Transcrição integral
da entrevista ao padre Pedro Lourenço, sobre a importância e o significado da
festa de Pentecostes para os cristãos. A notícia encontra-se aqui.
Qual é a importância
da festa do Pentecostes?
A solenidade de Pentecostes é o encerramento do tempo da
Páscoa, é o último dia do Tempo Pascal. Não é só uma festa de fecho mas de
completar aquilo que é o sentido da Páscoa. O tempo pascal é o tempo em que
celebramos a Ressurreição de Jesus e o seu dom mais importante, o dom do
Espírito.
Cinquenta dias depois há esta celebração para recordar
aquilo que aconteceu aos apóstolos, descrito no Acto dos Apóstolos, o dom do
Espírito sobre os apóstolos reunidos em oração e, por sua vez, a sua missão
para toda a Igreja e envio ao mundo.
É a altura em que a
Igreja sai do Cenáculo…
É interessante reparar que a tradição cristã, e a tradição
litúrgica na vivência cristã, coloca a celebração do dom do Espírito no chamado
dia de Pentecostes que já se chamava assim na própria vivência judaica. Era já
um dia significativo para o calendário judaico.
Mas no Evangelho de São João o dom do Espírito não acontece
assim separado 50 dias da Páscoa. Na tarde da Ressurreição estavam reunidos os
apóstolos e Jesus aparece no meio deles e comunica-lhes o Espírito Santo. Sopra
sobre eles e diz: “recebei o Espírito Santo, aqueles a quem perdoardes os
pecados serão perdoados”.
Portanto o dom do Espírito na perspectiva da teologia de São
João é um fruto imediato da Páscoa, na perspectiva dos Actos dos Apóstolos, e
isso depois marcou o calendário cristão. Acontece 50 dias depois da Páscoa, a
culminar esta obra de Cristo. É a realização da promessa que tinha feito aos
discípulos: “Eu vou para o Pai, mas sereis revestidos da força do alto e sereis
minhas testemunhas”, neste sentido pode-se dizer que é de facto a manifestação
deste dom de Deus que faz com que a Igreja se manifeste ao mundo realizando a
sua missão.
A Igreja nasceu na Cruz, mas a manifestação da Igreja e a
sua capacidade de testemunhar é fruto do Espírito que se manifesta agora no
Pentecostes.
Se os Judeus celebram
a entrega da Lei a Moisés neste dia, do ponto de vista cristão pode-se ler o
Pentecostes como o dom de interpretar correctamente a Lei?
Essa perspectiva não está excluída, mas mais do que isso,
trata-se de entender o espírito como a plenitude da Lei, a nova Lei de Deus,
gravada nos corações, pelo dom do Espírito.
Para os judeus esta festa era primeiramente a festa das
colheitas, depois ganha esta perspectiva teológica de ser o dom da Lei.
Sem dúvida que os acontecimentos bíblicos servem-se da
perspectiva profética que existia na vivência da fé judaica, dando um novo
sentido, um sentido cristão, ao que se realizava. O chamado dia de Pentecostes
não é um nome cristão, os actos dos Apóstolos dizem que “quando chegou o dia de
Pentecostes os apóstolos estavam reunidos”, era já um dia assim chamado no
próprio calendário judaico e significava os 50 dias depois da Páscoa judaica,
também.
É entendido na perspectiva cristã como o completar-se desta
obra pascal pelo dom do Espírito e nesta perspectiva da Lei como a nova Lei
dada por Deus a partir de Cristo, que não anula a Lei anterior, que a leva à
plenitude, como o próprio Cristo diz.
Que tradições estão
associadas a esta festa litúrgica?
Nós agora referimo-nos ao Pentecostes como o quinquagésimo
dia, ou seja, cinquenta dias depois da Páscoa, mas nos primeiros séculos os
autores referiam-se ao “tempo de Pentecostes”, ou seja ao tempo dos cinquenta
dias entre o tempo de Páscoa e o quinquagésimo dia.
Todo este tempo era o “tempo do Pentecostes” e por isso o
tempo do Espírito Santo, e na tradição popular portuguesa encontramos as Festas
do Espírito Santo, muito vincadas nos Açores. Este culto ao Espírito Santo
manifesta-se como experiência de caridade, de vivência da humildade. Isso
manifesta-se na caridade fraterna, a matança do boi e da carne que chega para
todos, do pão dado a todos, as sopas do Espírito Santo, nos Açores.
Aqui no Continente essas tradições perderam-se bastante, ainda
se conserva nalguns locais mas com pouca expressão, por exemplo em Alenquer havia
as festas do Espírito Santo; e no Penedo, em Sintra. A festa dos Tabuleiros em
Tomar tem, creio, essa origem, com a ideia do pão para todos. Isto ligado à tal
tradição judaica de acção de graças pela colheita, aquilo que recebemos como
dom de Deus reparte-se para todos pela acção do Espírito, que é amor.
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