No centro da questão está o plano de reforma do sistema de
saúde que foi a grande bandeira de Obama no seu primeiro mandato. Os bispos até
apoiaram a passagem de ObamaCare, como passou a ser conhecido, mas não
esperavam o decreto que foi emitido o ano passado que obriga muitas
instituições religiosas a fornecer aos seus funcionários seguros de saúde que
incluam a cobertura de serviços abortivos e contraceptivos.
De fora ficam as igrejas propriamente ditas, ou seja, uma
pessoa que esteja empregada como organista ou como sacristã não tem direito a um
seguro com estes serviços. Mas de fora fica tudo o que são hospitais,
universidades e escolas, por exemplo. Ou seja, um hospital católico tem de
pagar os serviços abortivos e contraceptivos de que os seus funcionários
eventualmente queiram beneficiar.
E que dizer das empresas privadas? São muitos os católicos
que já contestaram este decreto por via judicial, não aceitando que o Estado os
obrigue a financiar um serviço não essencial que ainda por
cima atenta contra os seus valores morais.
Obama v. Católicos |
O episcopado norte-americano, habilmente liderado pelo Arcebispo
de Nova Iorque, Cardeal Timothy Dolan, não
cruzou os braços. Num movimento inédito naquele país todos os bispos se
declararam contra a medida. Nem uma
dissensão. Aos católicos juntaram-se
vários outros líderes religiosos que, não tendo nada de especial contra a
contracepção viam com alarme este
ataque à liberdade religiosa. Obama não cedeu.
Estavam lançados os dados para uma guerra épica entre as
duas instituições. Igreja contra Presidente. Sobretudo
em ano de eleições.
Sem o apoiar oficialmente os bispos pareceram colocar o seu
peso por detrás de Mitt Romney, a derrota de Obama seria para eles uma enorme
vitória. Mas
essa expectativa gorou-se. Obama
ganhou e os bispos perderam.
E agora? Do ponto de vista da Igreja há uma memória
histórica. O Cristianismo nasce precisamente de uma aparente enorme derrota. Os
primeiros tempos da Igreja são de derrota após derrota, perseguição após
perseguição. Mas haverá maior derrota que não lutar?
Dolan não cruza os braços... |
Mas a batalha trava-se também noutros campos, sobretudo no
judicial. Aqui há boas possibilidades de o Supremo considerar que esse decreto
em particular é inconstitucional e aí voltaria tudo à estaca zero e os bispos
sairiam triunfantes.
Contudo, há uma coisa que nenhuma decisão judicial pode
disfarçar. É que os bispos falaram, falaram a uma só voz e falaram com firmeza,
mas os fiéis também falaram, nas urnas, e a maioria dos católicos deu o seu
voto a Obama, o Presidente mais pró-aborto da história da América, que quer
obrigar os bispos a comprar preservativos.
Claro que o número tem nuances. A maioria dos católicos
praticantes votou em Romney, a maioria dos não praticantes votou em Obama. O
problema está, portanto, em haver mais não praticantes que praticantes. E esse
é um problema que os bispos têm de resolver internamente.
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