Michele Malia McAloon |
Eu queria ver em que consistia esta “cerimónia de bênção”
para todos os casais, independentemente da sua orientação sexual. Enquanto advogada
de direito canónico que trabalha na área de processos de nulidade e de
casamentos, estava interessada em ver que tipo de cerimónia seria esta, para
pessoas que ou não estavam para se chatear com um casamento sacramental, ou
então não compreendem que nem todas as proclamações de “amor” favorecem o
florescimento humano.
Esta iniciativa, que abrangeu toda a nação alemã, foi
organizada por padres, diáconos e voluntários católicos que pensam, erradamente,
que têm o direito e o dever de rejeitar a decisão de Março da Congregação para
a Doutrina da Fé de que as uniões homossexuais não podem ser abençoadas. O site
que promovia as cerimónias anunciava orgulhosamente: “Erguemos as nossas vozes
e dizemos: Continuamos a colocar-nos ao lado daqueles que se comprometem numa
relação vinculativa, e abençoamos as suas relações”.
Enquanto me instalava nas filas detrás da Igreja, rezei
para que ninguém comparecesse. Esperava encontrar uma igreja vazia, e então
iria alegremente jantar. Tanto quanto conseguia perceber, muito poucos casais
tinham-se registado no site, como se pedia. E, de facto, só lá encontrei três
casais – dois casais heterossexuais e um par de homens homossexuais.
No santuário, junto ao altar, estava um sacerdote e uma
mulher vestida de diácono. Outro homem com um hábito castanho estava sentado, a
tocar guitarra. O altar estava despido, à excepção de algumas velas. Ninguém se
preocupou em levantar-se quando o padre entrou, nem em fazer o Sinal da Cruz. O
“serviço” abriu com uma série de músicas folclóricas, cantadas pela mulher com a
casula.
Toda a charada estava repleta de ironias, mas talvez a
maior fosse o facto de estarmos a poucos metros de um famoso órgão pelo qual a
pequena igreja, fundada em 1331 pelos antonitas e entregue às clarissas em
1620, é conhecida.
Durante todo o processo não houve a menor interação com a
congregação. A mesma mulher aproximou-se do altar sem qualquer sinal de reverência
exterior pela presença do Senhor no sacrário e fez uma homilia de 15 minutos sobre
o amor. Depois dessa homilia, e de mais uma música, o padre fez uma leitura.
Mais uma vez, ninguém se preocupou em levantar-se.
Depois, pediu aos casais que se levantassem e lessem
algum tipo de declaração de amor um pelo outro. Não houve beijos para selar o
acordo, nem qualquer sinal exterior de afeição. Toda a gente se sentou. A
mulher cantou mais um bocado e em menos de 30 minutos tudo tinha acabado.
O padre aproximou-se de mim no final e, para dizer a
verdade, só me consegui afastar. Não há palavras em inglês ou em alemão que
pudessem justificar um tal gesto cismático por parte de qualquer pessoa na
Igreja.
São Bonifácio |
Não houve trajes nupciais. Os casais estavam vestidos de
calças de ganga e camisolas. Tudo se passou sem champagne, bolo, jantar, amigos
e família juntos para celebrar o começo de uma comunidade de vida e de amor.
A terra de Martinho Lutero continua sujeita a fortes
restrições por causa da Covid-19, por isso não havia restaurantes abertos para
celebrar aquilo que tinha acontecido. Será que os casais voltaram para casa e
festejaram com um jantar de restos e de Netflix? Terá esta bênção transmitido magicamente
a ideia de que um compromisso para a vida toda tem de facto a ver com o
trabalho duro e nada romântico de salvação e redenção, enquanto esposos que dão
a vida um ao outro com o objetivo de levarem-se um ao outro até ao Céu?
Ou será que tudo não passou de uma farsa politica/ideológica?
Em vez da concessão de graça dada pelo Espírito Santo por
via de um verdadeiro sacramento, os casais que alegadamente procuravam a
riqueza dos tesouros da Igreja receberam migalhas sacramentais das mãos dos padres
que deviam ser os primeiros a saber a diferença entre verdadeira empatia e falsa
“compaixão”.
No final de contas, nada saiu de tudo isto para além da
manipulação de pessoas para fazer uma espécie de afirmação política sobre casamento
homossexual e um manguito adolescente para o Vaticano.
Enquanto regressava ao meu carro, passei por uma estátua
de tamanho real de São Bonifácio, bispo e mártir (680-754 AD) que está diante
da Catedral de Mainz. Durante a sua vida este santo anglo-saxónico tornou-se
conhecido como o Apóstolo do povo germânico, depois de ter derrubado com um
machado uma árvore sagrada, adorada pelos pagãos germânicos.
De acordo com a lenda, São Bonifácio usou a madeira da
árvore para construir uma igreja dedicada a São Pedro. Quando se tornou
arcebispo de Mainz, em 752, recebeu como pálio um pano que tinha sido colocado sobre
o túmulo de São Pedro.
São Bonifácio foi martirizado por causa da sua fidelidade
aos ensinamentos da Igreja, destemido apesar das muitas ameaças feitas por adoradores
de falsos deuses. Quem diria que a sua vida santa seria, depois de séculos de Cristianismo
na Alemanha, um comentário irónico sobre aqueles que preferem o cisma à unidade,
o individualismo indulgente à comunidade e a destruição social à graça
vivificante?
São Bonifácio, rogai pela Alemanha – e por nós.
Michele Malia McAloon é casada há quase 28 anos. É mãe,
oficial das Forças Armadas americanas na reserva e advogada de direito
canónico. Vive em Wiesbaden,
na Alemanha. Pode ouvir o seu podcast “Cross Word” no Spotify, Apple
Podcasts e archangelradio.com.
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing no sábado, 20 de Maio de 2021)
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