados para uma guerra épica entre as duas instituições. Igreja contra Presidente. Sobretudo em ano de eleições.

Sem o apoiar oficialmente os bispos pareceram colocar o seu peso por detrás de Mitt Romney, a derrota de Obama seria para eles uma enorme vitória. Mas essa expectativa gorou-se. Obama ganhou e os bispos perderam.

E agora? Do ponto de vista da Igreja há uma memória histórica. O Cristianismo nasce precisamente de uma aparente enorme derrota. Os primeiros tempos da Igreja são de derrota após derrota, perseguição após perseguição. Mas haverá maior derrota que não lutar?

Dolan não cruza os braços...
Dolan e os seus colegas no episcopado percebem que esta guerra é crucial e não mostram sinais de ceder. Temem o que poderá vir a seguir. Quando o Governo pode mandar uma Igreja pagar abortos dos seus empregados, alguma coisa estará segura?

Mas a batalha trava-se também noutros campos, sobretudo no judicial. Aqui há boas possibilidades de o Supremo considerar que esse decreto em particular é inconstitucional e aí voltaria tudo à estaca zero e os bispos sairiam triunfantes.

Contudo, há uma coisa que nenhuma decisão judicial pode disfarçar. É que os bispos falaram, falaram a uma só voz e falaram com firmeza, mas os fiéis também falaram, nas urnas, e a maioria dos católicos deu o seu voto a Obama, o Presidente mais pró-aborto da história da América, que quer obrigar os bispos a comprar preservativos.

Claro que o número tem nuances. A maioria dos católicos praticantes votou em Romney, a maioria dos não praticantes votou em Obama. O problema está, portanto, em haver mais não praticantes que praticantes. E esse é um problema que os bispos têm de resolver internamente.

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