Anda cá "reforçar a ligação", anda... |
O decreto-geral (disponível no site do Vaticano emitaliano), vem acompanhado de uma carta explicativa, (disponível em italiano e em inglês).
Comparando as novas regras com o tom da carta chega a ser cómico,
este é um exemplo clássico de “Vaticanês”. Ao longo de todo o texto as
alterações que agora entram em vigor são apresentadas como sendo um simpático
gesto de amor fraternal, um “reforçar de laços” e “confirmar de proximidade e
de comunhão” entre a organização e o sucessor de Pedro.
Na prática, contudo, o Vaticano esvazia completamente de
poder a Caritas Internationalis. Os seus textos com conteúdos morais ou
doutrinais passam a ter de ser aprovados pela Cor Unum, o mesmo organismo passa a vetar também todos os acordos estabelecidos com ONGs ou
outras organizações. A Secretaria de Estado tem de aprovar e regular todos os
acordos feitos com outros países e os detentores de altos cargos devem fazer juramentos de fidelidade e de "obediência cristã" à Igreja.
O secretário-geral e o presidente já precisavam de ser
aprovados pela Santa Sé, mas agora essa necessidade estende-se ainda ao
tesoureiro. O Papa passa ainda a nomear directamente três representantes para o
Conselho Executivo. Segundo o documento é
para: “sublinhar a ligação próxima
entre a organização e o sucessor de Pedro, bem como a atenção particular que o
Papa lhe presta.”
É difícil não
tecer comparações entre este documento e a recente condenação de desviosdoutrinais que foi feito à organização que reúne as congregações de religiosasnos Estados Unidos. Este decreto, contudo, deverá passar mais despercebido e está
numa linguagem substancialmente mais diplomática, mas torna-se evidente que o
Vaticano tem sérias reservas em relação à forma como a Cáritas está a ser
gerida neste momento.
Julgo que ambos os
casos mencionados devem ser lidos à luz de uma tendência que o Vaticano está a
tentar recuperar. Trabalho social sim, mas sem pôr em causa a identidade
católica das organizações. Isto é, é muito importante ajudar os pobres, os
doentes, os presos etc. Mas a principal função da Igreja é levar Cristo às
pessoas e ao mundo. É verdade que isso se pode fazer pelo testemunho e não de forma
explícita, mas é incompatível com certas práticas que minam a mensagem cristã,
ou a deturpam. Era isso que se passava com as religiosas americanas e parece
ser essa uma das preocupações em relação à Cáritas.
Ou seja, estas
novas regras parecem ser uma espécie de “abanão” para recordar a Cáritas e
outras organizações oficialmente católicas de que são isso mesmo, católicas, e
que esse adjectivo carrega consigo grandes responsabilidades.
Sublinho que tudo
o que aqui está escrito diz respeito à Cáritas Internacional e não a cada
delegação diocesana. Não vejo por isso qualquer razão para que a organização
que tanto faz para combater a pobreza e a exclusão em Portugal não continue a
merecer a nossa confiança.
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