Ambos os episódios resultaram em revolta e protestos por
parte da comunidade muçulmana um pouco por todo o mundo, apesar de terem sido
radicalmente diferentes.
O primeiro caso, em Kandahar, parece ter sido um caso de
descuido por parte de funcionários da NATO que se estavam a desfazer de livros
e documentos velhos numa lixeira. Os exemplares do Alcorão estariam lá, segundo
a explicação oficial, porque tinham sido confiscados à biblioteca de uma prisão
local uma vez que os reclusos os estavam a usar para passar recados uns aos
outros.
Só os
mais adeptos das teorias da conspiração é que acreditam que as forças da NATO
procuraram profanar livros sagrados de forma propositada, mas
independentemente disso, o episódio é um exemplo das grandes falhas de
abordagem neste tipo de operações em que ocidentais entram em países orientais,
neste caso muçulmanos, num contexto militar.
Não havia ninguém ali que soubesse ler árabe? Queimam
livros, num país daqueles e naquela situação, sem saber o que estão a
incinerar? Santa inocência… o resultado esteve à vista. Revolta, manifestações,
atentados, ameaças e um grande golpe na credibilidade do Ocidente e um
pedido de perdão por parte de Obama que levou muita gente a pensar se ele
teria feito o mesmo se o livro sagrado fosse outro…
Já o caso do filme “A Inocência dos Muçulmanos” é totalmente
diverso. Aqui estamos perante uma mistura de factores particularmente
interessantes. Um
filme de péssima qualidade, que tem por único objectivo difamar uma religião e
incendiar um ambiente já de si naturalmente tenso, produzido por cristãos
árabes que depois, numa primeira tentativa de evitar a responsabilidade, culpam
os judeus!
O filme
foi feito por cristãos coptas a viver nos Estados Unidos, Canadá e Austrália.
Um dos principais já tinha sido preso por fraude. Por má que seja a produção, é
claro que foi considerada ofensiva por muçulmanos que depois trataram de
divulgar pelo resto do mundo islâmico o “trailer” que foi praticamente tudo que
a maioria das pessoas acabou por ver.
O facto de os autores terem tentado esconder-se por detrás
de identidades falsas judaicas é prova também da enorme desconfiança, para não
dizer ódio, que a maioria dos cristãos árabes sente pro Israel, em contraste
com grande parte dos cristãos ocidentais que se identificam mais rapidamente
com o Estado judaico do que com os regimes muçulmanos.
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