Foi o mordomo, claro.
O caso que passou a ser conhecido como Vatileaks acabou
mesmo por ser o mais mediático do ano de 2012.
Na sua essência, este caso teve a ver com a divulgação de
documentos secretos do Vaticano na imprensa. Os primeiros que foram realmente
notícia continuam alegações de corrupção e falta de transparência, feitas
pelo actual Núncio Apostólico da Santa Sé nos Estados Unidos.
Monsenhor Viganò queixava-se, em cartas privadas ao Papa que
foram divulgadas, de ter sido enviado para os EUA como castigo pelo facto de
ter tentado impedir os jogos de interesses no Governo da Santa Sé. Esses casos
de corrupção passavam, por exemplo, por contratar empreiteiros mais caros que a
norma para a execução de obras, e coisas do género.
Inicialmente o suspeito evidente da divulgação dos
documentos foi o próprio Viganò, mas rapidamente se percebeu que estava mais em
jogo. Nos primeiros documentos que foram sendo divulgados,
incluindo a absurda notícia sobre uma eventual conspiração para matar o
Papa, a
pessoa que sempre ficou pior na fotografia foi o número dois do Papa, o Cardeal
Bertone.
Monsenhor Viganò |
Esse facto levou muitos a especular que a divulgação de
documentos secretos era uma arma no meio de uma guerra interna entre figuras da
Cúria Romana.
Mas eis
que é detido o Mordomo, numa viragem quase cómica de um caso que até tem
bastante gravidade, pois se nestes documentos secretos do que se falava era
sobretudo intriga, há certamente informação muito sensível que circula pelo
Vaticano que se viesse a público poderia colocar em risco projectos importantes
ou mesmo a segurança de pessoas.
Paolo Gabriele, assim se chama o mordomo, disse que tinha agido
por iniciativa própria. No seu apartamento foram encontradas caixas cheias de
documentação que tinham sido retiradas dos aposentos pessoais de Bento XVI. O
Vaticano apressa-se a garantir que Gabriele, com a pontual ajuda de um
informático da Santa Sé, tinha actuado sozinho. O mordomo
não nega e é condenado a pena de prisão efectiva.
ADENDA: No dia depois de ter escrito este texto, Bento XVI concedeu um indulto a Paolo Gabriele, que é agora um homem livre.
Claro que o mordomo não agiu sozinho, mas não entregou ninguém. Com Bertone, o Vaticano torna-se um inferno. Ele é um dos "peixes ruins". Foi ele e a sua prepotência que fizeram com que o Papa resigna-se. Mas foi bom. Ratzinger deu o murro na mesa, na hora certa.
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