Esther Mucznik (Foto DN) |
Fale-nos um pouco
deste centenário
Esta comunidade, que chamamos a comunidade moderna é datada
do início do século XIX, quando começaram a chegar judeus de Marrocos ou de
Gibraltar que se instalaram em Lisboa, começaram a organizar-se e integraram-se
muito bem na sociedade lisboeta daquela época. Organizaram-se com pequenas
sinagogas em apartamentos, cemitério próprio, organizações de beneficência,
tudo isso.
Mas na realidade a comunidade só foi legalizada, com os
estatutos reconhecidos pelo Governo Civil de Lisboa, em Maio de 1912.
É isso que estamos a comemorar este ano, convidámos todos os
Presidentes da República vivos, ministros, uma série de entidades oficiais,
confissões religiosas que estão em Portugal, os amigos da comunidade. O que
comemoramos sobretudo é a liberdade religiosa. A liberdade religiosa é um
processo, não nos é dada de uma vez por todas. Começa com o final da inquisição
em 1821, tem um arco importantíssimo em 1912 com o reconhecimento legal e tem
um outro momento fundamental que é a lei da liberdade religiosa em 2001.
Mas não consideramos o caso encerrado. Hoje vivemos numa
situação de democracia, de liberdade, o que é fundamental para a integração das
pessoas e das comunidades, das minorias, na sociedade portuguesa, mas temos de
estar sempre vigilantes porque a liberdade é um bem muito precioso, demasiado precioso
para ser deixado assim sem nos preocuparmos com isso. É um processo.
Comemoramos a liberdade religiosa, a vitalidade que a comunidade passou a
conhecer depois de poder actuar às claras, a fidelidade da nossa comunidade aos
princípios do Judaísmo e à vida judaica, e celebramos estes 100 anos com os
olhos postos nos próximos 100 anos.
A cerimónia vai ter as mensagens dos diferentes
representantes oficiais da comunidade. Vamos ter também um pequeno vídeo de 10
ou 12 minutos que passa história da comunidade nestes 100 anos. Vai ser
distribuída uma brochura com a história mais aprofundada dos 100 anos da
comunidade, é uma cerimónia simples, simbólica, vai ter também os salmos que
serão lidos pelo rabino da comunidade e esperamos mensagens dos ministros que
vão estar presentes, do presidente da Câmara de Lisboa, do secretário de Estado
da Cultura também.
Esse documento que
reconheceu a comunidade existe e está exposto?
Existe, somos os guardiões da memória, como sabe. Temos esse
alvará. Ele não vai estar exposto mas estará no vídeo e na própria brochura.
Quantos membros tem a
comunidade hoje?
Uma coisa é a comunidade, outra coisa são os judeus de
Lisboa, nem todos pertencem à comunidade.
São à volta de 500 pessoas que são filiadas, que pagam as
quotas, e cerca de 750 a 800 judeus em Lisboa.
É difícil dizer, é uma comunidade muito pequena. Ela é o
resultado da história. Quando era possível os judeus virem para cá, Portugal já
não era um país de grande atracção para imigrantes.
Agora tem muito mais gente que vem, por causa da União
Europeia, mas são pessoas que vêm e estão uns anos e participam enquanto estão,
mas depois muitos vão-se embora. É uma população flutuante, por isso é difícil
dizer.
Finalmente temos também os descendentes dos antigos cristãos
novos e que se consideram judeus. Por isso é que nos censos há sempre muito
mais pessoas que se consideram judias do que os filiados nas próprias
comunidades.
A este respeito, sugiro ainda a leitura deste artigo de Abril de 2011, sobre a lei de separação entre o Estado e a Igreja e os efeitos que teve para a comunidade judaica.
A este respeito, sugiro ainda a leitura deste artigo de Abril de 2011, sobre a lei de separação entre o Estado e a Igreja e os efeitos que teve para a comunidade judaica.
No comments:
Post a Comment