Russell Shaw |
Por isso, antes de avançarmos demasiado longe pelo caminho que tem sido promovido recentemente pelos líderes da Igreja na Alemanha, faríamos bem em questionar se a sinodalidade é, como o Papa acredita, aquilo de que a Igreja mais precisa neste momento, ou se a emenda será pior que o soneto. Por agora, pelo menos, a resposta mais sincera é: depende.
A palavra “sínodo” vem de dois termos gregos: “sun” (com)
e “hodos” (caminho). Uma igreja sinodal é aquela que se conduz de forma
participativa, com base na apreciação da sua própria natureza enquanto comunhão
de crentes. A Comissão Teológica Internacional diz que a sinodalidade remonta
ao chamado Concílio de Jerusalém, descrito nos Actos dos Apóstolos, em que os
“apóstolos e anciãos” da igreja de Jerusalém discutiu o que se devia fazer em
relação aos convertidos gentios.
Nos séculos que, entretanto, passaram, houve vários
sínodos regionais e diocesanos. Os sínodos são importantes na eclesiologia do
Cristianismo Oriental e o Concílio de Trento decretou que se realizassem
sínodos diocesanos anualmente e sínodos provinciais de três em três anos para
implementar os seus decretos. Pouco depois de ser eleito, o Papa João XXIII
anunciou que os seus três grandes projetos seriam um concílio ecuménico, a
revisão do Código de Direito Canónico e um sínodo para a Diocese de Roma.
Todavia, o modelo operacional para a Igreja nos tempos
modernos não tem sido a sinodalidade, mas sim a centralização da autoridade: no
Papa para a Igreja Universal, nos bispos diocesanos para as Igrejas locais. No
que diz respeito ao papado a palavra definitiva está contida na Constituição
dogmática “Pastor Aeternus”, sobre a primazia papal e a infalibilidade, que
declara que a jurisdição do Papa é universal, ordinária e imediata. Contudo,
até a “Paspr Aerternus” admite que a primazia papal está “longe de ser um
impedimento” ao exercício pelos bispos da autoridade que lhes compete.
O Concílio Vaticano II repetiu o ensinamento do Vaticano
I sobre a primazia papal, mas também sublinhou que a autoridade dos bispos não
lhes é delegada pelo Bispo de Roma, mas vem directamente de Cristo. O Concílio
também enuncia o princípio da colegialidade episcopal.
O Vaticano II não fala nem de sínodos nem, propriamente,
de sinodalidade. Mas a Comissão Teológica Internacional (num documento sobre
sinodalidade publicado em 2018) conclui que o Concílio preparou o terreno ao
apresentar a Igreja enquanto Povo de Deus e encorajou a sinodalidade com o seu
decreto sobre bispos, indicando aos ordinários o estabelecimento de senados ou
conselhos de padres e recomendando a criação de conselhos pastorais com membros
leigos.
Quando o Concílio se aproximava do fim, o Papa São Paulo
VI anunciou a criação de um Sínodo dos Bispos permanente para a Igreja
universal, mas até agora essas assembleias têm tido resultados mistos. No seu
livro “Things Worth Dying For”, a publicar em breve, o arcebispo Charles Chaput
lamenta que “em vez de serem ocasiões para trocas sinceras de ideias”, as duas
assembleias sinodais em que participou, em 2015 e 2018, sofreram de
“manipulações… exercícios de poder em vez de esforços para chegar a uma posição
honestamente comum”.
Escrevendo o ano passado, o cardeal Gerhard Muller,
antigo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, levantou uma questão que
o sínodo do próximo ano deve sublinhar. A sinodalidade, escreveu, pode ser de
dois tipos: a sinodalidade dos bispos enquanto mestres e pastores e a
sinodalidade da comunidade cristã, que pode ajudar os decisores, mas não deve
infringir a sua autoridade.
O que nos leva à experiência de sindalidade na Alemanha,
que ameaça tornar-se (se é que ainda não é) uma sinodalidade descarrilada.
As igrejas cristãs na Alemanha têm perdido milhares de
membros todos os anos, há anos. Só em 2019 a população católica caiu em cerca
de 273 mil pessoas. Com este pano de fundo, os bispos têm estado a seguir um
projeto de “reforma” em conjunto com um grupo de leigos chamado o Caminho
Sinodal que tem como enfoque questões como o celibato sacerdotal, a moral
sexual, questões LGBTQ+ e o papel das mulheres.
Numa entrevista feita o ano passado a uma revista
católica alemã, o bispo Georg Batzing, de Limburg, presidente da Conferência
Episcopal alemã, reconheceu as críticas feitas “a nós alemães e à nossa forma
de fazer as coisas”, mas insistiu que ele e os colegas tinham de estar na linha
da frente para procurar formas de “prevenir que a distância entre o Evangelho e
a respetiva cultura se torne ainda maior”.
É evidente que este é o tipo de pensamento que tem
acompanhado e, pode-se argumentar, acelerado, a queda precipitosa do
protestantismo liberal durante anos.
Na melhor das hipóteses, por isso, o modelo sinodal é
aquilo a que um autor chama “andar a todo o vapor”. A Comissão Teológica
Internacional diz que é “o modus vivendi et operandi específico da Igreja”
enquanto comunidade de fiéis cujos membros “caminham juntos, reúnem-se em
assembleia e tomam parte ativa na missão evangelizadora”. Mas a comissão também
lança um aviso: “O perigo de cisma está sempre à espreita, e não deve ser
ignorado”.
Então a sinodalidade é um remédio ou uma ameaça? Na
verdade, pode não ser nem uma coisa nem outra, depende de quem está envolvido
no processo, como compreendem o seu papel e se demonstram muito ou pouco
respeito pela tradição católica.
Se vamos agora pelo caminho sinodal, que seja com
esperança cautelosa e cautela esperançosa.
Russell Shaw é autor de Papal Primacy in the Third Millennium (2000). O seu mais recente livro é American Church: The Remarkable Rise, Meteoric Fall, and Uncertain Future of Catholicism in America (2013).
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na Quarta-feira, 10 fevereiro de 2021)
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Sinceramente, eu não entendi de fato o que é isso (Sinodal), e para onde estamos caminhando. Estamos caminhando juntos pra onde? Há algo estranho nisso.
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