Cristãs aterrorizadas fogem do local de um atentado |
Há o sério risco de isso acontecer na Nigéria. Já perdi a
conta às vezes que fiz notícias sobre ataques a alvos cristãos naquele país, ao
ponto de ter de puxar pela cabeça para inventar títulos, porque “Igreja atacada
na Nigéria” ou mesmo “Mais um ataque a cristãos na Nigéria” simplesmente não
diz nada.
Todos os dias em África morrem pessoas vítimas de
terrorismo, assassinadas por um dos milhentos grupos armados que lá opera ou
então mesmo pelas Forças Armadas oficiais que por vezes pouco mais são que
bandos armados também. Mas os ataques na Nigéria são particularmente
importantes pelo potencial explosivo que têm. Para o compreender temos que ver
o contexto do país.
A Nigéria é, em termos demográficos, o maior país de África,
com cerca de 170 milhões de habitantes. Ainda em termos demográficos é quase um
modelo do continente em si, dividido mais ou menos ao meio entre cristãos, no
Sul, e muçulmanos, no Norte.
É neste contexto que nasce o grupo armado Boko
Haram, simplesmente como expressão mais extrema de uma tendência já
existente no Norte da Nigéria de islamização e imposição da Sharia nos Estados
de maioria islâmica. São vários os Estados que já têm leis islâmicas e os membros
do Boko Haram simplesmente querem aprofundar isso e aplicar a lei a todo o
país, incluindo ao Sul maioritariamente cristão.
Houve vários incidentes antes de 2010, muitos nem foram
levados a cabo pelo Boko Haram, mas um dos piores ataques foi no dia de Natal
de 2010, com ataques concertados a Igrejas cristãs. Em 2011
repetiu-se a dose e, a duas semanas do Natal, veremos se não acontece este
ano o mesmo. Mas parece que para este grupo terrorista o Natal é mesmo quando o
homem quer e portanto todos os domingos qualquer Igreja no Norte ou centro do
país torna-se um potencial alvo. Só este
ano foram dezenas de ataques e centenas de mortos.
Comunicação do líder do Boko Haram Provavelmente sobre paz e amor... |
Em abono da verdade, o Boko Haram não ataca só cristãos. Já
mataram polícias, militares, políticos e até
muçulmanos que não partilhem da sua visão. Atacaram a sede da ONU em Abuja
e são responsáveis, ao todo, por centenas, se não milhares de mortos.
A violência perpetrada pelo Boko Haram é interessante do
ponto de vista religioso, então, por três motivos. Em primeiro lugar porque se
insere no quadro mais geral do aumento do Islão político fundamentalista no
Norte da Nigéria, em segundo lugar porque os terroristas agem motivados
sobretudo por razões religiosas e em terceiro lugar pelo potencial que existe
de se motivar uma guerra civil entre o Norte muçulmano e o Sul cristão que
poderiam ter ramificações absolutamente terríveis a nível de todo o continente.
Foi
sobre isto que falei com um padre nigeriano em Setembro deste ano. O padre
Michael disse-me que os bispos católicos e outros líderes cristãos estão a
fazer grandes esforços para evitar que os seus fiéis entrem na lógica da
retaliação. É verdade que tem
havido alguns incidentes, sobretudo em cidades onde a mistura de populações
é mais equilibrada e onde tem havido também massacres de muçulmanos por
cristãos, normalmente em resposta a ataques prévios. Mas não existe do lado
cristão um equivalente ao Boko Haram nem existe no Sul do país um movimento
equivalente ao islamista no Norte, que queira impor um modo de vida e leis
religiosas ao resto do país. Mas o facto de isso não ter acontecido ainda não
significa que não venha a acontecer. Esperemos que não.
É que uma guerra civil na Nigéria dificilmente deixaria de
se tornar logo um conflito de âmbito continental, com efeitos imediatos noutros
países com população mista.
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