Brad Miner |
Nos
Jogos de Inverno de Sochi, em 2014, os atletas russos e os seus “cientistas” fizeram batota em tão grande escala (sobretudo nas
análises à urina) que a Agência Mundial Antidoping recomendou que a Rússia
fosse banida de participar nos Jogos de Verão no Rio, em 2016. Isso não
aconteceu, embora a Rússia tenha sido subsequentemente banida dos Jogos de
Inverno de 2018 em PyeongChang. Ainda assim, alguns atletas russos competiram
como “Atletas Olímpicos da Rússia”, mas sem a bandeira da Rússia ou hino
nacional. (E mesmo muitos desses viriam a acusar em testes antidoping.)
No
geral o Comité Olímpico Internacional (COI) tem tido manifestado repetidamente um grande interesse – partilhado por todas as organizações que supervisionam desportos – em manter os Jogos Olímpicos livres de PEDs. Não só por
causa das vantagens competitivas que estas substâncias fornecem aos atletas,
mas também por causa do perigo que estas drogas apresentam para a saúde dos
mesmos atletas, no longo prazo.
O
ideal do atleta amador talvez já não exista nos Jogos Olímpicos, mas pelo menos
persiste a crença na importância de atletas naturalmente saudáveis.
Ou será?
O
COI e muitas – se não a maioria (e em Julho do ano que vem talvez todas) – as federações
atléticas defendem agora o uso de drogas mais extremas que se possa imaginar:
drogas supressoras de testosterona para homens que querem competir como
mulheres, isto é, atletas “transgénero” macho-para-fémea (MpF).
O
debate que ainda existe – se é que ainda existe – apenas diz respeito a quão suprimido
deve ser o nível de testosterona no atleta MpF, medida tanto nos níveis de soro
de sangue reduzido da hormona e na duração desses mesmos níveis.
Na
prática, o COI e outros estão a dizer que aquilo que define uma atleta
feminina, por exemplo, nos 100 metros é simplesmente o nível dessa hormona.
Atualmente, a fórmula do COI é: não mais que 10 nmols/L (nanomoles por litro)
de soro de testosterona durante pelo menos os 12 meses que antecedem a
competição. Segundo o COI: “As alterações anatómicas cirúrgicas como
precondição de participação não são necessárias para preservar a concorrência
leal e podem até ser inconsistentes com a legislação em desenvolvimento e com
noções de direitos humanos”.
Temos,
por isso, que um homem poderá qualificar-se para competir nos Jogos Olímpicos
de 2020 contra atletas nascidas mulheres desde que declare o seu “género” como
feminino e comece um regime de supressão de testosterona que coloque os seus
níveis em 10 nmols/L, mantendo-os assim até ao começo dos jogos, no dia 24 de
Julho de 2020.
A
questão aqui é que enquanto o nível normal de soro de testosterona nos homens é
entre 10.41 e 34.70 nmols/L, os níveis normais nas mulheres são entre 0.52 e
2.43. O que significa que um velocista MpF que se qualifique para os Jogos
Olímpicos com um nível de 10 nmols/L, isto é, o limite inferior do espectro de
testosterona masculino, continuará a ter quatro vezes mais do que o máximo para
mulheres.
Claro
que sabemos que isto é absurdo. Como se lê no recente documento do Vaticano “Homem
e Mulher Ele os Criou: Um caminho de diálogo sobre o assunto de género na
educação”:
O
processo de identificação da identidade sexual é dificultado pela construção
fictícia conhecida como “género neutro” ou “terceiro género”… As tentativas de
ir para além da diferença sexual constitutiva macho-fémea, tal como as ideias
de “intersexo” ou “transgénero” conduzem a uma masculinidade ou feminilidade
ambíguas pese embora (de forma contraditória) esses mesmos conceitos
pressuponham na verdade essa mesma diferença que se propõem a negar ou
ultrapassar.
Tiffany (ex-Rodrigo) Abreu, estrela de vólei feminino no Brasil |
O
recorde mundial dos 100 metros femininos de Florence Griffith Joyner em 1988,
de 10,49 segundos, foi um grande feito (talvez até sem a ajuda de PEDs). Mas
este ano, no campeonato dos 100 metros masculinos das escolas secundárias no
Estado do Texas, Matthew Boling fulminou o recorde americano com uns incríveis
9,98 segundos. Joyner tinha 29 anos quando bateu o seu recorde mundial; Boling
tem 18. E ao longo de 2019 todos os primeiros 75 velocistas masculinos dos
campeonatos do ensino secundários bateram o recorde mundial de Joyner.
Estou
a focar-me nestes alunos de liceu porque se trata de rapazes que já atingiram o
auge do seu desenvolvimento biológico natural, sem a ajuda de drogas, e mesmo
depois de passar a puberdade continuarão a beneficiar deste estímulo hormonal
da adolescência em termos de altura, peso, velocidade e força. A supressão de
testosterona poderá diminuir este benefício, mas só um pouco.
Volto
a insistir que para competir em Tóquio um atleta MpF não precisa de parecer uma mulher. Com base no que se tem visto em competições recentes em que têm
participado atletas MpF, alguns terão penteados “femininos” e outros poderão
ter sinais de aumentos mamários. Outros vão simplesmente parecer gajos. Mas,
como o COI já disse (graças a Deus!), não são precisas intervenções agressivas,
como aquelas a que se sujeitam alguns transgéneros MpF: implantes mamários;
rapagem da maçã-de-Adão; orquiectomia (remoção dos testículos); penectomia (a
amputação do pénis); nem as subsequentes vaginoplastias, labiaplastias ou
clitoroplastias – que requerem uma vida inteira de terapia hormonal (estrogénios,
antiandrógenicos, progestogéneos e moduladores de libertação de gonadotropina –
qualquer uma destas, se não todas), não vá o corpo começar a reafirmar-se, o
que, inevitavelmente fará caso as intervenções químicas falhem, uma vez que é
essa a sua natureza.
Para
além disso, não há qualquer intervenção que possa transformar uma pessoa XY
numa pessoa XX. Essa diferença cromossómica e biológica, que define um homem e uma
mulher, é que é natural. É por isso que o Vaticano considera que qualquer
tentativa de mudar o género é “fictícia”.
As
regras do COI para atletas femininas que se apresentam como homens apenas
reforçam essa ficção. Na verdade, não existem regras, pois nenhuma mulher seria
capaz de competir contra um homem, seja qual for o sexo que afirma ser.
Escrevi sobre este assunto e o seu impacto no mundo do desporto em 2016, e desde
então as coisas só pioraram. Contudo, agora vemos algumas mulheres jovens a defender-se daquilo a que algumas apelidam de transjacking,
e isso é uma boa notícia.
(Publicado pela
primeira vez na segunda-feira, 24 de Junho de 2019 em The Catholic Thing)
Brad Miner é editor chefe de The Catholic
Thing, investigador sénior da Faith & Reason Institute e faz parte da
administração da Ajuda à Igreja que Sofre, nos Estados Unidos. É autor de seis
livros e antigo editor literário do National Review.
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