Uma semana mais tarde um
tribunal em Colónia proibiu a circuncisão de crianças por razões religiosas,
o que passados seis meses ficou novamente resolvido por forma legislativa.
Há coisa de semanas o debate sobre a matança ritual, que
afecta judeus e muçulmanos, voltou a estar na ordem do dia, mas desta vez na
Polónia.
E enquanto se passa tudo isto, o
Tribunal Europeu dos Direitos do Homem tem diante de si um caso de vários
britânicos que processaram o seu país pelo direito a poderem usar símbolos
cristãos, como por exemplo no local de trabalho.
À primeira vista são várias notícias diferentes, mas todas
têm em comum as novas ameaças à liberdade religiosa na Europa.
Se não se tiver em conta o caso britânico, então até seria
possível fingir que isto não é mais do que um continente historicamente cristão
a adaptar-se a novas religiões, como o Islão, que vão chegando juntamente com
as suas tradições. No caso da matança
ritual o que choca os opositores é o facto de os animais não serem atordoados
quando são abatidos.
Mas não é nada disso. Os judeus vivem na Europa há milhares
de anos e sempre usaram os mesmos rituais para matar animais e garantir que a
carne é ritualmente pura, acontece que esses rituais são praticamente idênticos
aos islâmicos. Ou seja, isto não é nada de novo. O que é novo é a ideia de que
um grupo religioso, respeitável e bem implementado na sociedade, possa ser
agora impedido de levar a cabo uma prática que lhe é essencial.
Com a carne, ainda vá que não vá, há comunidades judaicas e
muçulmanas que não têm dimensão suficiente para garantir toda a logística
necessária para montar os processos de matança que respeitem as regras kosher e
halal. Podem passar muito bem sem comer carne, se assim entenderem. Mas o que
dizer sobre a circuncisão?
Sejamos claros. A história da proibição, e mais
tarde legalização, da circuncisão religiosa na Alemanha (por mais que tenha
sido só num Estado e a verdade é que rapidamente o fenómeno se espalhou), é uma
das mais importantes notícias deste ano. A circuncisão é, para os judeus e
muçulmanos, o cumprimento de um mandato divino, a correspondência do povo à
aliança estabelecida por Deus. Uma comunidade judaica que não pode circuncidar
os seus filhos está efectivamente a ser impedida de ser judaica.
Chegámos mesmo ao tempo em que um tribunal se julga no
direito de proibir algo deste género? Pelos vistos sim. Pode-se argumentar que é
indiferente porque mais tarde o Parlamento legalizou a circuncisão, mas apesar
de resolver o problema a solução não deixa de ser preocupante também.
Efectivamente, a circuncisão é hoje legal na Alemanha por decreto, não porque é
um direito inalienável dos pais, mas sim porque os políticos se deram ao luxo
de o permitir. Da mesma forma poderão retirar esse direito quando quiserem.
Isto é, simplesmente, inacreditável.
Inacreditável e só possível porque chegámos a um ponto em
que somos governados por classes políticas para quem a sensibilidade religiosa
é inexistente. O exemplo máximo disso foi a provedora das crianças na Noruega que
sugeriu, qual iluminada, que os judeus e muçulmanos passassem a circuncidar os
seus filhos “simbolicamente”. Simbolicamente? Que mais senhora provedora?
Porque é que não pedimos aos carnívoros para passarem a comer carne apenas de
forma simbólica? Baptismo simbólico para os cristãos? Afinal de contas, a água
fria pode fazer mal aos pequenos.
No meio disto continua no Reino Unido a saga de
duas pessoas que foram despedidas por que se recusaram a retirar crucifixos e
outras duas porque disseram que eram contra o “casamento” homossexual. O
caso está perante o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem porque os tribunais
britânicos não reconheceram nestes despedimentos nada de anormal.
Shirley Chaplin, uma das queixosas |
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