James V. Schall, S.J. |
Com todo o respeito pelas
mentes angélicas, não percebo que mais é que os apóstolos deveriam estar a
fazer perante uma cena tão formidável. A repreensão é normalmente compreendida
como sendo um espicaçar para que os Apóstolos comecem a cumprir a missão que o
Senhor os deixou. A contemplação deveria extravasar para a acção. Ainda assim,
os Apóstolos precisavam de algum tempo para absorver tudo aquilo.
A outra passagem está em Actos
19. Paulo está para os lados de Éfeso. Pergunta a uns discípulos se ja
receberam o Espírito Santo. Eles respondem com franqueza: “Mas nós nem sequer
ouvimos dizer que existe o Espírito Santo”. Pensando bem, de certeza que a
maioria das pessoas no mundo hoje, se questionadas, responderiam da mesma
forma. E nós, cristãos, que ouvimos falar no Espírito Santo ficamos confusos
com a sua presença na Santíssima Trindade e no mundo. Esta confusão é um
incentivo para pensarmos nesse mesmo Espírito Santo.
A cena de Pentecostes no
Evangelho de São João surpreende-nos por outra razão. Os discípulos estão numa
sala com as portas fechadas, com medo dos judeus. Cristo aparece no meio deles
e diz-lhes: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio”.
Eles sabiam o que significava
uma tarefa enviada pelo Pai. Então Cristo respirou sobre eles: “Recebei o
Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados serão perdoados, mas
aqueles a quem os retiverdes, serão retidos.” Com esta missão eles estão agora
ligados ao plano divino através do mesmo Espírito Santo enviado pelo Filho e o
Pai. O que é que isto significa?
São Basílio Magno escreveu um
tratado sobre o Espírito Santo. “Os títulos dados ao Espírito Santo devem
certamente mexer com a alma de quem os ouve”, diz-nos. “Eles levam-no a
perceber que se trata de nada menos que o Ser supremo.” Que títulos são esses?
Ele é “conhecido por Espírito de Deus, Espírito da verdade, que procede do Pai,
o Espírito constante, o Espírio que guia. Mas o seu título principal e mais
pessoal é Espírito Santo.” A Santidade representa a Trindade na sua vida
interior.
No Credo de Niceia dizemos:
“Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a Vida, que procede do Pai e do Filho;
com o Pai e o Filho é adorado e glorificado. Ele falou pelos profetas.” Como é
que entendemos que o Espírito “falou pelos profetas”?
Como é evidente, o que se
passou no Antigo Testamento, aliás em todo o cosmos, bem entendido, foi a
preparação para a Encarnação do Verbo no meio de nós. Da mesma forma, depois do
regresso de Cristo para o Pai, o Espírito – o advogado – é-nos enviado para
executar este mesmo plano.
A ideia de que possamos estar
envolvidos num “plano” a ser executado pela divindade no meio de nós parece-nos
um atentado à nossa autonomia. Não precisamos de ajuda. Supostamente é essa a
nossa dignidade. Contudo, no seu discurso de despedida aos cristãos de Éfeso,
Paulo, que não espera voltar a vê-los, diz que pregou o plano, ou o propósito,
de Deus. Não se trata do seu plano pessoal.
Outro dos nomes dado ao Espírito
é “dom”. A vida interior da Trindade desemboca no Espírito Santo. A plenitude
da vida já está aqui. Ela não “precisa” de mais nada. Deus não precisa de nós
porque lhe falta alguma coisa, não é essa a natureza da nossa relação com Ele.
À primeira vista pode parecer
que este facto diminui a nossa significância. Mas é precisamente o contrário. Nós
relacionamo-nos com Deus inteiramente por dádiva. Aquilo que somos neste mundo
teve origem em algo que está para além da justiça. Existimos por causa da
abundância, e não da necessidade, que existe no seio da Trindade. Este facto
significa que tudo de nós, incluindo nós mesmos, é dom.
São Basílio também nos diz que
o Espírito “ilumina aqueles que foram purificados de toda a mancha do pecado e
torna-os espirituais pela comunhão consigo.” Às vezes esquecemo-nos que Cristo
veio para o mundo para nos redimir dos pecados. Ele não veio para os
ultrapassar, para nos dizer que não interessavam ou para fingir que nunca
tinham acontecido. Ele veio para nos perdoar.
O que torna o Cristianismo
diferente de todas as filosofias e religiões não é que elas não têm
conhecimento do pecado ou de que há algo de mal com a humanidade; é que elas
não têm forma de perdoar os pecados. Sozinhos, os cristãos também não. Também
isso é algo que nos é dado.
James V. Schall, S.J., é professor
na Universidade de Georgetown e um dos autores católicos mais prolíficos da
América. O seu mais recente livro chama-se The
Mind That Is Catholic.
(Publicado pela primeira vez na
Terça-feira, 29 de Maio 2012 em http://www.thecatholicthing.org)
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Sim, sim: falar do Espírito Santo é sempre novidade. Porque Ele é a novidade infinita. Mas também porque nós nos esquecemos d'Ele. Já o disse o Papa Leão XIII. Faz bem, Caro Filipe, em destacar esta notícia.
ReplyDeleteFC
Sobre a Santíssima Trindade, nunca percebi porque é que é um "mistério". Para quem acredita facilmente entende que Deus, um Enviado de Deus e o Espírito de Deus, estão juntos. Não consigo entender as dúvidas.
ReplyDeleteAgora o que não percebi muito bem foi o último parágrafo. "O que torna o Cristianismo diferente de todas as filosofias e religiões não é que elas não têm conhecimento do pecado ou de que há algo de mal com a humanidade; é que elas não têm forma de perdoar os pecados. Sozinhos, os cristãos também não. Também isso é algo que nos é dado"?????
As outras religiões e filosofias reconhecem que o homem é pecador, mas não têm forma de perdoar os pecados. Isso é algo que é exclusivo do Cristianismo, mas não por mérito ou característica dos cristãos, é antes um Dom.
ReplyDeletePenso que é essa a ideia.
Desculpe! Fiquei ainda pior. De qualquer modo, obrigada pela tentativa. Não se preocupe, não foi você quem fez o discurso...
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