Joseph R. Wood |
Para aqueles que contam entre os seus parentes pessoas
com personalidades complicadas, mesmo sem pandemias e eleições as noções de
penitência e família encaixam bem e sem esforço. No Evangelho de São Mateus,
Cristo diz-nos para deixar “casas ou irmãos ou irmãs ou pai ou mãe ou filhos”.
(Lucas e alguns dos tradutores de Mateus incluem esposas, o que pode razoavelmente
entender-se como incluindo maridos também). Em troca promete-nos 100 vezes mais
e para alguns de nós uma curta pausa de ter de aturar parentes argumentativos
(ou pior) pode ser um bom começo.
Já outros gostariam de ter uma família, qualquer tipo de
família, das que discutem ou não, com a qual partilhar este período alegre e
penitencial do ano litúrgico, bem como os altos e baixos da vida.
A Igreja apresenta a Sagrada Família de Belém e de Nazaré
como um modelo para a vida familiar. A família é reconhecida como a relação natural
fundamental desde Aristóteles até às Escrituras, de Edmund Burke a Winston
Churchill.
Aqueles que não têm a sorte de ter uma vida familiar
especialmente alegre poderão ter bem a noção de que a Sagrada Família era
atípica. A mãe e esposa não carregava os efeitos o pecado original; o padrasto
e marido teve sonhos convincentes de que a sua esposa era fiel tanto a ele como
ao grande plano de redenção; e o filho era Deus.
Trata-se de um modelo que os mortais decaídos têm dificuldade
em seguir, mesmo na melhor das situações. Mas a Igreja tem razão quando diz que
a nossa maior alegria nesta terra vem de tentar seguir fielmente esse modelo, nas
famílias e nas comunidades, e que quem não tiver esse tipo de amor sofre
profundamente.
A sua proibição do divórcio, a afirmação de que o
adultério é pecado e a sua obediência aos pais depois da aventura de três dias
no templo, são a forma como Cristo fortaleceu o nosso conceito de família. A
parábola do Filho Pródigo realça o amor de um pai pelo seu filho desviado e a
necessidade de um irmão mais velho se colocar acima do ressentimento de um filho
obediente que se sente negligenciado.
Os milagres em que Jesus cura crianças, parentes, criados
e até a sogra daqueles que lho pedem com fé mostra a sua atenção e afeto
especial para com a família. O seu primeiro milagre público foi fornecer vinho
para um casamento, onde as famílias celebram a criação de uma família nova.
Cristo cura o homem cego cujos pais, com medo dos fariseus
e distanciando-se do seu filho, escondem qualquer interesse no assunto que
possam ter.
Mas é evidente que Cristo nos chama a mais do que a nossa
família natural. Frequentemente chama a nossa atenção para outra família, sobrenatural,
que é verdadeiramente sua. Os membros dessa família podem vir, ou não, de lares
felizes.
Os seus discípulos largam as suas famílias e negócios
mundanos para o seguir.
Diz a um potencial seguidor para não esperar para cumprir
a sua vontade admirável de sepultar o seu pai e a outro que adiar para dizer
adeus à sua família não era forma de o seguir. Ele não aceita hesitações por
parte daqueles que chama das suas famílias naturais para se juntar à sua.
Jesus insiste que veio trazer divisões aos lares e que quem ama pai, mãe, irmã ou irmão mais do que a Ele não é digno dele. Todos os Evangelhos sinópticos incluem versões da sua exigência para que deixemos pais, irmãos, esposos e lares para o seguir.
Chamado pela sua própria família natural enquanto
pregava, responde que a sua família – os seus irmãos, irmãs e mãe – são todos aqueles
que fazem a vontade do seu Pai.
Respondendo a uma questão hipotética por parte dos
saduceus, sobre uma viúva que desposou sete irmãos, assegura-nos de que na
Ressurreição não casam nem se dão em casamento. Os votos que estão na base da
família natural não são vinculativos depois da morte e o casamento, tal como o
conhecemos agora, não existe na eternidade.
Estará Cristo a denegrir a família natural? De todo.
Está a anunciar outra família, uma família final que
perdurará para a eternidade. Tal como Santo Agostinho explica que a cidade
humana não é a nossa pólis final e que nos encontramos a caminho da Cidade de
Deus e existe uma família final para além daquela em que estamos colocados
agora. São Paulo confirma-o.
Para deixar mais claro, Cristo compara o seu Reino a um
casamento, o evento na terra onde uma nova família se forma.
Ele institui esta outra Sagrada Família quando, pendurado
na Cruz, o seu trabalho na terra já está completo. Diz à sua mãe “eis o teu
filho” e a João diz “eis a tua mãe”. No momento mais significativo da sua vida utiliza
a linguagem da família natural para nos orientar para a nossa família final.
Esta outra Sagrada Família já não depende das
circunstâncias do lar em que nasceram, sem qualquer voto na matéria. Ser filho
ou filha nesta Sagrada Família final requer uma decisão de fé.
Os tempos penitenciais são a base da maior das festas
familiares. A difícil caminhada até Belém que recordamos no Advento leva-nos
até à Sagrada Família no Natal; e a Quaresma traz-nos a outra Sagrada Família
aos pés da Cruz e a sua alegria pascal. A família que não encontra abrigo para
o nascimento do seu filho aponta para a família no Calvário. A alegria da Encarnação
que se torna visível para os pastores e para o mundo no Natal aponta para a
alegria da Ressurreição.
Estes tempos ensinam-nos que toda a gente – das casas
onde estas coisas são compreendidas e vividas, de casas onde reina a tragédia
ou de casas que nem o são – tem o dom revelado no Evangelho de São João, o
poder de se tornarem, através da Graça, filhos de Deus.
Somos chamados a ser membros das nossas famílias terrenas agora, quando também nós procuramos abrigo, aos pés da cruz e aí, por fim, membros da outra Sagrada Família, para a eternidade.
Joseph Wood é professor no Instiute of World Politics em
Washington D.C. e colaborador na Cana
Academy.
(Publicado pela primeira vez no domingo, 29 de novembro
de 2020 em The
Catholic Thing)
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