Pe. Gerald E. Murray |
O Caminho Sinodal Alemão (Der Synodale Weg) tem por
objetivo subtrair o poder, autoridade e controlo ao Papa e aos bispos e
entregá-lo a um laicado radical e clérigos e religiosos aliados. Tal deve
acontecer através de uma proposta de um “fórum sinodal também na Igreja
universal, uma assembleia da Igreja universal, um novo concílio em que os
crentes dentro e fora do ministério ordenado deliberam e decidem em conjunto
sobre questões de teologia e cuidados pastorais, bem como sobre a constituição
e estrutura da Igreja”.
Nesta assembleia revolucionária os pastores já não seriam
guias do rebanho, mas sim mais um bloco eleitoral a par do laicado,
presumivelmente mais numeroso, que em todo o caso teriam escolhido os seus
bispos uma vez que “a governação deve sempre ser codeterminada pelos
governados, pelo que uma proposta importante é de que os decisores
eclesiásticos devem também ser eleitos e sujeitos a eleição regular, em que os
poderes que lhes são confiados possam ser confirmados ou delegados noutrem”.
De facto, “o objetivo é garantir a partilha de
responsabilidade e participação de todos os fiéis tanto nos processos
deliberativo como decisório”. Para o alcançar torna-se ainda necessário
“reajustar a estrutura constitucional da Igreja para fortalecer os direitos dos
fiéis na governação da Igreja”.
Se alguém contrapor que Cristo, o pastor-mor, é que
atribui a autoridade aos apóstolos e seus sucessores, isso, ao que parece, é um
conceito ultrapassado. “Os fiéis costumam aceitá-los como autoridades cujos
juízos e decisões não podem ser questionados, como ‘pastores’ em virtude de uma
legitimidade divina, a quem devem obedecer como ‘ovelhas’. Estes modelos foram
ultrapassados pelo tempo, e bem, porque não eram teologicamente bem fundamentados”.
Dessa forma, a natureza hierárquica da Igreja é descartada
como obsoleta e injustificada.
A autoridade episcopal e papal são rejeitadas de forma
clara: “Ninguém tem a competência para decidir por si só sobre o conteúdo da fé
e os princípios da moralidade; ninguém tem o direito de interpretar os
ensinamentos da fé e da moral com a intenção de exortar os outros a ações que
só servem os seus interesses ou correspondem às suas ideias, mas não às
convicções dos outros”.
Será que as “convicções” se tornaram agora a norma das
crenças e do comportamento cristão? Absolutamente: “A pluralidade de estilos de
vida, tradições de piedade e posições teológicas no seio da Igreja não é uma
ameaça, mas um bem que aprofunda a unidade viva da Igreja. ‘Não julgues, para
não serdes julgado’. Mt. 7,1”.
Tudo isto encontra-se num documento cheio de juízos
negativos sobre doutrinas católicas “teologicamente mal fundamentadas” e que
evoca “estudos” que afirmam que a Igreja tem alienado pessoas através de
“estruturas de poder que são vistas como retrógradas ou datadas… especialmente
no campo da justiça de género e na avaliação de orientações sexuais ‘queer’,
bem como em lidar com falhanços e novos começos (por exemplo casamento depois
do divórcio).”
De facto, “uma forma de lidar com a complexidade que seja
atenciosa e sensível à ambiguidade pode ser vista como um sinal básico de
contemporaneidade intelectual – e também abrange a teologia contemporânea. Para
a teologia também não existe uma perspetiva central, uma verdade única sobre o
mundo religioso, moral e político, e nenhuma forma de pensamento que possa
reclamar a autoridade definitiva. Também na Igreja os pontos de vista e estilos
de vida diferentes podem competir uns com os outros mesmo nas convicções
centrais. Sim, podem ao mesmo tempo reclamar teologicamente a verdade, a
correcção, compreensibilidade e honestidade, ainda que se contradigam nas suas
afirmações e na sua linguagem”.
A mesma atitude de “viva e deixe viver” não se aplica,
contudo, às decisões postas a votação na assembleia do Caminho Sinodal:
“esperamos que as recomendações e as decisões adotadas pela maioria sejam
também apoiadas por aqueles que votaram de forma diferente. Esperamos que a implementação
das decisões seja examinada de forma rigorosa e transparente por todos.
Esperamos que todos ajudem a promover a capacidade de ação da assembleia
sinodal”.
Por isso vemos que os ensinamentos constantes e
universais da Igreja podem e devem ser alteradas por maioria, permitindo, por
exemplo, a ordenação de mulheres para o diaconado, sacerdócio e episcopado. Os
participantes do Caminho Sinodal não têm de “apoiar” nem “promover” nada que
rejeitem do Depósito da Fé, mas aqueles que votarem contra as inovações
destrutivas são instruídos a “apoiar” e “promover” aquilo que rejeitaram, em
consciência, como sendo ofensivo para a Fé.
Este mandato coercivo de “obedecer, senão” é revelador da
natureza de todo este processo: um esforço calculado de derrubar o catolicismo
em nome da conformidade com o espírito da nossa era de descrença, um espírito
narcisistamente apostado em pôr as mãos em todo o poder na Igreja para poder
redefinir a realidade e reescrever a revelação, promovendo a licença e suprimindo
todas as recordações da lei de Deus. Esta subversão clara tem de ser travada já,
antes de prejudicar ainda mais a Igreja.
Roma tem de intervir – e rápido.
O padre Gerald E. Murray, J.C.D. é pastor da Holy Family Church, em Nova Iorque, e especializado em direito canónico.
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na Segunda-feira, 22 de Fevereiro
de 2021)
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