Pe. Robert P. Imbelli |
Na notícia soube que ele foi autor de vários livros. O
título de um deles marcou-me de forma particular: Procurando Allah, Encontrando Jesus: Um muçulmano devoto encontra-se com o Cristianismo.
Intrigado pelo título e pelo breve resumo da sua vida na
notícia, adquiri o livro. Li-o ao longo de algumas noites, completamente
apanhado. É um relato assinalável: contado com honestidade, clareza e um desejo
apaixonante pela verdade.
Conta a história de um jovem, educado desde novo como um
muçulmano devoto, que através de um encontro com um colega universitário
(cristão devoto) começa a questionar os fundamentos da sua identidade pessoal e
religiosa.
O que torna o relato tão cativante é a determinação da
caminhada espiritual e intelectual de Nabeel Qureshi. Examina cuidadosamente e
sem medos as provas da veracidade do Novo Testamento e depois do Alcorão. O estudo
adensa-se ao longo dos anos da sua formação, incluindo a faculdade de medicina,
enquanto vai debatendo com paixão e vigor com o seu amigo, cedendo apenas
quando conclui que as provas são convincentes.
Mas esse estudo está longe de ser apenas um exercício
académico, pois o resultado marcá-lo-á de forma mais que pessoal. Qualquer
pessoa criada na tradição e na cultura islâmica sabe que a conversão ao Cristo
acarreta profundas consequências ao nível da família e da comunidade. O próprio
lamentou que “reconhecer Cristo significava destruir a minha família. Poderia
ele estar verdadeiramente a pedir-me tal coisa?”
A relação de Nabeel com os seus pais, o seu Abba e a sua
Ammi, era extraordinariamente próxima e carinhosa. A forma como descreve o
custo que a sua decisão teve para eles é de partir o coração. Desde o dia em
que souberam da sua conversão a Cristo o seu pai, um oficial da marinha, “nunca
mais caminhou altivo. Eu extingui o seu orgulho”. A sua mãe, ao ouvir a
notícia, desmaiou e foi hospitalizada. “Sobreviveu, mas os seus olhos nunca
recuperaram o seu fulgor. Extingui a sua luz”.
O que levou este filho amado e muçulmano devoto a pôr em
causa os afectos parentais e a desbaratar uma identidade segura e respeitada? A
mera pergunta remete para a resposta apaixonada de Paulo aos Filipenses:
“Considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de
Cristo Jesus, meu Senhor, por cuja causa perdi todas as coisas. Eu as considero
como esterco para poder ganhar a Cristo”. (Fil 3,8)
A conversão é um assunto tão íntimo e complexo que cada
percurso manifesta cores e contornos distintos. Eis como Nabeel descreve a
realização a que chegou: Ser cristão significa sofrer realmente por Deus. Não
como um muçulmano sofreria por Deus, porque Allah assim o comanda, por decreto,
mas com a expressão sincera de uma criança agradecida cujo Deus sofreu por ela
em primeiro lugar.
Numa altura em que se procura reduzir Jesus a um mero
profeta de Israel, o testemunho deste convertido ao Cristianismo ressoa:
Nabeel Qureshi |
Mas o testemunho desafiador de Nabeel não se fica até por
esta confissão firme. Pois embora convencido na mente e no coração da verdade
do Evangelho, continuava a tremer perante o custo e o sofrimento que previa. Foi
tomado pela agonia da autocomiseração e autorrecriminação, diz-nos. Mas subitamente,
como que por uma revelação luminosa, todo o seu ser foi inundado por uma nova segurança.
Resume-a desta forma: “Isto não é sobre mim. É sobre Ele e o seu amor pelos
seus filhos”.
Esta convicção levou-o a comprometer-se com a missão,
para poder partilhar livremente o Evangelho libertador que livremente recebeu.
Se as conhecesse, certamente teria ecoado as palavras do Papa Francisco em “A
Alegria do Evangelho”. “A primeira motivação para evangelizar é o amor que
recebemos de Jesus, aquela experiência de sermos salvos por Ele que nos impele
a amá-Lo cada vez mais. Com efeito, um amor que não sentisse a necessidade de
falar da pessoa amada, de a apresentar, de a tornar conhecida, que amor seria?”
Nabeel levou a cabo o seu trabalho evangélico durante 12
anos intensos. Estudando, falando, escrevendo e aconselhando. Há muitos vídeos
dele na internet onde se pode apreciar o seu fervor, a sua visão e o seu humor.
Depois, subitamente, o ministério deste jovem, vigoroso e atraente discípulo
foi tomado de assalto por um cancro.
Mesmo internado continuou a partilhar a sua fé – até da
cama do hospital. Um curto vídeo gravado a pouco tempo da sua morte avisa
contra qualquer abuso dos seus ensinamentos. Apesar de sublinhar a importância
de aprofundar a verdade, insiste que isso deve ser sempre feito “tendo por base
o amor e a paz”. Pois o propósito não devia ser “ferirem-se uns aos outros, mas
ajudarem-se uns aos outros”. Reza fervorosamente que o seu ministério deixe “um
legado de amor, de paz, de verdade. De cuidarmos uns dos outros”.
É de lamentar que um discípulo com tamanho espírito nos
tenha sido subtraído com apenas trinta e quatro anos. Mas as sementes que
plantou hão de dar fruto. O seu testemunho corajoso inspirará outros.
Deixou-nos jovem, mas já maduro em Cristo.
Robert Imbelli, é sacerdote na Arquidiocese de Nova Iorque
e professor associado emérito de Teologia na Boston College. É autor de Rekindling the Christic Imagination:Theological Meditations for the New Evangelization.
(Publicado pela primeira vez na quarta-feira, 1 de Novembro
de 2017 em The Catholic Thing)
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