O
amor ao próximo é algo que é pedido a todos nós. A parábola do Bom Samaritano,
que escutámos no passado domingo, fornece um bom guião. Temos a
responsabilidade de reconhecer a necessidade e a miséria humanas, e de lhes
responder tanto com atenção pessoal como com generosidade material.
Numa
sociedade rica, com mudanças demográficas velozes, contudo, isto requer alguma
análise. Poucos são os que, hoje em dia, vivem a familiaridade cara-a-cara das
pequenas comunidades. A maioria vive em subúrbios e vai de carro para o
trabalho, passando ao largo dos bairros mais pobres.
Claro
que os media apresentam-nos muitas imagens de pessoas necessitadas, mas poucos
de nós encontramos essas pessoas no nosso dia-a-dia. Existem, contudo, verdadeiras
bolsas de miséria humana até no nosso mundo desenvolvido, desde o interior das
cidades até às paisagens mais rurais.
Nas
nossas ruas existem pessoas com necessidades crónicas. Vemo-las nas esquinas
das ruas e nos degraus das igrejas. Algumas estão perturbadas emocionalmente,
outras sofrem de stress pós-traumático, outros ainda estão simplesmente a
atravessar um mau momento e há os que estão a aproveitar-se do sistema. Mas a
desolação emocional e espiritual pode ser ainda mais devastadora.
Os
padres que acompanham as Missionárias da Caridade apercebem-se que as irmãs os
dissuadem de dar dinheiro diretamente aos necessitados. Lançar-lhes algumas
moedas é muito mais fácil do que dar-lhes aquilo de que precisam
verdadeiramente: cuidado pessoal moroso. As pessoas que vivem vidas isoladas e
pobres precisam – segundo nos dizem aqueles que verdadeiramente cuidam delas –
de interacção humana, muito mais do que de dinheiro. Frequentemente o que lhes
conduziu àquela situação foi precisamente a falta de ligações pessoais.
Portanto
nos nossos tempos não é fácil ser um Bom Samaritano. O Bom Samaritano cuidou
das necessidades físicas da vítima do assalto e deixou-lhe dinheiro para uma
espécie de cuidado institucionalizado: “E no dia seguinte retirou dois denários
e deu-os ao estalajadeiro, dizendo, ‘Cuida dele, e tudo o que gastares a mais,
pagar-te-ei quando regressar’” (Lc. 10,35).
Muitas
vezes, dar dinheiro às pessoas na rua apenas os leva a adiar a procura de
emprego ou de ajuda. Se souber que se vai cruzar com pobres ao longo do seu
dia, um Bom Samaritano moderno poderá ter o cuidado de levar consigo uma
sanduiche a mais, ou uma bebida, ou então comprometer-se com algo ainda mais
substancial em termos de tempo e de trabalho, oferecendo-se para trabalhar numa
sopa dos pobres ou uma iniciativa do género.
As
paróquias suburbanas recolhem valores consideráveis das caixas de esmolas. Os
párocos, em conjunto com os concelhos financeiros das paróquias, geralmente
fazem chegar esses fundos a organizações que servem os necessitados.
Ocasionalmente um paroquiano poderá também precisar de ajuda, por causa de uma
crise. É bom que as paróquias encontrem formas de permitir que os paroquianos
os possam abordar com esses problemas sem sentirem demasiada vergonha.
E,
já agora, os párocos nunca devem aceitar agradecimentos pessoais por
distribuírem dinheiro da caixa de esmolas. São chamados a ser bons gestores dos
recursos paroquiais, como é evidente, mas a verdadeira generosidade é dos
paroquianos que fazem os donativos.
De
igual modo uma sociedade recta – o que normalmente significa as comunidades
locais (por uma questão de subsidiariedade) – devem fornecer os cuidados mais
básicos de quem está a passar um mau bocado. Mas deve ser claro – e hoje em dia
não costuma ser – que cobrar impostos para ajudar os pobres não corresponde ao
conceito de “caridade” que encontramos na Bíblia.
Essas
cobranças são, na realidade, uma forma de justiça retributiva (e a virtude da
solidariedade) mediada através do processo político. Ao longo dos tempos
aprendemos que nem todos esses programas funcionam, e que chegam mesmo a
prejudicar as pessoas que pretendem ajudar. Mas uma assistência social bem
monitorizada e dirigida às pessoas certas, também tem o seu lugar.
Algumas
organizações podem ser classificadas como Instituições Particulares de
Solidariedade Social de acordo com as leis do Estado, ao mesmo tempo que
contrariam as leis de Deus. A Planned Parenthood, por exemplo, recebe 500
milhões de dólares por ano de dinheiro público, bem como donativos privados,
dedutíveis em IRS, para financiar 330 mil abortos por ano (e para colher e
vender órgãos fetais à socapa). Esta suposta caridade não passa, na verdade, de
uma monstruosa máquina de matança.
Algumas
organizações têm mais jeito para angariar dinheiro do que para usá-lo em obras
verdadeiramente caritativas. O Bom Samaritano de hoje que queira doar dinheiro
a organizações de caridade deve dar ouvidos ao aviso de Eric Hoffer de que “todas
as grandes causas começam por ser movimentos, depois transformam-se em negócios
e eventualmente degeneram em fraudes”.
Parte
do trabalho do Bom Samaritano moderno passa por exercer vigilância adequada,
sem a qual as caridades podem encher-se de funcionários e tornar-se um buraco
financeiro dependente de constantes peditórios, cada vez mais agressivos.
Por
outro lado, como qualquer IPSS sabe, também existem pessoas que pensam que o
trabalho caritativo deve operar praticamente sem custos administrativos, o que
não é realístico. Até as Missionárias da Caridade recebem – merecidamente – comida
e estadia em troca do exercício do seu santo apostolado.
Quando
fazemos um donativo devemos examinar as nossas consciências. Foi-nos dito pela
mais alta autoridade que o bom impulso de caridade pode ser estragado pelo
desejo de admiração. “Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta
diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem
glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.
Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua
direita; Para que a tua esmola seja dada em secreto; e teu Pai, que vê em
secreto, ele mesmo te recompensará publicamente.”
No
fim de contas temos de reconhecer que todos os programas governamentais do
mundo, bem como todas as IPSS, são incapazes de aliviar o sofrimento humano em
grande escala. Uma das consequências do pecado original é que os pobres, seja
no sentido material ou espiritual, sempre os teremos connosco. Os leigos devem
trabalhar para criar sistemas socioeconómicos justos e eficientes. Mas a
assistência aos pobres, num generoso espírito cristão, é a levedura necessária
para complementar e ultrapassar os mecanismos das ordens meramente económicas.
O
padre Jerry J. Pokorsky é sacerdote na diocese de Arlington e pároco da Igreja
de Saint Michael the Archangel em Annandale, Virgínia.
(Publicado
pela primeira vez na quarta-feira, 17 de Julho de 2019 em The Catholic Thing)
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