Michael Baruzzini
|
***
Em Dezembro de 1892 uma menina, Marija, nasceu na ilha de
Korčula. A sexta filha de Marija e Antun Petković revelou uma devoção precoce a
Deus e pelos actos de caridade e em 1906 tinha já feito um voto de castidade e
trabalhava com as Filhas de Maria, chegando rapidamente à presidência deste e
de outros movimentos nos anos seguintes. Em 1919 Marija entrou para um convento
das Servas da Caridade.
***
O submarino USS Atule (que como outros daquela era foi
baptizado com o nome de um peixe) foi inaugurado em Março de 1944. Em Outubro
estava pronto para acção e já tinha chegado a Pearl Harbour; pouco depois rumava
a alto mar para combater as forças navais do Japão. Participou na busca por
navios inimigos que fugiam à Batalha do Golfo de Leyte e depois seguiu para o
Mar da China. No dia 1 de Novembro o Atule afundou o Asama Maru. Continuou em
serviço até ao fim da guerra e anos mais tarde.
***
Pouco depois de Marija Petković ter entrado no convento, a
madre superiora morreu e as restantes freiras regressaram à Itália. Marija
ficou na Croácia e, em 1920, estabeleceu uma nova ordem religiosa, a
Congregação das Filhas da Misericórdia. Marija foi escolhida como a primeira Madre
Superiora. Ao longo dos anos seguintes as obras de misericórdia da ordem
multiplicaram-se, primeiro pela Croácia e depois nas regiões circundantes – e
finalmente para a América do Sul, onde a própria Marija viveu durante 12 anos e
onde a ordem e a sua fundadora ganharam fama pelo seu serviço aos pobres.
***
Em 1970 o já antigo submarino Atule foi desactivado. Foi
vendido ao Peru quatro anos mais tarde e activado novamente como BAP Pacocha,
em homenagem a um conhecido conflito entre rebeldes peruanos e a Marinha
Britânica.
***
Marija Petković foi da América do Sul para Roma em 1952. Em
1954 ficou paralisada devido a um AVC, mas continuou como superiora da sua
ordem. Sete anos mais tarde resignou e dedicou-se a uma vida de oração e
silêncio. Morreu no dia 10 de Julho de 1966, aos 74 anos.
***
No dia 26 de Agosto de 1988 o BAP Pacocha navegava à
superfície, a caminho da base, com 49 almas a bordo. Ao cair da noite foi
atingido pelo navio de pesca Kiowa Maru. As escotilhas exteriores estavam
abertas e, afundando-se, começou a meter água. O comandante do submarino, capitão
Daniel Neva Rodriguez, morreu ao fechar a escotilha na ponte da torre. Outros
três marinheiros morreram com o impacto inicial. Vinte e três conseguiram
abandonar o navio antes de se afundar e, destes, três morreram nas águas
geladas. Os restantes ficaram presos no interior.
Na sala dos torpedos dianteira, o tenente Roger Cotrina
Alvarado estava a fechar as escotilhas e as portas estanques. Quando tentava
fechar a escotilha da sala dos torpedos entrou água com uma força irresistível,
entalando a perna de um marinheiro. A água salgada jorrava para dentro da sala.
Cotrina não tinha força para contrariar o fluxo e mover a escotilha para
libertar a perna do marinheiro e selar a sala.
Beatificação de Marija Petkovic |
Um relatório da Marinha Americana sobre o incidente, feito
em 1989, explica o que se passou a seguir: “Com a Pacocha a descer até ao fundo
do mar, a água jorrou pela escotilha dianteira, atirando com o tenente Cotrina
pela escada abaixo mas, felizmente, pouco depois, a água fechou a escotilha”.
O relatório continua: “O tenente Cotrina considera que se
tratou de um milagre”.
***
No espaço de cinco minutos o Pacocha, gravemente danificado,
tinha assentado no fundo, debaixo de 40 metros de água. Com as escotilhas
essenciais fechadas, de forma a evitar a entrada de mais água, vinte e dois
homens continuavam encurralados lá dentro. O tenente Cotrina era o oficial mais
graduado a bordo. Quando o Pacocha não chegou ao porto, e tendo em conta o
relato de uma possível colisão por parte do Kiowa Maru, foi rapidamente lançada
uma missão de resgate. A tripulação encurralada lançou foguetes de iluminação e
foram enviados mergulhadores. Estabeleceu-se comunicação com os sobreviventes
dentro do navio afundado e quando chegou a manhã a tripulação dividiu-se em
grupos e começou a usar, à vez, os sistemas de evacuação de emergência.
Por terem estado encurralados a tal profundidade há tanto
tempo, alguns dos tripulantes começaram a exibir sintomas de doença de
descompressão quando chegaram à superfície. Usou-se uma câmara de pressão para
os tratar, mas apesar dos esforços um dos tripulantes morreu. Ainda assim, dos
49 tripulantes originais do Pacocha, 41 sobreviveram.
***
Investigações levadas a cabo tanto pela Marinha peruana como
pelo Vaticano concluíram que o fechar da escotilha da sala dos torpedos era
humanamente inexplicável. Em Roma, a Congregação para as Causas dos Santos
atribuiu o evento à intervenção de Marija Petković. No dia 6 de Junho de 2003,
o Papa João Paulo II celebrou a sua missa de beatificação em Dubrovnik. Entre
os presentes encontrava-se o tenente Cotrina.
No passado domingo cumpriram-se 50 anos da sua morte.
Michael Baruzzini é um freelancer e editor da área
científica que escreve para publicações científicas e católicas, incluindo a Crisis, First Things, Touchstone, Sky & Telescope, American Spectator e outras. É também o
fundador de CatholicScience.com,
que oferece currículos e recursos científicos online para estudantes católicos.
(Publicado pela primeira vez no Domingo, 10 de Julho de
2016 em The Catholic Thing)
© 2016 The
Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução
contacte: info@frinstitute.org
The Catholic Thing é um fórum de opinião católica
inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus
autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o
consentimento de The Catholic Thing.
No comments:
Post a Comment