John M. Grondelski |
Também nos ocorre o sacerdote inglês a quem recentemente foi negado acesso ao deputado Sir David Arness, enquanto este morria depois de ter
sido esfaqueado, no dia 15 de Outubro. O padre acorreu rapidamente ao local –
como já foi hábito os padres fazer – para administrar a Extrema Unção, mas foi
impedido de aceder à vítima para “evitar contaminar” o local do crime.
Claramente era mais importante que o homicida enfrentasse um juiz britânico do
que ajudar Arness a enfrentar o juiz eterno. Aconteceu o mesmo a padres nos
atentados da Maratona de Boston, em 2013. Na mentalidade actual as vítimas de
crimes não precisam de capelães.
O Concílio Vaticano II pede-nos que examinemos os “sinais
dos tempos”. Mas estes nem sempre são salutares.
Vivemos numa era de secularismo agressivo. Ao longo dos
últimos 70 anos os americanos foram bombardeados com propaganda sobre o “muro
de separação” que requer que a vida pública seja despida de todas as
influências religiosas. Algo que noutros tempos seria considerado um exercício normal
da liberdade religiosa que a Constituição garante – como por exemplo o acesso a
um capelão – foi transformado de repente numa espécie de súplica por isenção
das normas geralmente aplicáveis.
O secularismo cresceu de forma exponencial durante a COVID.
Com os opinadores a colocar todas as questões em termos de sobrevivência
física, as necessidades espirituais ganharam contornos de “súplica” por “isenções”
das “normais geralmente aplicáveis”. De acordo com esse modelo, numerosos
políticos consideram que têm autoridade para limitar o culto religioso e
hospitais negaram aos seus doentes moribundos acesso aos cuidados espirituais.
A Igreja também não ajudou. O “hospital de campanha” abandonou
o barco e os sacramentos não estavam disponíveis nas igrejas encerradas. A
experiência de abandono levou muitos crentes a comparar, de forma desfavorável,
a fuga de tantos capelães hoje com os quatro capelães que se aguentaram firmes
no navio depois de terem salvo, tanto espiritual como fisicamente, o maior
número possível de homens.
Os quatro capelães imortais |
Epstein foi felicitado
pela universidade de Harvard pelo seu livro “Good without God”, que defende “os
grandes propósitos, a compaixão e a conectividade” sem qualquer fundamento
religioso. O capelão “humanista/agnóstico/ateu” de Harvard foi considerado o “padrinho
do movimento humanista”. Harvard tem agora um capelão-mor que é “espiritual mas
não religioso!” (sem comentários pela “apropriação cultural” de um termo
religioso pelos ateus).
Pode-se ser um “capelão” espiritual mas não religioso num
local seguro como Harvard, onde as “vítimas” privilegiadas podem sentir a
angústia espiritual ao mesmo tempo que estão seguros de estar numa via rápida
para um bom emprego e futuro seguro. Mas
desculpem-me a audácia de notar que os capelães não são conhecidos tradicionalmente
por permanecer em locais seguros a beber cacau quente e a fazer festinhas a cachorrinhos
enquanto conversam sobre coisas fofas e “espirituais” com pessoas que estão…
seguras. Os verdadeiros capelães eram vistos antes em locais inseguros:
prédios em chamas, atentados, campos de concentração e navios torpedeados.
Como o bispo Robert Barron bem notou, um “capelão”
normalmente dirige o culto. Mas o que é que o humanismo ateu “cultiva” para
além do seu próprio umbigo? E como disse Karol Wojtyła, uma vez que Deus não é
o inimigo do homem, mas antes o seu complemento, um “humanismo” que nega o
destino sobrenatural do homem é ao mesmo tempo incompleto e anti-humano. O
encorajamento deste tipo de “humanismo”, designando os seus praticantes como “capelães”
é um caso de publicidade enganosa.
Na sequência da Covid-19 as pessoas precisam de capelães a
sério, do tipo que outrora conhecíamos. Enquanto estes têm visto os
seus serviços restringidos somos presentados com “capelães” que pregam o “evangelho
do homem” e, pior, políticos que não são capelães mas gostam de fingir que o
são na televisão, pregando a salvação de César enquanto proíbem a de Cristo.
Maximiliano Kolbe morreu capelão. Embora não tivesse sido
escolhido para ir para o bunker da fome, ofereceu-se para ir no lugar de outro.
Dezasseis dias mais tarde, depois de ter mostrado bem o que é o acompanhamento
de um capelão, conduziu a sua última congregação até às portas do Céu.
O autor polaco judeu/católico Roman Brandstaetter fez uma
vez a seguinte observação sobre um projeto editorial:
O DISPARATE DE IONESCO
Numa entrevista concedida recentemente à imprensa
francesa, Ionesco revelou que pretende escrever uma peça de teatro sobre São
Maximiliano kolbe. Disse então ao jornalista: “Estou agora num difícil dilema,
a pensar como é que posso escrever sobre este drama de forma que não seja
transformada numa peça de propaganda à ideia cristã”.
O escritor romeno-francês completou o texto para a ópera Maximiliano
Kolbe em 1987. Ajudou a criar o “Teatro do Absurdo” em França, que
basicamente rejeita a ideia de que existe um sentido para a vida. Brandstaetter,
que era também um excelente argumentista, capturou o absurdo em Ionesco, pois
como é que se escreve uma peça de teatro sobre um padre católico que
voluntariamente se oferece para morrer à fome num bunker por amor ao próximo,
tentando assegurar que “não seja transformada numa peça de propaganda à ideia
cristã?”
Por outro lado, talvez Ionesco estivesse a escrever a descrição de funções para aquilo que o mundo moderno procura num “capelão”.
John Grondelski (Ph.D., Fordham) foi reitor da Faculdade
de Teologia da Seton Hall University, South Orange, New Jersey. As opiniões expressas neste texto são apenas
suas.
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing no sábado, 6 de Novembro de 2021)
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