Matthew Hanley |
Há um aluno da Universidade de Arizona que acha que é um hipopótamo. Ora aí está uma frase que nunca imaginei escrever. Define-se
como um “tranimal”.
Normalmente qualquer leigo o poderia diagnosticar – mesmo
sem lhe pôr os olhos em cima e sem qualquer medo de negligência – como non
compôs mentis. Mas já fomos todos avisados, à medida que estes desvarios
aumentam em número, que qualquer forma de “autoidentificação” deve ser
validada.
Basta perguntar ao professor canadiano que tem sido perseguido incansavelmente por se recusar a alinhar
com a ditadura dos pronomes. Os seus superiores insistem que ele use invenções
gnósticas como Ze, Hir, Xe, Verself, etc., em vez dos pronomes ingleses comuns
(he, she, hers, etc.), sempre que alguém considera que os reflexos gramaticais
da realidade biológica sejam demasiado restritivos.
Tendo em conta que os advogados têm achado por bem forçar
as massas a aceitar estas ilusões (e bem antes disto já eramos lamentavelmente
litigiosos), temo pelo futuro da Universidade de Arizona. Há claramente um
processo no horizonte – se não contra a universidade, então contra quem
alimenta o hipopótamo. Eu já tive a sorte de ver hipopótamos em liberdade e sei
que todas as reservas naturais insistem que é proibido e punível por lei
alimentar animais selvagens. Como é que vai ser quando a exaltação da autonomia
no ramo da sexualidade – que chegou ao ponto de redefinir a realidade biológica
– entrar em conflito com o respeito pelo ambiente? Nem deve ser uma questão. A
vida selvagem fica em segundo lugar, a autonomia em primeiro.
Por falar em vida selvagem, vejamos outro exemplo deste
conflito. Até envolve outro “tranimal” – na medida em que se pode referir ao
fenómeno dos peixes “inter-sexo” com este termo. Estamos a falar de peixes
machos que estão a desenvolver ovos nos testículos. Como é que isto acontece?
Demasiado estrogénio na água; as ETAR simplesmente não conseguem lidar com a
quantidade de hormonas estrogénicas que os seres humanos consomem, eliminam e
enviam de volta para a natureza.
Há décadas de provas – que constam até de publicações “mainstream”
como a “Nature” – de que o princípio activo da pílula (EE2), juntamente com
outros estrogénios, “causa danos em larga escala no ambiente aquático,
perturbando os sistemas endócrinos da vida selvagem”.
No início de Julho o professor Charles Tyler da
Universidade de Exeter, juntou os seus dados dramáticos ao monte crescente de
provas numa palestra a um simpósio internacional patrocinado pela Sociedade
Pesqueira das Ilhas Britânicas.
A apresentação chamava-se “A feminização da natureza –
uma história não-natural” e era bastante técnica, mas uma das conclusões
principais foi de que testes feitos em cinquenta locais diferentes revelaram
que um em cada cinco peixes machos de água doce no Reino Unido tinha
características femininas. Isto, juntamente com outros impactos adversos,
diminui a capacidade desses peixes de se reproduzirem. Por outras palavras, o
ecossistema está a levar por tabela.
Há muitos outros contaminantes implicados, como os
derivados de cosméticos, plásticos e detergentes mas, tal como a pílula, estes
também têm propriedades estrogénicas que contribuem para estes desequilíbrios
ao nível fisiológico. Outros químicos, tais como os que se encontram nos
antidepressivos, provocam alterações anormais no ramo do comportamento.
É um dado bem conhecido que a pílula é carcinogénea; mas
isso pode não estar limitado ao consumo directo. Podemos estar perante um
problema mais alargado, por causa dos níveis de estrogénio na água. Existe uma
correlação forte – mas não, sublinho, uma causalidade comprovada – entre a
utilização da pílula na sociedade e o cancro da próstata nos homens. Essa
associação significativa foi detectada em todos os 88 países em que foi
investigada.
Seja como for, a preocupação gerada pela realidade dos
peixes inter-sexo – um exemplo inegável da conspurcação humana do ambiente – é
insignificante em comparação com o furor sobre as alterações climáticas, alegadamente
causadas pelo homem. Nem se dá por ela. Perante dados científicos ciência tão inegáveis,
mas tão inconvenientes como estes, é muito mais eficiente ignorar do que negar.
A mera quantidade de repercussões da pílula, a todos os
níveis, que é preciso ignorar só se compreende através de um exercício
voluntário do intelecto. Melinda Gates disse recentemente que a pílula é uma
das maiores medidas de sempre para combater a pobreza. Talvez esteja
simplesmente a ignorar o trabalho do falecido economista Julian Simon, que
demoliu essa visão recorrente que, no fundo, revela uma visão de soma zero de
recursos limitados, destinados a diminuir à medida que as pessoas proliferam.
Uma visão temorosa, contradita por resmas de provas. Simon, por outro lado,
sabia que o melhor recurso no planeta são as pessoas e defendia que é tendo
mais pessoas, e não menos, que se chegará à inovação e à produtividade
responsáveis pelo desenvolvimento.
O principal motor do progresso mundial é uma boa
quantidade de conhecimento humano. E o melhor dos recursos é composto por
pessoas esperançosas, qualificadas e animadas, usando a vontade e a imaginação
para se sustentarem a elas e às suas famílias, contribuindo dessa forma para o
benefício de todos.
A investigação de Simon mostrou-se tão persuasiva que a
sua tese passou de contracorrente a largamente aceite hoje. Até os peixes
ficariam contentes se a Srª Gates passasse a ver as coisas deste modo.
Esperar-se-ia que as pessoas que amam a humanidade – como a Srª Gates, na
qualidade de filantropa – ficariam fora de si com a perspectiva do triunfo do
engenho humano sobre as aparentes contrariedades da natureza.
A Srª Gates parece esperançada de que a Igreja Católica
esteja em vias de mudar os seus ensinamentos sobre a contracepção. Talvez saiba
algo que eu não sei. É verdade que algumas pessoas têm especulado sobre alterações para coincidir com os 50 anos da “Humanae
Vitae” no próximo ano.
Há muitas razões importantes e de peso sobre porque é que
isso não é boa ideia, mas eu acrescentaria mais uma: A aceitação de um
conhecido poluente por parte da Igreja não estaria em contradição com a
admoestação de 2015 contida na “Laudato Si”, de “cuidar da nossa casa comum”?
Matthew Hanley é Investigador sénior no Centro Nacional
de Bioética Católica. Matthew Hanley é autor, juntamente com Jokin de Irala, de
‘Affirming
Love, Avoiding AIDS: What Africa Can Teach the West’, que foi recentemente
premiado como melhor livro pelo Catholic Press Association. As opiniões
expressas são próprias, e não da NCBC.
(Publicado pela primeira vez na Segunda-feira, 31 de
Julho 2017 em The
Catholic Thing)
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