O Cardeal Dolan, de Nova
Iorque, deu uma conferência online para o clero na terça-feira e disse que,
segundo as suas fontes, o relatório McCarrick deverá sair ainda este mês. Disse
ainda que não sabe o que o relatório contém. Esta última afirmação é credível, quanto
à primeira, esperemos para ver.Stephen P. White
Faz dois anos desde que o
Vaticano anunciou que iria preparar um relatório sobre o caso de Theodore McCarrick.
Sobre a divulgação
do relatório, o cardeal Parolin disse que esta “depende do Papa. O trabalho
que foi feito está feito, mas a palavra final cabe ao Papa… Acho que sairá em
breve, mas não vos posso dizer precisamente quando”. Isto foi no início de
Fevereiro.
Já passou o segundo
aniversário da resignação de McCarrick do Colégio dos Cardeais. Desde então a
Conferência Episcopal americana votou duas vezes contra a ideia de pedir
publicamente ao Papa que publique o relatório completo de imediato.
Para quase todos – incluindo muitos
bispos individuais, se não em conjunto – a publicação do relatório é um passo necessário
e evidente para garantir a transparência. Idealmente essa transparência
conduziria à responsabilização. Prestar contas aos fiéis pela confiança que
lhes foi roubada deveria parecer uma mera questão de justiça.
Mais do que isso, a publicação
do relatório McCarrick é um passo necessário rumo ao tipo de reconciliação de que
a nossa Igreja, tão dividida e marcada, precisa tão urgentemente. Se os nossos
pastores querem recuperar a confiança que foi desbaratada, então têm de estar
dispostos a dizer quais as falhas que querem ver perdoadas. Os pedidos de perdão e reconciliação da hierarquia soam a falso enquanto esta continuar a esconder dos seus
membros a verdadeira dimensão daquilo que os nossos líderes fizeram ou não
fizeram.
Não é por acaso que os
católicos são obrigados a confessar pecados graves em número e espécie antes de
poderem receber a absolvição. E não que Deus seja forreta com o seu perdão,
mas porque o penitente que não esteja disposto a revelar de forma sincera os
seus pecados ao Senhor, um penitente que não esteja verdadeiramente contrito,
não está pronto a ser perdoado.
Como é que prelados, sejam
eles bispos, cardeais ou Papas, que não sejam capazes de revelar de forma
sincera os males que foram cometidos – e o mal que foi feito aos fiéis – podem esperar
perdão e reconciliação? Não é que os fiéis sejam forretas com a
misericórdia, mas porque a recusa em ser honesto é um sinal claro de falta de
contrição.
Até certo ponto é compreensível
que Roma se preocupe que o relatório McCarrick seja tão disruptivo e prejudicial
para a Igreja dos Estados Unidos que seja melhor esconder a verdade do mundo,
ou pelo menos aguardar até que as consequências possam ser mais facilmente
mitigadas. Nalguns casos de más notícias isto pode até ser sensato. Mas no caso
McCarrick o silêncio da Igreja e a falta de transparência são preocupantemente
semelhantes à cultura de encobrimento que nos trouxe até este ponto.
Quanto mais tempo se atrasar o
relatório McCarrick, mais a ferida aberta entre o rebanho e os pastores irá
deteriorar-se.
E acontece que esta desconfiança é prejudicial tanto para os fiéis como para a
Theodore McCarrick |
Igreja no seu todo. Prejudica
também todos aqueles cujos nomes foram manchados pela proximidade a McCarrick –
homens que, se estiverem inocentes de qualquer mal, merecem ser ilibados aos
olhos do público.
Depois de o arcebispo Viganó ter publicado o seu “testemunho” bombástico há dois anos o cardeal DiNardo, então presidente da Conferência Episcopal, emitiu uma resposta
ponderada e séria: “As
questões levantadas merecem respostas conclusivas e baseadas nas provas. Sem
essas respostas, homens inocentes podem ser manchados por falsas acusações e os
culpados ficam livres para repetir os pecados do passado”.
A desconfiança e a divisão que
se têm multiplicado na Igreja nos anos mais recentes (e claro que nem tudo tem
a ver com McCarrick) pioraram nestes últimos tempos, sobretudo nos Estados Unidos.
Penso que isto é claro para todos. A necessidade de reconciliação é urgente e
evidente. A publicação do relatório McCarrick, só por si, não vai resolver as
divisões da Igreja, mas o adiamento da sua divulgação é um obstáculo cada vez
maior a essa cura.
Muitos católicos perguntam se o relatório, quando for finalmente publicado, será uma manobra de diversão ou um
relato completo e honesto. A longa demora pode bem indicar que o relato vai ser
honesto, mas o atraso é também um obstáculo à reconciliação porque nos recorda
constantemente da cultura institucional de impunidade clerical que durante
décadas marcou a forma como se lidou com os casos de abusos na Igreja.
Nem toda a transparência,
honestidade e responsabilização do mundo podem sarar as feridas dentro da
Igreja. O tipo de reconciliação de que a Igreja precisa requer o perdão daqueles
que foram prejudicados. Para a maioria dos católicos, mesmo os que não são
vítimas de abusos sexuais, esta é uma proposta exigente.
Estamos preparados para
responder à honestidade – caso ela surja – com misericórdia? Estamos preparados
para acolher as verdades duras com humildade em vez de espírito vingativo? Em
vez de olhar para o outro lado ou desculpabilizar os pecados e os crimes?
Estamos preparados para
acolher bem aquilo que tantos de nós exigimos há tanto tempo? Estamos preparados
para a honestidade? Estamos preparados para confiar? Estamos preparados para
perdoar? Estas são as questões que devemos estar a colocar-nos e cujas
respostas devemos estar a preparar, enquanto esperamos.
Stephen P. White é investigador
em Estudos Católicos no Centro de Ética e de Política Pública em Washington.
(Publicado pela primeira vez
em The
Catholic Thing na Quinta-feira, 6 de Agosto de 2020)
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