Stephen P. White |
Quem
é que reedificará a Igreja? De onde virá a renovação que todos sabemos ser
necessária, e que tanto desejamos ver? Dos bispos? De Roma? Já disse várias
vezes: Se algum dia chegar, uma autêntica reforma da Igreja virá através de, e
com, o bispo de Roma e os bispos em comunhão com ele. Mas para quem tem fé isso
não passa de uma tautologia, não nos leva muito longe.
Confiar
que o Senhor preservará a sua Igreja não requer que acreditemos ou esperemos
que a reforma surja de Roma ou que comece por iniciativa de um dos sucessores
dos apóstolos. A história revela que a maioria das reformas eclesiais não
começaram com o Papa. A maioria das reformas não começaram sequer com os
bispos. O padrão é sempre o mesmo, a renovação começa com a santidade, esteja
ela onde estiver.
A
santidade não é património do clero. Aliás, a santidade não é só para quem é
ordenado. O chamamento à santidade é universal e estende-se a todos os
baptizados, ou melhor, a toda a humanidade. Estive uma vez numa conferência em
que alguém estava a comentar uma frase do Papa Francisco sobre a santidade. Ao
meu lado estava uma conhecida activista de justiça social, que exclamou: “Eu nunca
pensei em santidade, nem um dia na minha vida”. Não duvido minimamente.
E
porque não? Porque há muito trabalho a fazer neste Vale de Lágrimas que não
requer sequer uma gota de santidade. Ser uma pessoa decente não nos obriga a
sermos perfeitos como o Pai no Céu é perfeito. Mas somos chamados a mais, muito
mais do que isso.
Na
sua primeira homilia como Papa, Francisco alertava todos os que o acabavam de
eleger para a futilidade das boas obras que não proclamam Cristo:
“Podemos
edificar um monte de coisas, mas se não confessarmos Jesus Cristo, está errado.
Tornar-nos-emos uma ONG sócio-caritativa, mas não a Igreja, Esposa do Senhor.
Quando não se caminha, ficamos parados. Quando não se edifica sobre as pedras,
que acontece? Acontece o mesmo que às crianças na praia quando fazem castelos
de areia: tudo se desmorona, não tem consistência.”
Se
nos esquecermos disto – se os nossos esforços, por mais bem-intencionados que sejam, se
separarem da proclamação da Boa Nova – então os nossos esforços não só falharão,
mas tornarão as coisas piores. “Quando não confessamos Jesus Cristo”, diz o Papa, “confessamos
o mundanismo do diabo, o mundanismo do demónio”.
A
questão é esta: o trabalho de restaurar a Igreja – de abordar as necessidades
urgentes do momento, de procurar a justiça de forma sincera, de restaurar o
Corpo maltratado de Cristo – não se pode substituir à proclamação do Evangelho.
São uma e a mesma coisa. Agora, neste momento de crise, não é tempo de colocar
a evangelização de lado para lidar com problemas aparentemente mais urgentes: “Deixem
os mortos enterrar os seus mortos. Vai e proclama o Reino de Deus”.
O
arcebispo Charles Chaput, da Filadélfia, disse-o de uma forma belíssima. As
suas palavras são de 2012, mas adaptam-se perfeitamente aos nossos dias:
O pecado faz parte
do território humano e é uma ameaça diária ao nosso discipulado. E se os nossos
corações enregelarem, se as nossas mentes se fecharem, se os nossos espíritos
se tornarem gordos e gananciosos, aninhados na nossa pilha de bens, então a
Igreja neste país murchará. Aconteceu antes, noutros tempos e noutros lugares,
e pode acontecer aqui. Não podemos mudar o mundo sozinhos. E não podemos
reinventar a Igreja. Mas podemos ajudar Deus a mudar-nos a nós. Podemos viver a
nossa fé com zelo e com convicção – e Deus tratará do resto.
O
Senhor está a purificar a sua Igreja. Ainda bem, dizemos nós. Não era sem
tempo, dizemos. Mas estamos dispostos a deixá-lo purificar-nos a nós?
Podemos mesmo esperar que a Igreja seja purificada e, ao mesmo tempo, esperar
que nós, que somos membros da Igreja, sejamos poupados à dor e à angústia dessa
purificação?
Quem
restaurará a Igreja? Ele. E se estivermos dispostos, Ele realizará grandes
coisas através de nós. Só nos custará tudo – o que afinal de contas não é nada.
Tomai,
Senhor, e recebei, toda a minha liberdade, a minha memória, o meu entendimento
e toda a minha vontade, tudo o que tenho e possuo; Vós mo destes, a Vós,
Senhor, o restituo. Tudo é vosso, disponde de tudo, à vossa inteira vontade. Dai-me
o vosso amor e graça, que esta me basta. (Uma oração de Santo Inácio de Loyola)
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