Estas duas eleições foram em tudo diferentes. Comecemos pelo
Papa dos Coptas, porque foi o primeiro cronologicamente.
A 17 de Março morreu o Papa Shenouda III. Shenouda estava
para a Igreja copta um pouco como João Paulo II para os católicos. Teve um
papado de décadas e para gerações inteiras de coptas era o único líder que
conheciam. Ainda por cima teve um papel muito importante em modernizar aquela
que é a maior comunidade cristã do Médio Oriente e uma das mais antigas do
mundo e, numa região conturbada, era um pilar de estabilidade.
Shenouda morreu precisamente numa altura de grande mudança
regional e por isso o sentimento de orfandade foi realçado para os coptas. Como
o processo de selecção para um novo Papa é tão complexo, foi preciso esperar
meses até ter um novo líder e, durante esses meses, o Egipto passava por
mudanças radicais sem que os coptas tivessem uma voz forte que intercedesse por
eles.
Tudo isso mudou no dia 18 de Novembro com a eleição de Tawadros II. O futuro dirá, mas Tawadros já falou firmemente contra, por
exemplo, a inclusão da Sharia na constituição do país, que está a ser
preparada. A nível ecuménico a escolha parece ter sido feliz porque ele era
apontado como o mais aberto em termos de diálogo com outras confissões cristãs
e tem ampla experiência internacional. Isto é tanto mais importante quanto a
Igreja Copta não tem grande tradição a nível do diálogo ecuménico e a investir
nele seria sem dúvida um parceiro bem-vindo para católicos e ortodoxos.
De todo este processo ficam duas imagens muito fortes.
Primeiro as cerimónias após a morte de Shenouda, sobretudo a do seu cadáver,
paramentado e coroado, colocado no trono patriarcal para veneração e,
radicalmente diferente, a imagem de uma criança vendada a retirar o nome do novo Papa do lote de três candidatos, assegurando assim a intervenção do
Espírito Santo na escolha do líder de milhões de coptas no Egipto e no
exterior.
Mudamos então completamente de ares e vamos para o Reino
Unido, para uma Igreja que se afasta cada vez mais do Cristianismo tradicional
que os coptas representam, a Igreja Anglicana.
O Arcebispo de Cantuária é uma espécie de “primus inter pares”
na Comunhão Anglicana e acumula a tarefa de supervisionar a Igreja de
Inglaterra e também de zelar pela unidade de toda a Comunhão Anglicana, o que tem provado ser um trabalho absolutamente impossível.
Rowan Williams é um homem afável, bom teólogo, se bem que bastante liberal, com quem é fácil simpatizar. O Papa, diz-se, gosta imenso
dele. Mas era claramente o homem errado no lugar errado. Não tinha maneira de
evitar a ruptura crescente da Comunhão Anglicana, entre liberais radicais nos
Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e até certo ponto no próprio
Reino Unido, e conservadores, sobretudo dos países africanos.
Durante a sua vigência diferentes primazes excomungaram-se
uns aos outros, os americanos ignoraram todos os apelos no sentido da moderação
e consagraram mais que um bispo a viver em relação homossexual e até aprovaram
ritos de bênção de uniões homossexuais, tudo para horror não só dos anglicanos
africanos mas também da Igreja Católica que deu a entender que o diálogo
ecuménico já não iria a lado nenhum.
É neste contexto que Rowan Williams resigna e é eleito Justin Welby. Welby, um homem relativamente novo e com experiência no mundo
empresarial será, espera-se, o homem certo para tentar garantir a unidade.
Ainda por cima, vem de um espectro conservador do ponto de vista teológico mas
relativamente liberal do ponto de vista litúrgico e por isso poderá
eventualmente construir pontes.
Mas os primeiros tempos de Welby, que só será entronizado em
Março, mas que para muitos fiéis e sobretudo para a imprensa já é “o” Arcebispo
de Cantuária, não correm da melhor maneira.
Justin Welby |
A nível da Comunhão Welby ainda não foi devidamente testado
mas dificilmente conseguirá melhor do que Williams durante os anos em que
ocupou a sé de Cantuária, ou seja pouco mais que capitanear um navio claramenteà deriva e com pessoas a remar em direcções opostas.
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