Filip Mazurczak |
Em vez de nos desencorajar na nossa fé, porém, estas
revelações de maus condutos de homens e de mulheres na Igreja devem ser uma
oportunidade para a nossa conversão pessoal, e um apelo ao testemunho cristão.
Quando lemos sobre os crimes cometidos contra jovens
pelos padres, devemos manter as coisas em perspectiva. No seu estudo “Padres
e Pedófilos”, o historiador e especialista em justiça criminal Philip
Jenkins (um anglicano que abandonou a Igreja Católica há décadas e que, por
isso, não pode ser acusado de preconceito a favor do Catolicismo), estimou que
entre 1,5 e 3,5% de todos os padres nos Estados Unidos possam ter abusado
sexualmente de menores.
Não faço ideia quais os dados correspondentes para clero
de outras denominações, padres, treinadores, médicos ou outros que trabalham
com jovens. Mas calculo que esses e outros grupos não se importariam de ter um
número assim tão baixo.
Ao longo do ano passado aprendemos uma coisa que para
muitos já era evidente, que Hollywood está repleta de predadores. As altas
figuras de “Tinseltown” gostam de pensar que são muito superiores a nós, mas
responderam aos crimes sexuais de Harvey Weinstein – olhando para o outro lado
diante dos encobrimentos – de forma pouco diferente de alguns dos piores bispos
em relação aos abusos sexuais praticados por padres.
Quando falamos destes escândalos com os nossos amigos não
católicos, devemos informá-los destes factos, recordando-nos que uma das
bem-aventuranças de Jesus é instruir os ignorantes. Ao mesmo tempo, porém, é
compreensível que o mundo espere mais da Igreja Católica, que afirma ter sido
fundada por Jesus Cristo. Ainda que todas as conferências episcopais do mundo
adoptem procedimentos que evitem que cada homem com tendências malévolas tenha
acesso ao seminário, e ainda que as autoridades civis e eclesiásticas respondam
de forma imediata e severa às acusações de abuso – e espero que assim seja –
continuará a haver maldade entre o clero.
A razão simples para isto está na nossa própria natureza.
Por causa do pecado original, todos somos capazes de fazer mal ao nosso
próximo. Os padres são homens e ao longo da história não há falta de casos
escandalosos entre eles. Depois das Cruzadas, os Cavaleiros Teutónicos, uma
ordem militar, utilizaram a espada para converter ao Cristianismo as últimas
tribos pagãs dos Bálticos.
Durante a II Guerra Mundial um padre eslovaco, o demoníaco
Monsenhor Jozef Tiso, chefiou um dos piores estados fantoche dos nazis. Apesar
de frequentemente utilizarmos os termos “santo” e “pecador” como opostos, os
santos também pecam. O que faz deles santos é o facto de terem consciência da
sua natureza decaída e se confessarem muito mais frequentemente que a maioria
de nós (São João Paulo II, por exemplo, confessava-se todas as semanas), e se
esforçam por ser melhores.
Monsenhor Jozef Tiso |
Devemos rezar pela conversão dos padres que espalham o
escândalo, recordando-nos que mesmo os casos aparentemente mais graves são
capazes de dar a volta às suas vidas e dar testemunho. Há um exemplo muito
bonito no romance “O Poder e a Glória” de Graham Greene, sobre um padre que não
tem levado a sério os seus votos de celibato e que tem um problema de álcool,
mas que acaba por escolher o martírio no México da década de 1920.
Acima de tudo, quando ouvimos histórias de padres que dão
mau nome à Igreja, devemos ser nós próprios a dar testemunho cristão a nível
local, nas nossas famílias e no nosso trabalho, nas nossas universidades, entre
amigos e onde quer que seja possível.
Quando a maior parte das pessoas ouve falar na Igreja
pensam vem-lhes à cabeça imagens de bispos com mitras, a Basílica de São Pedro,
ou possivelmente o pároco local. Mas os leigos também são Igreja. Para além dos
generais em Roma e dos Coronéis que lideram as nossas dioceses, a Igreja é
composta por mais de mil milhões de soldados rasos de Deus. Por isso, quando
ouvimos dizer que há pessoas que estão a abandonar a fé por causa dos pecados
dos membros da Igreja, em vez de nos limitarmos a criticar “os padres” ou “os
bispos”, devemos perguntar se as nossas acções não feriram também os nossos
vizinhos. Seremos nós bons mensageiros do ensinamento de Cristo nas nossas
vidas diárias?
Se o mal feito por pessoas que afirmam ser católicas pode
afastar as pessoas, então segue-se logicamente que o testemunho de católicos
santos os pode atrair. O jornalista britânico Malcolm Muggeridge foi criado
numa família ateia. Em 1969 viajou a Calcutá para fazer um documentário e
escrever um livro sobre Madre Teresa e o seu trabalho entre os mais pobres.
Muggeridge ficou de tal forma impressionado pelo seu testemunho que quando
regressou a Inglaterra se converteu ao Cristianismo e, eventualmente, ao
Catolicismo.
A maior parte de nós não somos capazes da caridade heroica
de Madre Teresa, mas podemo-nos esforçar mais para viver melhor os Evangelhos
no nosso dia-a-dia. Devemos examinar os nossos próprios pecados, confessar-nos
e pensar no que fazer para sermos melhores católicos.
Quando ouvirmos falar de bispos ou cardeais que fazem
coisas terríveis, esse pode ser o sinal para nos oferecermos para trabalhar num
banco alimentar, ou num centro para deficientes. Se temos família ou amigos que
lutam contra diversos problemas, mas com quem não falamos há algum tempo, então
este é o momento para ligar. Se estamos de relações cortadas com alguém que nos
é próximo, devemo-nos reconciliar. Mesmo as coisas mais pequenas, feitas com o
espírito certo, são caridade católica em ação.
Para além de rezar, a maioria dos católicos leigos pouco
pode fazer no sentido de influenciar a conduta da hierarquia e do clero (à
excepção, porventura, daqueles que conhecemos pessoalmente). Mas nós somos parte
da Igreja tal como eles e podemos, sem dúvida, afectar a percepção que algumas
pessoas têm do catolicismo e talvez até, pelos desígnios insondáveis de Deus,
contribuir para algumas conversões.
Filip Mazurczak contribui regularmente para o Katolicki Miesięcznik “LIST”.
Os seus textos já apareceram também no First Things, The European
Conservative e Tygodnik
Powszechny.
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