Estive fora de Portugal os últimos dias e por isso fui apanhado de surpresa com a “polémica” do mais recente livro de José Rodrigues dos Santos.
Mais surpreendido fiquei quando soube qual o livro que serviu de base para toda a tese do jornalista. Passo a explicar.
Em Junho de 2007, quando trabalhava na revista Os Meus Livros, fui convidado a participar num debate sobre Deus e a Literatura, onde partilhei uma mesa com José Rodrigues dos Santos, o padre Carreira das Neves e Álvaro Santos Pereira, simpático autor do livro “Diário de um Deus Criacionista” e organizador da iniciativa.
A minha contribuição para o debate centrou-se na apresentação breve de uma selecção da multidão de títulos que tinham sido publicados recentemente e que envolviam de alguma maneira Deus e a religião. Isto foi no auge do fenómeno Dan Brown, por isso foi preciso uma caixa para levar apenas aqueles que tinha achado mais curiosos.
A esmagadora maioria eram teorias da conspiração que rapidamente caíram no esquecimento. Mas havia um que era especialmente curioso, escrito por um tal Bart Ehrman. Em português chamava-se: “Os Monges que Traíram Jesus” e tinha na capa um desenho de dois monges em posição de conspiração sinistra.
Tudo indicava que se trataria de mais um romance conspirativo de meia-tigela. Mas não, afinal era um interessante, embora discutível, tratado académico sobre como várias passagens da Bíblia mudaram e evoluíram ao longo do tempo. E mais, o título em inglês: “Misquoting Jesus: The Story Behind Who Changed the Bible and Why”era muito mais suave do que a versão bombástica que foi escolhida pelos editores portugueses.
Cinco anos mais tarde, não é que descubro que foi precisamente este livro e este autor que José Rodrigues dos Santos usou para sustentar as teses da sua obra? Não presumo assumir responsabilidade pela relação, simplesmente realçar uma coincidência.
De resto, que dizer deste livro? Nada que não tenha já sido dito por pessoas mais credenciadas que eu. Enquanto jornalista de religião, com alguns anos de experiência no sector dos livros, apenas tenho a lamentar ter de assistir ao percurso de um homem como José Rodrigues dos Santos, que começou por escrever livros bem sucedidos e originais e agora acaba por chafurdar no mesmo lodo que tantos outros.
Se ao menos fosse o primeiro português a fazê-lo, teria esse crédito, mas Luís Miguel Rocha ocupou esse lugar há muito tempo e não deve deixá-lo tão depressa.
Ao garantir a veracidade de tudo o que escreve, Rodrigues dos Santos estabelece-se como imitador de um imitador de Dan Brown e, o que é pior, revela que está disposto a trocar a sua integridade intelectual (algo que um bom jornalista deveria prezar) pelo lucro que certamente arrecadará das vendas do seu livrinho.
Filipe d’Avillez
Obrigado pelas tuas palavras Filipe, e parabéns pela tua coragem de defender a integridade intelectual dos que procuramos a verdade a serio. Maurício imc
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