Monday 3 December 2012

10 – Viagens do Papa a Cuba, México e Líbano

Ao longo das próximas semanas vou publicar aqui um ranking das mais importantes notícias religiosas do ano de 2012. O critério é unicamente meu e quaisquer comentários são bem-vindos!

Em jeito de contagem decrescente, vejamos então qual foi a décima notícia mais importante...



As Viagens do Papa a Cuba, México e Líbano

Das várias viagens que o Papa empreendeu este ano escolhi estas por serem as mais significativas.

A visita à América Latina, em Março, que levou o Papa primeiro ao México e depois a Cuba foi especial por várias razões. Num caso estamos perante um país fortemente católico mas que viveu durante várias décadas debaixo de um regime totalmente anticristão onde a Igreja foi perseguida duramente, ao ponto de o povo ter pegado em armas para defender a sua fé, nas guerras que ficaram conhecidas como a Cristada.

A ida ao México foi, por isso, uma oportunidade de fazer as pazes com um país que está em mudança e que constitui um baluarte do Catolicismo naquele lado do Atlântico. Não podemos esquecer, por exemplo, que a população católica dos EUA está a crescer a olhos vistos em grande parte devido à entrada de imigrantes mexicanos.

Mas o ponto alto da viagem foi sem dúvida a ida a Cuba e aqui valeu tanto pelo seu conteúdo como pelas incríveis imagens que nos chegaram.

Desde a missa celebrada a céu aberto diante de gigantes painéis de Ché Guevara até à fotografia, para mim uma das mais fortes do ano, de um manifestante a ser levado da missa campal depois de ter gritado “Abaixo ao Comunismo”.

O encontro final entre Bento XVI e Fidel Castro foi também interessante e comovente. Toda a viagem revelou, no meu entender, uma vitória para a Igreja num local onde ela é já pouco conhecida depois de duas gerações de total supressão, mas onde se reinventou como fonte de apoio para movimentos civis de resistência ao regime.

Eventos deste género são sempre, também, vitórias para os regimes que assim se credibilizam, mas neste caso em particular fê-lo à custa da sua própria doutrina, na qual duvido que os próprios líderes ainda acreditem. Bento XVI falou sem medos e sem cerimónias sobre a situação política da ilha, com uma elevação intelectual e uma franqueza que lhe são características e manteve a tradição de transformar mais um “fracasso internacional”, como a imprensa insiste em descrever antecipadamente todas as suas viagens, num retumbante sucesso com banhos de multidão.

Mais tarde, em Setembro, o Papa foi ao Líbano.

Multidões para ver o Papa no Líbano
Esta notícia era importante por duas razões. A primeira, como é evidente, por causa da região e da situação geopolítica, sempre instável, mas particularmente difícil por causa da Guerra na Síria. Nesse sentido, como factor de esperança e mensagem de paz a viagem foi marcante e da maior importância. As centenas de milhares de pessoas que foram ver o Papa são o testemunho de uma Igreja viva no Médio Oriente e os encontros inter-religiosos mostram que a religião pode ser fonte de muita da violência no mundo, mas também há quem esteja apostado em usá-la para a paz.

O lado menos positivo terá sido, talvez, a própria exortação apostólica que o Papa foi ao Líbano entregar. O documento resulta do sínodo para os bispos do Médio Oriente, que decorreu em 2010, e embora tenha incluído alguns bonitos apelos à paz e considerações sobre a região, muitas das questões práticas que foram levantadas pelos padres sinodais foram simplesmente esquecidas. Dois exemplos claros são a autoridade dos patriarcas e demais líderes de Igrejas orientais sobre os seus fiéis a residir fora dos territórios patriarcais tradicionais e ainda a proibição, anacrónica, de estas igrejas ordenarem homens casados fora dos mesmos territórios.

Não se percebe, por exemplo, porque é que os católicos maronitas a viver nos EUA não dependem directamente do Patriarca dos Maronitas mas sim de Roma, nem é aceitável que a Igreja Greco-Católica da Ucrânia possa ordenar homens casados em Kiev, mas não em Nova Iorque.

Os sínodos de bispos de pouco servirão enquanto Roma continuar a fazer o que quiser das suas deliberações, digo eu.

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