Tuesday 31 January 2012

Igreja Anglicana e homossexualidade

Se para os menos atentos a posição assumida pela Igreja Anglicana de que vai opor qualquer lei que legalize o “casamento” homossexual possa parecer evidente, é na verdade longe disso.

A homossexualidade e a aceitação ou não das relações homossexuais é neste momento a pedra de toque de um conflito que é muito mais profundo e que ameaça romper a comunhão anglicana ao meio.

Aqui estão alguns factos curiosos sobre a comunhão anglicana e a homossexualidade que poderão ajudar a compreender a complexidade do assunto.

Da incompatibilidade com o Evangelho às bênçãos
Em 1998 a Conferência de Lambeth, que reúne todos os bispos anglicanos uma vez por década, declarou que as relações homossexuais são incompatíveis com as Escrituras.

Contudo, bastou quatro anos para a província anglicana do Canadá, que é das mais liberais da comunhão, permitir a bênção de uniões homossexuais.

O grande momento de clivagem surgiu, todavia, com consagração de Gene Robinson como bispo anglicano de New Hampshire, nos EUA. Gene Robinson já vivia, na altura, numa relação homossexual de longa data e é um vigoroso defensor do “casamento” entre homossexuais.

Na mesma altura um homossexual assumido, também ele a viver numa relação com outro homem, era candidato a bispo de Reading, em Inglaterra. Perante a polémica que surgiu entretanto, Jeffrey John acabou por retirar a sua candidatura.

Passados nove anos, existem actualmente dois bispos anglicanos a viver em relações assumidamente homossexuais. São eles o tal Gene Robinson e Mary Glasspool, bispa auxiliar de Los Angeles. Glasspool foi ordenada bispa depois de fortes avisos por parte de outras províncias [Igrejas nacionais] de que poderiam cortar relações com a Igreja Episcopaliana, como é conhecido o ramo americano da Comunhão Anglicana.

Mary Glasspool

Entretanto Jeffrey John, que hoje alega ser celibatário, foi falado como sendo candidato a mais duas dioceses, mas o nome acabou sempre por ser retirado. O Arcebispo de Cantuária, Rowan Williams, foi fortemente criticado por alegadamente ter “traído” o seu amigo Jeffrey John.

Arcebispo de Cantuária
Nesta matéria a posição pessoal de Rowan Williams, o Arcebispo de Cantuária, assume muita importância, uma vez que embora não tendo poderes efectivos é visto como “primus inter pares” da comunhão anglicana e a sua principal figura.

Mas determinar a posição de Rowan Williams não é fácil, uma vez que as suas opiniões pessoais não coincidem com a posição oficial da comunhão a que preside. Quando era Arcebispo do País de Gales, Williams defendeu que a união de duas pessoas do mesmo sexo era equiparável a um casamento. Defendeu esta posição numa carta pessoal a uma psicóloga evangélica que o questionou sobre o assunto referindo que, todavia, enquanto bispo tinha de defender a posição oficial e da maioria, que era precisamente o contrário da sua.

Também interessante é um ensaio escrito por Williams em 1989 chamado “The Body’s Grace”. Neste texto o agora Arcebispo de Cantuária afirma que o aspecto da procriação não é essencial para a legitimidade de um acto sexual, isto é, que uma relação sexual que seja estéril por natureza (como são as relações homossexuais) é legítima por si só. Rowan Williams conclui o seu ensaio da seguinte maneira dizendo que para uma igreja que já aceita a legitimidade da contracepção (caso da Igreja Anglicana), a condenação das relações homossexuais não faz sentido.

Chegamos finalmente à posição assumida agora por John Sentamu, que enquanto Arcebispo de York é a segunda figura da hierarquia anglicana e que afirma que a Igreja Anglicana vai combater qualquer medida que vise legalizar o “casamento homossexual”.

John Sentamu e Rowan Williams
Sentamu é em vários aspectos um aliado de Rowan Williams mas neste campo é bastante mais conservador. Embora tenha condenado as recentes leis que penalizam duramente as relações homossexuais na sua Uganda nativa, não é de modo algum um liberal neste campo. É por isso significativo que a) tenha sido ele a fazer as declarações e não Rowan Williams e b) que tenha envolvido toda a Igreja Anglicana e não tenha falado apenas em nome próprio.

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