Francis X. Meier |
1. O público católico está a diminuir. Isto tem impacto
sobre os recursos materiais.
2. Muitos dos que permanecem estão a ficar mais velhos, ou
então não estão bem-formados em termos da imaginação sacramental e substância
intelectual da Igreja.
3. Os media generalistas são hostis; não se limitam a formar
os nossos pensamentos, mudam também a forma como pensamos.
4. O Governo é cada vez menos nosso amigo.
5. Os nossos sistemas económicos e políticos encorajam ao
mesmo tempo a auto-absorção e a dependência; o resultado irónico é um sentido
alargado de isolamento e impotência.
6. Salvo várias excepções, a liderança da Igreja é fraca.
Há mais de 50 anos que os católicos americanos operam segundo premissas
erradas. A assimilação levou à digestão pela cultura secular da vida
autenticamente católica autêntica, que agora está a ser eliminada como
desperdício num sistema orgânico. Não somos simplesmente pós-protestantes, mas
pós-calvinistas. A América tem raízes calvinistas e, como argumenta o
historiador Carlos Eire, de Yale, no seu livro “Reformations”,
o calvinismo cauterizou a imaginação sobrenatural (eliminando o Purgatório, a
comunhão dos santos, os sacramentos, as relíquias) e reorientou radicalmente a
religião para as preocupações e resultados materiais deste mundo. Ao fazê-lo,
abriu as portas para a secularização e a descrença.
7. O resultado de tudo o que escrevi acima é um ambiente
de conflito e de declínio que conduz à acédia. Beleza, paz, esperança e alegria
são factores frequentemente ausentes da Igreja e da sua vida religiosa – o que
por sua vez faz a questão de Deus parecer esclerótica e irrelevante.
Passemos então às boas notícias:
1. Muitas das más notícias são, na verdade, boas
notícias, na mesma medida em que um duche frio pode ser um remédio desagradável,
mas eficiente, para curar uma bebedeira. A humilhação da experiência católica
americana é boa porque os seus frutos têm sido insuficientes. A vida católica
nos Estados Unidos produziu vários homens, mulheres e feitos excepcionais,
incluindo alguns santos, mas também – pelo menos ao longo das últimas sete
décadas – um bom número de fraudes, de amigos de Peniche e de cobardes.
2. Como gostava de dizer o guru da economia Peter
Drucker, cada sucesso acarreta as sementes do falhanço, porque facilmente
conduz ao excesso de confiança. Mas o inverso também é verdade. Cada falhanço
carrega consigo as sementes do sucesso, desde que aprendamos as lições certas
com o nosso falhanço. Uma das lições que devemos considerar é esta: Devemos
amar as melhores virtudes do nosso país, mas no final de contas não é este o
nosso lugar. O nosso lar e a nossa fidelidade pertencem a outrem.
Joseph Ratzinger |
4. O conflito nem sempre é mau; às vezes é santo e bom.
Produz clareza; a clareza revela a verdade; e a verdade torna-nos livres.
Talvez não confortáveis, mas livres. Obriga-nos a escolher onde colocar a nossa
lealdade e a enfrentar o que e quem somos verdadeiramente.
5. As Escrituras são para levar a sério: Onde abunda o
mal, superabunda a graça e a bondade. Há milhares de pessoas boas a fazer
coisas extraordinárias que são ignoradas pela cultura secular. Continua a
existir um núcleo católico que está sedento de boa escrita, bom pensamento e
encorajamento. É aqui que começa a renovação.
Quanto ao porquê e ao como de ser um autor católico… e na
verdade para todos nós…
O porquê: Todos nós temos uma fome de compreender o
verdadeiro significado das nossas vidas. A fé católica é verdadeira na sua
explicação da realidade, e por isso satisfaz-nos a um nível visceral. A cultura
liberal americana baseia-se na ficção de que a liberdade exige a rejeição de
paradigmas morais e de verdades universais vinculativos. Mas a maioria das
pessoas – e por boas razões – não consegue lidar com a tarefa impossível de
criar e sustentar o seu próprio significado. Isto cria ansiedade. O que depois
requer anestesia. O que por sua vez leva a uma cultura de dependência e
escravidão. A fé católica é uma mensagem de libertação, esperança e
significado; uma mensagem realística porque explica o pecado humano e fornece
formas de redenção e de reconciliação.
O porquê: O cristianismo é relacional. Não é uma
“ideologia”. A maioria das pessoas chega a Deus através da sua presença nas
vidas de outras pessoas. É verdade que há quem chegue à Igreja através da
conversão intelectual – como Edith Stein, por exemplo – mas a maioria tem um
encontro com Deus, através do testemunho de outra pessoa, que muda a sua forma
de ver o mundo. É por isso que as histórias são frequentemente mais poderosas
que os argumentos. As pessoas adoram histórias; aprendemos ao mesmo tempo que
somos informados e entretidos. E esta é a substância da boa escrita. Leiam o
grande ensaio de Georges Bernanos “Sermão de um Agnóstico na Solenidade de
Santa Teresa”, ou o excelente conto “Vislumbre de Explicação”, de Graham
Greene.
Leiam. Leiam. Leiam com olhar crítico. Mas leiam tudo –
católico ou não católico. Algumas das maiores influências no meu pensamento
adulto não foram cristãs ou sequer religiosas, mas li-as de uma perspetiva
católica aprendida de outros e depois refinada por mim. Leiam pelo estilo
(Ernest Hemingway; Neil Postman; mesmo loucos como Terry Southern). Leiam pelo conteúdo (J.R.R. Tolkien,
C.S. Lewis, Leszek Kolakowski, Christopher Lasch, Roger Scruton, Pierre Manent,
George Parkin Grant). Comparem estilos e trunfos editoriais: NY Times vs. LA
Times vs. Wall Street Journal.
Cultivem o vosso vocabulário, mas comprometam-se com a
simplicidade. Sejam impiedosos na edição do vosso próprio material. Devem
conhecer de cor e salteado o ensaio de George Orwell “Política e a Língua
Inglesa”. E por uma questão de sanidade, afastem-se do Twitter. Pelo menos até
aprenderem a pensar e expressarem-se como humanos adultos. O Twitter alimenta o
conflito. Gera impudência e comentários estúpidos e venenosos. Já estamos saturados
de ambos.
Por fim, e talvez mais difícil: tentem dar o benefício da
dúvida aos outros. Critiquem assuntos e comportamentos, não pessoas. Por norma,
a palavra falada pode ser ignorada ou esquecida.
A palavra escrita é eterna.
Francis X. Maier é conselheiro e assistente especial do
arcebispo Charles Chaput há 23 anos. Antes serviu como Chefe de Redação do
National Catholic Register, entre 1978-93 e secretário para as comunidades da
Arquidiocese de Denver entre 1993-96.
Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing no Sábado, 1 de Janeiro de 2022)
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