Wednesday, 29 December 2021

Um Mundo de Encarnação

Randall Smith
Quando Santo Agostinho chegou a Milão, em 384, já tinha ficado insatisfeito com os maniqueus, a seita gnóstica a que tinha estado ligado nos últimos 12 anos. Seguindo o conselho de amigos, começou a ler “certos livros dos platonistas”. Estas obras ajudaram-no a transcender os conceitos estreitamente materialistas e conceber um Deus que não é uma coisa, mas é a fonte do ser de todas as coisas. Foi um passo importante, mas não ausente de perigos.

No seu esforço para se unir às “coisas do alto” acabou por se encher de outro tipo de arrogância, dando-lhe a ilusão de ocupar um lugar privilegiado fora do mundo, olhando-o de cima. Ao procurar o Deus “nas alturas”, Agostinho esqueceu-se de procurar o Deus “cá em baixo”. O Cristo Encarnado – cujo nascimento celebramos nesta época de Natal – ensinou-lhe a encontrar Deus não só “nas alturas”, mas também “cá em baixo”: não só nos picos da mente, mas na matéria e nas realidades criadas do mundo.

Por isso, embora Agostinho tenha aprendido muito dos livros platónicos, o que é igualmente interessante é aquilo que não encontrou lá. Não encontrou nada sobre a Palavra se tornar carne e habitar entre nós; nada sobre o Deus que se esvazia e assume a forma de um servo; nada sobre Jesus a humilhar-se e a tornar-se obediente até à morte, mesmo a morte de cruz. “Onde estava esse amor que edifica sobre as fundações da humildade?”, perguntou.

Esta humildade não se baseava no desprezo pelo corpo, mas no amor bem-ordenado por ele; não em considerar os pecados como coisas carnais, mas na total responsabilização por eles; não em tentar elevar-se até ao divino, mas no reconhecimento das próprias limitações e pecados e da necessidade de perdão e auxílio divino.

E essa foi a segunda coisa que Agostinho não encontrou nos livros dos platonistas: um relato da graça de Deus. Esse, acabou por encontrar nas cartas de São Paulo.

Em breve deixaria de se querer contar entre um grupo de elite de filósofos que procuravam chegar aos pontos mais altos da “linha dividida” de Platão através dos seus próprios esforços intelectuais. Doravante, pelo contrário, depositaria a sua fé no “criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis”, que se tinha mergulhado na matéria da sua criação no amor, para a elevar no amor.

Para Agostinho a “linha dividida” já não era apenas uma ascensão vertical. A “salvação” era agora “história da salvação”. A linha tinha sido deitada de lado, por assim dizer, tornando-se a história da entrada de Deus na História – a sua autorrevelação e a redenção da humanidade realizadas no tempo e nos eventos da história humana. Desta perspetiva os humanos devem fazer a sua parte, mas a sua parte é tornada possível pelo amor divino que existe para além dos nossos méritos e dos nossos esforços. Assim, para se ser elevado, é preciso primeiro ser “como Cristo” e abraçar os humildes, os pobres, os meigos e os humildes. É necessário unir-se ao seu corpo e morrer para nós mesmos, e para o nosso egoísmo, para se ser erguido com Ele na comunhão eterna de amor, como o Filho está unido ao Pai. 

Santo Agostinho
Forçado a contemplar o significado de o Verbo se tornar carne, Agostinho chegou a várias conclusões importantes. A primeira é de que a matéria não é má, nem é a fonte do mal. Pensar que sim implica confundir uma causa com um efeito. Não é o corpo da mulher que leva o homem a pecar, mas sim a sua incapacidade de apreciar a beleza da pessoa como um todo: corpo, alma, espírito e mente. Ironicamente, Agostinho nunca conseguiu deixar de estar viciado em sexo durante os seus tempos com os maniqueus, que odiavam o corpo. Esta liberdade só foi alcançada quando ele reconheceu que o corpo não é uma prisão, mas um instrumento com o qual a alma exprime o seu amor desinteressado por Deus e pelo próximo.

O mesmo se aplica ao resto do mundo material: não se trata de uma prisão da qual temos de ser libertados. Através da encarnação ele torna-se o local da nossa salvação. Não somos salvos do mundo, somos salvos no mundo e com o mundo. Somos salvos de uma relação disfuncional com o mundo, através da qual tentamos usá-lo para nos exaltarmos, numa tentativa de autocriação e autodeificação.

Deus deu à Criação uma ordem e é importante que nos conformemos a ela. Não nos realizamos fugindo para outro mundo ou impondo uma ordem estranha a este. Realizamo-nos, e o nosso mundo realiza-se connosco, quando compreendemos a ordem que Deus pretende e nos disciplinamos para preservar e alargar essa ordem. E nesta nova vida, este acesso a uma nova ordem e harmonia não é algo que criamos ou alcançamos sozinhos; é algo que nos é dado de fora do mundo, por um poder fundamental de amor criativo que transcende as nossas próprias capacidades.

Por isso a redenção cristã é a transformação da criação e da pessoa, não uma obliteração ou negação. Não podemos destruir a natureza para realizar o nosso destino humano. Nem podemos controlar completamente a natureza e canalizá-la para os nossos propósitos egoístas sem nos preocuparmos com o bem-estar dos outros. A mensagem cristã é de que apenas realizamos o nosso destino humano quando o vivemos de acordo com a ordem natural criada por Deus, compreendendo-a de forma “encarnacional” e tratando-a “sacramentalmente” como um “instrumento” e “corporização” do amor de Deus.

Deve ter sido fascinante para um homem com um intelecto tão sofisticado como o de Agostinho reconhecer que todo o mundo conceptual da antiga filosofia tinha sido virado de pernas para o ar por uma única criança numa manjedoura em Belém – uma criança que, para além de toda as expectativas humanas, era o Verbo feito carne. Hoje não é mais fácil do que então, embora também não seja mais difícil. Mas se a história for verídica – e é – então não é nada menos do que a chave do sentido de todas as coisas.


Randall Smith é professor de teologia na Universidade de St. Thomas, Houston.

(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na segunda-feira, 27 de Dezembro de 2021)

© 2021 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Monday, 27 December 2021

Adeus Desmond Tutu, adeus Renascença

Na esperança de que tenham tido todos um óptimo e santo Natal, aproveito para vos informar que esta será a minha última semana na Renascença. A partir de janeiro vou começar uma nova fase na minha carreira, a trabalhar como freelancer, embora com uma estreita ligação ao gabinete de comunicação da sede da fundação Ajuda à Igreja que Sofre, na Alemanha. Com esta mudança devo ficar mais disponível para colaborações, trabalhos pontuais em regime de freelance, comentário e análise, etc., nas minhas áreas de especialidade, por isso não hesitem em contactar-me se tiverem interesse.

O que é que isto significa para a Actualidade Religiosa? Certamente haverá mudanças, mas não quero deitar a perder esta lista de contactos que fui construindo ao longo desta década e por isso posso garantir que tentarei dar continuidade ao trabalho, embora num formato diferente, que está por determinar.

Entretanto o mundo não pára e ontem disse adeus a Desmond Tutu. O herói da luta contra a discriminação na África do Sul foi também um elemento chave na reconciliação pós-apartheid. São factos que merecem ser recordados e elogiados, não obstante o arcebispo anglicano ter defendido outras causas incompatíveis com o Cristianismo tradicional. O Papa já enviou um telegrama de condolências pela sua morte e o Dalai Lama também.

Por cá as celebrações do Natal foram marcados pela Covid, mas se isso vos chateou, lembrem-se que na Nigéria os festejos são marcados pela cautela e em Cabo Delgado 800 mil celebraram longe das suas casas por causa do terrorismo.

O Papa escreveu uma carta aos casais de todo o mundo, publicada ontem.

Os militares são essencialmente homens e mulheres de paz, garante o bispo das Forças Armadas, o entrevistado desta semana da Renascença e da Ecclesia.

E não deixem de ler o artigo da semana passada do The Catholic Thing, que vem mesmo a propósito desta nossa época pré-eleitoral.

Wednesday, 22 December 2021

O que é que Esperamos?

Joseph R. Wood

Sabemos que o tempo do Advento é um tempo de espera. Tendo ouvido as leituras da liturgia de Novembro sobre o fim dos tempos, e fechado o ano com a Solenidade de Cristo Rei, começamos o novo ano à espera do que acabámos de escutar e de celebrar.

Mas também sabemos que a época das “festas” pode ser um tempo de discussões. Como Cristo prometeu, muitas famílias e amigos estão perigosamente divididos sobre quem Ele é, bem como sobre o que deve ser a nossa organização política.

Estas épocas estão muito ligadas. Estamos a aguardar que Cristo regresse finalmente para nos salvar e enquanto esperamos estamos a discutir sobre o que deve ser a nossa política.

“Venha a nós o vosso Reino”, rezamos nós em cada missa, seis vezes em cada terço e umas quantas vezes enquanto penitência. Trata-se de uma aspiração importante sobre o que o Governo deve pretender, que nos foi dada pessoalmente por Cristo. É-nos dito que devemos buscar primeiro o Reino de Deus e a sua bondade. Talvez a mais importante divisão na nossa política ao longo dos últimos séculos radique daqui. Há quem acredite que devemos fazer os possíveis para tornar as coisas melhores nas nossas comunidades políticas, enquanto aguardamos a chegada do Reino. Outros estão fartos de esperar e querem implementar o sistema político perfeito aqui e agora (normalmente estes últimos são descritos como progressistas).

Eis a raiz das grandes discussões que se desenrolam todo o ano e que parecem tornar-se mais intensas durante as festas.

Mas ambos os lados do argumento sabem que devemos esperar algo melhor, uma política melhor, ou um reino melhor e final. Como é que estas coisas se relacionam entre si?

Em ambos os casos esperamos por justiça. E queremos o que é certo.

Os salmos estão cheios de apelos à justiça, de louvor pelo homem justo, e da crença de que a justiça triunfará quando Deus reinar. Do Salmo 48: “Grande é o Senhor, e digno de louvor, na cidade do nosso Deus! … [Os senhores da terra] viram-no e ficaram atónitos, fugiram aterrorizados”. Salmo 97: “O Senhor Reina; exulte a terra e alegrem-se as regiões costeiras distantes! … Pois tu, Senhor, sois o altíssimo em toda a terra”. E o Salmo 89: “A rectidão e a justiça são os alicerces do teu trono; o amor e a fidelidade vão à tua frente”.

Não admira que Cristo nos diga para rezar por este Reino.

Mas outras fontes também clamam por esta cidade. No romance de Mark Helprin, “Winter’s Tale”, uma das chaves da história consta de uma inscrição numa grande salva: “Que se pode imaginar de mais belo que a visão de uma cidade perfeitamente justa a exultar somente na justiça?”.

Todos ansiamos por essa cidade, essa comunidade de pessoas que conjuga a verdade, a beleza e a bondade. Fontes mais antigas também comprovam este anseio. No diálogo “Estadista”, de Platão, Sócrates observa e aprova enquanto um visitante a Atenas ajuda um jovem, que também se chama Sócrates, a compreender o que é um verdadeiro estadista, um bom governante. Tal estadista conhece a alma dos seus cidadãos suficientemente bem para poder tecer as suas virtudes para o bem da cidade, nomeando os corajosos para serem líderes em tempo de guerra e os moderados para os tempos de paz.

O visitante descreve seis tipos de governo: governo para o bem comum de um, de poucos ou de muitos; e governo tirânico ou egoísta de um, de poucos ou de muitos. Este é um esquema de análise que pode ser útil ainda hoje, quando falamos de política.

Mas o visitante fala ainda de uma sétima forma de governo, uma que “devemos separar das outras constituições, como um deus dos homens”. Este governo divino excede a capacidade humana. Um bom estadista só pode conhecer de forma imperfeita as virtudes dos seus cidadãos. É preciso um governante divino para conhecer os homens perfeitamente, e assim apenas um deus pode governar de forma perfeita.

Sócrates e Platão sabiam que é assim que ansiamos ser governados. Sabiam também que tal não será possível na terra.

Igualmente, Aristóteles, aluno de Platão, descreve os seis tipos de governo mas também vê como as cidades gregas na realidade encaixam nesse esquema. Em “Política” (Livros IV e VII), ele procura separar os regimes ou as constituições que são realmente possíveis dos governos “pelos quais se reza”. Os filósofos disputam o sentido destas palavras, claro, mas parece ser um piscar de olho ao sétimo regime divino de Platão.

A grande exposição desta tensão entre comunidades políticas terrenas e o governo de Deus, e a esperança pela resolução dessa tensão, encontra-se em “A Cidade de Deus” de Santo Agostinho. O título vem dos salmos.

Santo Agostinho vê a divisão entre a cidade terrena, aqueles que apenas se preocupam com o que está à nossa volta, e a Cidade de Deus, os santos no Céu e aqueles que ainda estão na terra, mas na comunhão dos santos. Estes últimos escolhem Deus como seu fim, acima dos prazeres físicos e materiais, do conforto e da facilidade.

Santo Agostinho diz-nos que estas duas cidades vivem misturadas aqui na terra, até ao fim dos tempos. Às vezes os governantes terrenos tenderão para a justiça e “tranquilitas ordinis”, ou uma “tranquilidade ordenada” nos assuntos terrenos que tem por base a paz e a justiça. Paz na Terra e boa vontade para com os homens. Esta ordem é um reflexo da paz eterna do Céu.

Outros governantes opõem-se a essa tranquilidade.

Mas nunca poderemos alcançar o sistema político perfeito na terra. A paz eterna apenas será realizada naquele sétimo, divino regime em que as aparentes contradições que atormentam a política terrena sejam resolvidas.

Onde, nas palavras do Salmo 85, “O amor e a fidelidade se encontrarão; a justiça e a paz se beijarão. A fidelidade brotará da terra, e a justiça descerá dos céus”.

Esperamos pelo Senhor. Esperamos e discutimos sobre a justiça na nossa política. Esperamos por aquilo que teremos de forma completa e infinita apenas no Seu Reino, o Reino que não é deste mundo.


Joseph Wood é professor no Instiute of World Politics em Washington D.C. e colaborador na Cana Academy.

(Publicado pela primeira vez na sexta-feira, 17 de Dezembro de 2021 em The Catholic Thing

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Friday, 17 December 2021

Sugestão de Natal e liberdade de oração restaurada na Alemanha

Começo este mail com uma sugestão de Natal. Há vários anos li, fascinado, o livro “Not in God’s Name” do rabino Jonathan Sacks. Foi com enorme alegria que soube agora que a editora Saída de Emergência publicou o livro em português. Já comprei um exemplar (encomendei da editora, chegou em dois dias) e vou oferecer a pelo menos duas pessoas próximas. “Não em Nome de Deus” é uma resposta à subida da violência religiosa. O rabino, que tristemente já morreu, faz uma análise de episódios de conflito – incluindo conflito fratricida – no Antigo Testamento e mostra como o objetivo dos textos sagrados é mesmo o contrário de incentivar à violência. Termino assegurando que este não é um livro para especialistas ou académicos, sendo acessível para toda a gente.

Passando às notícias do dia, os EUA impuseram sanções à China por causa da perseguição aos muçulmanos uigure.

Boas notícias da Alemanha, onde um tribunal anulou a proibição de se rezar em frente a uma clínica de aborto perto de Frankfurt.

A Renascença entrevistou o presidente da Conferência Episcopal, D. José Ornelas, que falou sobre vários assuntos, incluindo o papel das igrejas na pandemia, a crise dos abusos e ainda os problemas no sistema de nomeação dos bispos.

Tudo isto no dia em que o Papa Francisco completa 85 anos!

Thursday, 16 December 2021

João Paulo Beato e turistas discriminados

 

O Papa João Paulo I vai ser beatificado até ao final do ano de 2022.

As diferentes igrejas cristãs da Terra Santa acusam o Estado de Israel de discriminar os turistas cristãos, ao limitar as viagens durante a época do Natal.

O Papa Francisco aprovou a criação de uma nova fundação para promover o diálogo cultural e religioso.

A Conferência Episcopal Portuguesa não vai alterar as medidas contra a Covid-19 recomendadas durante o Natal.

As Igrejas da Europa renovaram ontem o seu apelo à vacinação e alertaram para o perigo da contrainformação.

Numa altura em que está na moda “desconstruir binários”, incluindo coisas básicas como “homem/mulher”, Randall Smith, do The Catholic Thing, sugere que os católicos passem a responder na mesma moeda

Wednesday, 15 December 2021

Desconstruindo os Desconstrutores

Randall Smith
Um dos conceitos que se tornou importante nas teorias críticas da raça, feminismo de terceira vaga, pós-estruturalismo, pós-colonialismo, pós-modernismo e provavelmente uma série de outros “ismos” (que eu não sou suficientemente sofisticado para conhecer) é a noção de que devemos “desconstruir” oposições “binárias” que têm sido usados para perpetuar e legitimar estruturas de poder social que favorecem um grupo acima de outro. Binários desiguais que são frequentemente sujeitos a esta “desconstrução” incluem masculino/feminino; homem/mulher; pessoas brancas/pessoas de cor; razão/emoção e heterossexual/homossexual.

O problema, dizem, é que o primeiro elemento do par é considerado o “bom”, o “forte”, o “superior”, enquanto o segundo é o “mau”, o “fraco” ou o “inferior”. Por isso o que temos de fazer, dizem, é acabar com as oposições binárias para que o segundo grupo deixe de ser menosprezado ou oprimido neste “jogo” linguístico.

Para ser franco, não estou inteiramente convencido de que estes binários supracitados são assim tão nefastos como se diz. Pessoalmente, sempre pensei no binário homem/mulher como complementar, não como “melhor” ou “pior”. E como temos visto recentemente, a desconstrução desse binário em particular nem sempre foi para o benefício das mulheres, sobretudo no campo do desporto.

Seja como for, neste mesmo espírito de desconstrução, gostaria de propor uma série de outras oposições binárias que são regularmente usadas na sociedade contemporânea, frequentemente para menosprezar ou oprimir uma classe de pessoas. Tomemos como exemplo:

Ciência/Teologia

Razão/Fé

Progresso/Tradição

Progressista/Conservador

Modernidade/Antiguidade

Espiritual/Doutrinal

Moderno/Tradicional

Em cada caso, a oposição binária serve para menosprezar e oprimir. As pessoas dizem “Segue a ciência”. Ninguém diz “Segue a teologia”. Porquê? Porque se parte do princípio de que a categoria alargada e indefinida de “ciência” é factual, certa e indubitavelmente boa, apesar de, de tempos a tempos, repudiar todas as suas teorias mais populares. A “ciência” é associada à razão, ao progresso, às bênçãos da modernidade, enquanto a “teologia”, seja de que género for, seja por quem for, é tida como sendo mais do que um pouco duvidosa, associada a superstições antigas e dogmas fora de moda, do género que manteve os nossos antepassados na escuridão durante a “Idade das Trevas”, esse maldito tempo antes da luz pura da razão que surgiu durante o Renascimento e o Iluminismo.

Ouvimos as pessoas a dizer “temos a razão do nosso lado”. Se têm, ou não, não é bem claro. Muitas pessoas falam sobre “razão” ou “razão pura” mas não têm a menor idade do que a razão, em toda a sua complexidade e múltiplas formas de abordar a realidade, é verdadeiramente.


Por isso aquilo que as pessoas normalmente querem dizer com essa expressão é “eu tenho razão e tu não, porque não pensas como eu”.

A questão que estas pessoas estão a evitar é na verdade a mais importante de todas: “O que significa pensar? Como é que pensamos claramente sobre diversos assuntos? Faria sentido – seria razoável? – pensar sobre a pessoa com quem devo casar da mesma forma como penso sobre a razão pela qual o cobre conduz a eletricidade, ou se devo investir numa empresa e não noutra?

Ou será que existem diferentes formas de pensar, apropriadas a diferentes áreas da vida e diferentes questões? Se um treinador, ou um professor, disser a um colega céptico “eu acredito neste miúdo”, será que a resposta certa é “tens a tua fé, mas eu estou a usar a razão. Expulsa-o.”?

Quem quer ser “conservador” em oposição a “progressista”? Quem não quer “progresso”? Mas o que é o verdadeiro progresso, se não mera mudança? Se o binário fosse alterado para “conservador versus radical” ou “conservador versus anarquista”, quantas pessoas não escolheriam “conservador”?

Os católicos sabem bem como este jogo se desenrola na Igreja, quando as pessoas opõem “doutrinal” e “espiritual” como se fosse possível ser “espiritual” sem ter os pés bem assentes na doutrina. As tradições espirituais e os ensinamentos sobre justiça social da Igreja Católica baseiam-se em doutrinas muito específicas sobre justiça social e o desenvolvimento da pessoa. Leiam as obras de grandes autores “espirituais” como os santos Boaventura ou Hildegard de Bingen e encontrarão textos muito sofisticados de doutrina cristã.

Não estou a dizer que não se possam fazer distinções entre e razão, ou entre ciências naturais e teologia ou, para ser franco, entre Estado e Igreja. Os maiores teólogos da Igreja, como Tomás de Aquino, usavam estes termos com um correcto entendimento de ambos. A questão está em saber se devemos começar a desafiar as pessoas a deixar de usar estes binários quando recorrem a eles para preservar o seu próprio domínio cultural sobre os católicos e outras pessoas de fé, isto é, os pacóvios que não tiveram o benefício de uma educação secular numa universidade prestigiada e sofisticada, mantendo-se colados ao passado, com as suas superstições tradicionais que os impedem de participar no verdadeiro progresso.

Dado este tipo de preconceito irreflectido, talvez seja altura de aplicar uma dose séria de “desconstrução” aos binários opressivos da própria modernidade.

Quando alguém profere a frase ignorante: “Tu tens a tua fé, eu tenho a razão”, talvez os católicos devam adoptar a linguagem dos desconstrucionistas: “Isso não passa de um binário opressivo, e eu rejeito-o”.

Quando alguém diz “eu sigo a ciência e não uma qualquer teologia supersticiosa”, devemos responder: “Em primeiro lugar não sabes do que falas, porque não sabes o que é que a ‘ciência’ (do latim scientia, ou ‘conhecimento’) é; em segundo lugar, não pareces ter qualquer noção das discussões clássicas sobre a relação entre a ‘ciência’ e a ‘sabedoria’ (sophia), que remontam à antiguidade. Por isso, acabaste de dizer algo que é o equivalente linguístico a ‘as tuas emoções são muito femininas’ e não só me ofendeste como te revelaste profundamente preconceituoso”.

Se funciona para os desconstrucionistas, devia resultar para os católicos. Algumas pessoas de um “grupo tradicionalmente marginalizado”, nomeadamente os católicos, precisam de acordar, aprender a defender-se e não se deixarem ser oprimidos na linguagem e na sociedade.


Randall Smith é professor de teologia na Universidade de St. Thomas, Houston.

(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na terça-feira, 14 de Dezembro de 2021)

© 2021 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Thursday, 9 December 2021

A Fome como Arma, o Correio como Esperança

O Papa Francisco voltou a conversar com jornalistas no voo de regresso da Grécia e criticou os países que fecham as suas fronteiras aos imigrantes e refugiados.

A verdade é que muitos fogem de realidades como esta, no Mali, onde a fome é usada como uma arma.

Entrámos na fase das mensagens de advento dos bispos. O bispo do Porto convida ao “silêncio comunicativo” da Cabana de Belém e o bispo de Viana do Castelo, recém-empossado, lamenta que o homem moderno tenha medo até de si mesmo. Já em Vila Real abriu-se a porta santa para o jubileu da diocese.

A pastoral penitenciária de Braga lançou uma iniciativa interessante. O “Correio da Esperança” permite escrever aos reclusos e melhorar um pouco o seu Natal.

Como é que a Igreja reconquista a confiança aos olhos da sociedade na sequência da crise dos abusos sexuais? É o que pergunta o especialista Stephen P. White no artigo desta semana do The Catholic Thing em português. Um artigo cada vez mais actual e que todos devemos ler.

Wednesday, 8 December 2021

Restaurar a Confiança depois da Crise de Abusos

Stephen P. White
No próximo ano assinala-se o vigésimo aniversário da Carta de Dallas, a resposta institucional mais robusta dos bispos americanos à crise dos abusos sexuais. A Carta apresentou um esquema uniforme de relato e de responsabilização do clero que entretanto se tornou o padrão para lidar com casos de abuso não só nos Estados Unidos, mas em igrejas locais um pouco por todo o mundo.

Na verdade, algumas das reformas que hoje damos por adquiridas – como a participação obrigatória dos casos às autoridades civis e a tolerância zero para abusadores – continuam a estar muito à frente do resto do mundo.

Escusado será dizer que a Carta está longe de ser perfeita. Como ficou patente no caso do McCarrick, a Carta não adiantou nada para lidar com más práticas ou abusos cometidos por bispos. E continuam a existir preocupações legítimas para com padres que, tendo enfrentado alegações que ficaram por provar, ficam num estado de limbo ministerial. No seu mais recente plenário em Baltimore, os bispos discutiram mudanças a fazer à Carta.

De Roma também chegaram reformas importantes – Come una madre amorevole e Vos estis lux mundi, por exemplo – que deram mais gás a esforços para combater os abusos em todo o mundo, sobretudo no que diz respeito a más-práticas dos bispos, e que nos Estados Unidos complementam a Carta.

O que não significa que a crise já esteja no passado. A realidade é que o abuso sexual de menores ou de adultos, praticado por clero, ou por qualquer outra pessoa, nunca vai ser completamente erradicada. Mas podemos ter esperança de que chegue um momento, seja dentro de décadas ou dentro de séculos, em que os abusos na Igreja já não sejam vistos como uma crise global.

Os efeitos desta crise de abusos estarão com a Igreja durante muito tempo. Uma vez perdida, a confiança não é fácil de recuperar. Isto aplica-se, claro, às vítimas individuais, mas também à confiança ferida entre o clero, entre o clero (especialmente bispos) e os seus rebanhos, e entre a Igreja e o mundo.

Tão certo como o mal mais grave dos abusos é sofrido pelas próprias vítimas, as consequências mais duradouras, e talvez as que mais gozo dão ao Inimigo, são as que a credibilidade da Igreja sofre. Mentiras contadas há anos tornam mais difícil a proclamação e a escuta do Evangelho agora; violência cometida em segredo há décadas continuará a ameaçar as almas daqui a uma geração.

É importante, por isso, reconhecer que as reformas jurídicas como a Carta de Dallas e a Vos estis (por mais imperfeitas e tardias) são conquistas reais e necessárias. Mas também é importante reconhecer que, no que toca a abordar a crise na Igreja estas reformas necessárias e contínuas são – e sempre seriam – a parte mais “fácil”.

Então como é que a Igreja lida com a parte difícil? Como é que aborda o défice de confiança que existe entre leigos e clero, sobretudo entre leigos e bispos? Como é que a Igreja ultrapassa as profundas divisões que existem entre os católicos, que a crise dos abusos pode não ter causado, mas que certamente revelou e aprofundou? Como é que a Igreja, que se tornou tão feia aos olhos de tantos, continua a proclamar a mensagem da misericórdia e da salvação?

O ponto de partida
Começamos de novo a partir de Jesus Cristo. Começamos por ir ao encontro de Nosso Senhor nas Escrituras, nos Sacramentos e no nosso próximo. Encontramo-nos com ele na oração. Escutamo-lo. Fazemo-lo não só como indivíduos, mas como membros do Seu Corpo, da Sua Igreja. Escutamos os nossos bispos, os nossos padres e o Santo Padre. Escutamos com humildade e, quando chegar o momento, falamos de forma corajosa, na caridade e na verdade. Competimos uns com os outros na caridade, paciência e louvor.

Fazer o mais difícil significa recusar-nos a deixar para trás aqueles por quem somos responsáveis e aqueles a quem respondemos, aqueles com quem estamos ligados pelo baptismo. Fazer o mais difícil significa escutar e falar mesmo com aquelas pessoas que cremos estejam errados. E fazemos isso não porque confiamos uns nos outros, mas porque confiamos naquele que nos ordena a amar até aos nossos inimigos.

O clero tem de estar disposto a escutar os leigos mesmo quando – especialmente quando – eles dizem as verdades que mais custa ouvir. Os leigos não terão sempre razão. Deus bem sabe que os nossos padres e bispos também estão longe de ser perfeitos. Mas um pai que não escuta os seus filhos não os conhecerá, não compreenderá as suas forças e fraquezas. E as ovelhas que ignoram o pastor rapidamente se perdem.

Nada disto acontece de uma vez só. Requer oração constante, conversão, arrependimento e pedir e dar perdão. É discipulado. É um trabalho duro. Vamos falhar, provavelmente muito. Mas sabemos que o Senhor empresta a sua graça aos nossos humildes esforços, por isso persistimos. Caminhamos juntos, como São Paulo nos exorta, “com toda a humildade e gentileza, com paciência, suportando-nos uns aos outros por amor, esforçando-nos para preservar a unidade do espírito através do elo da paz”.

Convidamos outros a juntarem-se pelo caminho, para descobrir o que encontrámos. Falamos aos outros sobre este Deus que, quando ainda éramos pecadores, nos amou até dar a vida por nós. Todo o azedume, a fúria, a revolta, a gritaria e o desprezo devem ser removidos de dentro de nós, bem como toda a malícia. Esforçamo-nos para sermos bons uns para com os outros, compassivos, para nos perdoarmos como Deus nos perdoou em Cristo.

Este é o caminho em frente para a Igreja na sequência da crise de abusos sexuais do clero, porque este é sempre o caminho em frente para a Igreja. Se parece ser simultaneamente simples e difícil, é porque é. Se vos soa familiar, ainda bem. A maior parte do que acabo de dizer vem diretamente de São Paulo.

Se vos soa ao que o Papa Francisco chama sinodalidade – não um evento, ou um parlamento, ou uma “nova Igreja”, mas a recuperação de um sentido partilhado de missão, radicado na verdade, no nosso baptismo comum e na missão universal de todos os cristãos – é porque é isso mesmo.


Stephen P. White é investigador em Estudos Católicos no Centro de Ética e de Política Pública em Washington.

(Publicado em The Catholic Thing na Quinta-feira, 2 de Dezembro de 2021)

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Monday, 6 December 2021

Papa regressa do mundo helénico, morreu o americano do rito bracarense

O Papa chega em breve a Roma depois de uma viagem de vários dias a Chipre eà Grécia. Desta viagem o grande destaque vai para a visita ao campo de refugiados em Lesbos, mas também o encontro com os migrantes e refugiados em Chipre, onde Francisco denunciou fortemente a exploração e o desprezo a que estes são votados. Mostrando que as palavras sem actos são vazias, Francisco deu ordem para 12 refugiados seguirem logo para Roma, e outros devem seguir nas próximas semanas.

Houve ainda tempo para denunciar as ameaças à democracia. O ecumenismo também foi uma aposta forte desta visita, tanto na Grécia como em Chipre e o Papa não esqueceu, obviamente, as comunidades católicas, com quem esteve e a quem encorajou. O último acto público foi um encontro com jovens esta manhã.

Na entrevista desta semana da Renascença com a Ecclesia temos Mariana Baptista, recém-chegada de um ano em missão com os Leigos para o Desenvolvimento.

E dos últimos dias temos ainda a notícia da nomeação de D. José Cordeiro para a arquidiocese de Braga. Sendo liturgista, podemos esperar uma revitalização da tradição litúrgica do Rito Bracarense? Infelizmente um dos poucos padres que ainda o celebrava com frequência, sem bem que nos EUA, era Joseph Santos, que morreu de Covid no passado sábado. Deixo-vos aqui a transcrição da entrevista que lhe fiz em 2010, ainda antes deste blog existir.

Entrevista ao padre Joseph Santos, 2010

Esta entrevista foi feita antes de eu ter o blog, por isso nunca publiquei a versão integral. Até a reportagem que foi feita já não se encontra online. Publico hoje, no dia em que soube da morte do padre Joseph Santos, esta conversa que tive com ele em Setembro de 2010. As fotos são da mesma ocasião


É raro celebrar-se em Portugal o Rito Bracarense. Qual é a sua grande riqueza?

Em parte é a sua história própria e o conteúdo das suas orações, que são diferentes do rito romano. Um exemplo que tivemos hoje e que desconhecia é que mesmo um santo tão desconhecido como São Gorgónio, todos os textos, menos o texto do Evangelho, eram diferentes dos textos do rito romano, e até o Aleluia nem estava no rito romano, era uma antífona completamente diferente do rito romano.

Outra coisa é a riqueza das orações, especificamente as orações de preparação para a comunhão do sacerdote, e tem pelo menos dois que são diferentes do rito romano, e revelam uma devoção eucarística muito profunda.

Isto não é para dizer que o rito romano tem problemas, todos temos. E Deus sabe que Braga, durante a sua história teve sempre problemas com o seu próprio rito, entre os padres, entre os bispos, entre os cónegos da sé, mas não podemos negar que quando o Concílio Vaticano II chamou para a inculturação da liturgia, não tenho dúvida que tinha em vista estes velhos ritos ocidentais, como o de Milão, o Moçárabe [em Toledo], de Braga, como formas de inculturação, em que o povo acarinhava o rito romano, mas também queria fazer do Rito Romano deles. Então entravam aspectos que representavam a sua própria história, as suas lutas contra as heresias, como por exemplo a heresia do pelagianismo aqui na Península Ibérica, e isto enriqueceu o rito romano de uma forma própria, que não é igual ao milanês, que não é igual aos outros ritos ocidentais que apareceram na mesma época.

E também Braga sempre teve uma queda para Roma. Vemos logos nos primeiros tempos uma carta do bispo, ao Papa Vergílio, a perguntar como podia celebrar a liturgia como em Roma, e recebeu o Cânone Romano e outros documentos. E quando foi imposto no reino suevo e na Galiza o rito moçárabe, foi uma mudança radical e logo quando foi reimposto o rito romano por Afonso de Castela e Leão, no século XI, Braga voltou e pegou em algumas coisas do seu antigo rito que não eram bracarenses, mas eram aspectos do romano antigo, do Gregório VII e anterior, que só ficou em Braga, desapareceu até em Roma. Mas sabemos pelos estudos que estas cerimónias foram feitas em Roma, nas missas papais, deixaram de existir em Roma, mas continuaram em Braga.

Na prática, hoje em dia o rito não é celebrado… Como vê isso?

De facto, todos os sacerdotes da arquidiocese de Braga são permitidos celebrar o rito bracarense, e o rito bracarense permanece em toda a Arquidiocese de Braga. Essa foi a última determinação de Roma. Mas no mesmo documento diz que todos os sacerdotes de Braga podem usar o rito novo. E como já existiam os livros em português, o cerimonial era muito mais simplificado, e pelo menos na zona de Braga, com tanto trabalho naquela época os padres foram pelo caminho de menos esforço.

E o Povo, enquanto o sacerdote não mexia nas festas, nas devoções, na bênção do santíssimo e estes aspectos de piedade popular, o padre tratava da missa, eles tratavam do resto, e por isso não houve uma grande revolta, enquanto nos países anglo-saxónicos o que aconteceu foi que acabaram com as procissões, acabaram com as devoções, mandaram tudo fora da porta, ficaram só com a missa e depois quiseram mudar isso também, e o povo disse basta.

Em Inglaterra, por exemplo, havia um indulto desde o tempo do Cardeal Heenan, em que se podia celebrar o rito antigo romano. Mas aqui não houve este problema, também não houve tanta experimentação estúpida como houve noutros países. Penso que aí Portugal estava mais saudável, liturgicamente falando.

Está a participar numa peregrinação de um grupo tradicionalista católico americano com o objectivo de chamar atenção para o rito tridentino. Qual a importância disto nos dias de hoje, em Portugal?

Primeiro não gosto de os chamar tradicionalistas, porque isto tem um mau sabor, particularmente entre o clero e o episcopado português. São pessoas que, como disse o Papa Bento XVI, têm um amor pela forma tradicional de liturgia.

E porque a liturgia tradicional tem várias formas, não é só o rito romano, monolítico, mas tem várias, acho que é essencial para as pessoas que às vezes vêm com uma atitude possivelmente um pouco mais fechado, de abrir-se para as outras possibilidades que já existiam antes do Concílio e que existem outra vez hoje. Porque como sabemos a última consulta feita à Santa Sé sobre o Sumorum Pontificum, diz que também se aplica ao rito ambrosiano, bracarense e moçárabe, por isso não há obstáculo nenhum a celebrar o nosso rito, nesse sentido.

Essa variedade de liturgia ajuda também a ver que há bem na própria variedade. Que o rito novo é uma expressão que pode ser boa e necessária para a Igreja, também o rito antigo tem o seu lugar e o seu valor, também o rito bracarense, o dominicano, o ambrosiano, beneditino e os outros grupos que tinham as suas variedades.

Isto é importante porque se nós começamos a ver só o Romano, como até no relatório sobre o rito bracarense, que foi feito por D. Francisco Maria da Silva, alguns sacerdotes queriam usar o rito romano só por ser romano, e mais nada, é uma pena que olhemos para a liturgia assim, quando há uma riqueza litúrgica no mundo que é tão vasta, desde os ritos orientais, da índia, que podemos conhecer… e isto enriquece-nos a nós. Não para dizer que vamos pegar nas coisas daqueles ritos e meter no nosso, mas para conhecê-los, para aproveitar as orações para nós mesmos, para a nossa própria espiritualidade. Faz muita falta isso.

Alguns pensam que estas coisas são pequenas, mas muitas coisas neste mundo são pequenas e tornam-se importantes para quem as ama.


Existe uma versão actualizada, já reformada do rito bracarense…

O rito bracarense nunca foi reformado, foi traduzido só. Há um livro do ordinário da missa que foi publicado no tempo de D. Francisco Maria da Silva, e distribuído a todas as paróquias da arquidiocese de Braga e de Viana de Castelo, naquele tempo, que tem de um lado o rito em latim e do outro em português, mas sem alteração nenhuma, porque a Santa Sé rejeitou as mudanças que foram propostas. E está na carta do arcebispo Bugnini, na introdução, que diz que foi decido que para manter a integridade do rito bracarense não se muda nada. E acabou.

Por isso se agora querem fazer outra examinação, isso é com o Sr. Arcebispo de Braga.

Thursday, 2 December 2021

Papa em Chipre e Comissão Independente formada

O Papa chegou esta quinta-feira a Chipre. No seu primeiro discurso, aos fiéis católicos de rito maronita, Francisco pediu uma Igreja paciente e fraterna, sem muros.

Mais tarde, às autoridades civis e políticas comparou Chipre a uma pérola e pediu o fim do sectarismo e nacionalismo para alcançar a paz na ilha, dividida entre turcos e gregos. Esta é uma visita que tem também uma grande carga ecuménica.

Decorreu também hoje a conferência de imprensa de apresentação da comissão independente para investigar os abusos sexuais na Igreja Católica. O organismo liderado por Pedro Strecht vai apresentar o seu relatório até ao final de 2022 e quer dar voz às vítimas.

Não foi um caso de abusos sexuais, mas uma relação “ambígua” com uma mulher que levou à resignação do arcebispo de Paris, aceite esta quinta-feira pelo Papa.

Não deixem de ler o artigo desta semana do The Catholic Thing. Em tempo de Advento o autor Francis X. Maier desafia-vos a conhecer a figura de um jesuíta assassinado pelos nazis mesmo antes do fim da Segunda Guerra Mundial. Vale bem a pena ler!

Wednesday, 1 December 2021

Gratidão, Expectativa e Advento

Francis X. Maier

Este ano o Natal – aliás, peço desculpa, a época festiva – começou no início de Outubro. Foi nessa altura que vi o meu primeiro anúncio pré-Black Friday. Sim, parece um bocado prematuro, mas nunca é cedo para começar a comprar coisas. E numa economia em crise a satisfação dos nossos apetites, comprando mais do que quer que seja, é uma espécie de juramento da bandeira patriótico, real e muito prático. Falando por mim, gosto sempre de preparar estes festejos de Outono lendo dois dos meus textos festivos favoritos.

O primeiro é um clássico ensaio de Natal de Neio Postman, “A Parábola da Mancha no Colarinho”, sobre uma dona de casa despassarada que compra o detergente errado para as camisas brancas do marido. Podem ler aqui. Postman nota que “os anúncios de televisão são uma espécie de literatura religiosa. Comentá-los de forma séria é um exercício de hermenêutica, um ramo da teologia que se ocupa da interpretação e explicação das Escrituras”.

Os anúncios de televisão mais importantes, diz ele – e recordemos que o comércio de Natal tem um papel salvífico para muitas empresas – “assumem a forma de parábolas organizadas em torno de uma teologia coerente. Como todas as parábolas religiosas, propõem um conceito de pecado, apontam o caminho de redenção e uma visão do Céu. Também sugerem quais são as raízes do mal e quais as obrigações dos santos”.

Postman escreve:

Nas parábolas dos anúncios de televisão, a causa do mal é a Inocência Tecnológica, o desconhecimento dos detalhes dos sucessos benévolos do progresso industrial. Esse desconhecimento é a principal fonte da infelicidade, humilhação e discórdia na vida. E como se vê de forma poderosa na parábola da mancha, as consequências dessa inocência podem surgir a qualquer momento, sem aviso, e com toda a força da sua acção fulminante.

Acrescenta:

Não é fácil saber precisamente quando, como povo religioso, trocámos a nossa fé nas ideias tradicionais de Deus pela crença na força enobrecedora da Tecnologia, mas os anúncios de televisão constituem a maior fonte de literatura que possuímos sobre este nosso novo compromisso espiritual.

Tal como outros textos religiosos, “A Parábola da Mancha no Colarinho”, agora já com cerca de 40 anos, perdeu algum do seu contexto social. As críticas feministas e os especialistas em estudos do género podem ser particularmente hostis quanto a esta parábola. Contudo, ela contém um ensinamento-chave da ortodoxia americana moderna: desejar bugigangas é bom; comprar coisas é ainda melhor; e quanto mais quantidade e mais novas forem as coisas, melhor. Menos que isso é suspeito.

Claro que há outra forma de pensar sobre a temporada que começa este domingo, se bem que menos comercial, em tempos conhecido como “Advento”. Incrivelmente ainda há alguns seguidores de Jesus que usam esse termo.

O que me leva a Alfred Delp e o Advento do Coração, o segundo texto que leio sempre nesta altura do ano, e que é muito mais emocionante.

Os americanos nunca viveram uma ditadura política. A última guerra travada no nosso solo acabou há mais de 150 anos. Logo, para muitos de nós é difícil imaginar a vida nos regimes totalitários do século passado. Mas esses regimes, e toda a selvajaria catastrófica que soltaram, foram muito reais, tal como documentado por testemunhas desde Elie Wiesel a Alexander Solzhenitsyn. O Terceiro Reich assassinou milhões de vítimas inocentes, incluindo milhares de mártires cristãos. Alguns, como Dietrich Bonhoeffer, o pastor luterano e teólogo, são bem conhecidos. Alfred Delp, o padre jesuíta alemão, estão entre os mais significativos.

Alfred Delp S.J.

O Advento do Coração é uma coleção dos textos de Delp sobre o Advento escritos entre 1933, o ano em que os Nazis tomaram o poder na Alemanha, e Dezembro de 1944, semanas antes de morrer. Os textos fazem parte de um diário da fé de Delp e revelam uma alma que, mesmo debaixo de opressão brutal, está recheado de uma claridade, caridade, coragem e beleza penetrantes. No seu ensaio “O Advento Eterno”, escrito em 1933 e dirigido aos jovens, Delp escreve:

Como devemos celebrar a festa

Para a qual nos apressamos?

Que aprendamos a celebrá-la

Livres da avalanche de ninharias

Com as quais, tão facilmente, se submerge

O grande sentido deste dia santo

Que possamos encarar de frente

A grande, santa realidade do Natal.

No Advento do Coração encontram-se ainda as notas de Delp sobre o Advento de 1935, bem como as homilias e meditações sobre o Advento dos anos entre 1941 e 1944 e ainda as meditações da prisão de Tegel, das últimas semanas da sua vida. Quando a guerra começou a virar-se contra a Alemanha, aumentaram os bombardeamentos aliados e a repressão Nazi contra a dissidência subiu de tom. Delp continuou a enfatizar três temas do Advento: gratidão pelo dom da vida; esperança e alegria na expectativa do Natal; e confiança inabalável na Segunda Vinda de Cristo, o seu triunfo e a sua justiça.

Em 1942-1943, com o apoio do seu superior jesuíta, Delp juntou-se ao Círculo Kreisau, um grupo de resistência cristã preocupado com a reconstrução de uma Alemanha desnazificada depois da guerra. Juntamente com muitos outros, foi detido em Julho de 1944 depois de uma tentativa falhada para matar Hitler, apesar de não ter tido qualquer envolvimento. Foi interrogado e torturado durante seis meses. Algumas das suas meditações de Advento foram escritas em algemas e contrabandeadas para fora da prisão no meio da roupa suja. Em Janeiro de 1945 foi condenado por traição e sentenciado à morte pelo juiz homicida Roland Freisler, que presidia ao Tribunal Popular do Terceiro Reich. No dia 2 de Fevereiro de 1945 foi enforcado. Menos de 24 horas mais tarde, num pormenor de justiça divina, Roland Freisler morreu, atingido diretamente por uma bomba americana.

Entre as palavras de Delp que nos chegaram encontram-se estas:

Jamais experimentaremos o nosso desejo primordial e saudoso por Deus de forma mais activa e desperta que nesta época… O Advento é o tempo do que busca Deus. O desejo original contido em cada coração humano é um grande impulso em direcção ao Deus distante e escondido, um anseio para caminhar naquela longínqua e esquecida pátria da alma. Esse anseio é o que a Igreja exprime, tanto na sua atitude interior como na liturgia desta época.

Alfred Delp morreu a acreditar nessas palavras. Podemos pelo menos tentar vivê-las neste advento e, ao fazê-lo, entrar no verdadeiro coração do Natal.


Francis X. Maier é conselheiro e assistente especial do arcebispo Charles Chaput há 23 anos. Antes serviu como Chefe de Redação do National Catholic Register, entre 1978-93 e secretário para as comunidades da Arquidiocese de Denver entre 1993-96.

(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na sexta-feira, 26 de Novembro de 2021)

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The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Friday, 26 November 2021

Ninguém é tão frágil que não possa rezar

A diocese do Algarve está a investigar um alegado caso de abusos sexuais, que terá mais de três décadas. Este caso já foi acrescentado à cronologia que mantenho no blog.

Não há ninguém tão frágil que não possa rezar, diz o Papa Francisco, numa mensagem em que criticou as pessoas que tentam impedir o acesso dos deficientes aos sacramentos.

Viana do Castelo vai ter um novo bispo a partir deste fim-de-semana, e em Lisboa vão ser ordenados 14 novos diáconos.

O outro dia chamei a vossa atenção para a venda de objetos de artesanato feitos por cristãos da Terra Santa. O cartaz em questão diz que a venda será na Rua Anchieta, mas fui informado de que na verdade será dentro da Basílica dos Mártires, logo ali ao lado, no Chiado. Não deixem de lá ir.

E não deixem de ler o artigo desta semana do The Catholic Thing sobre famílias numerosas e a discriminação de que são alvo nos nossos tempos.

Wednesday, 24 November 2021

Missões Várias

As bravas mulheres religiosas da rede Talitha Kum, contra o tráfico humano, vão lançar amanhã uma campanha para alertar para o risco acrescido deste problema com o aumento da pobreza. Saiba mais sobre esta missão aqui.

Com a aproximação do Natal a Fundação Fé e Cooperação também volta à campanha dos Presentes Solidários. É outra forma de missão.

E por falar em solidariedade, os cristãos de Belém, na Terra Santa, têm alguns artigos de artesanato à venda em Lisboa. Os próprios não conseguiram vir cá vender este ano, mas o material estava armazenado e cada peça comprada é uma ajuda na grande missão de manter a fé em Cristo viva na terra onde Ele nasceu. Vejam mais informações no cartaz.

Desafio-vos a ler a entrevista desta semana da Renascença e da Ecclesia ao responsável pela Missão País, talvez um dos melhores exemplos de nova evangelização que existe na actualidade!

A sua família é numerosa? A do David Bonagura é e ele refere neste artigo do The Catholic Thing algumas das bocas e preconceitos de que tem sido alvo ao longo destes anos. Devo admitir que a minha experiência tem sido mais positiva, embora também tenha algumas histórias para contar. Aproveitem para partilhar as vossas histórias e experiências nos comentários.

O Último Preconceito Socialmente Aceite

David G. Bonagura Jr.
“Julgava-te mais inteligente que isso”, e “já chega!” foram dois dos comentários que recebi de amigos de infância que voltei a ver recentemente num velório, depois de vários anos. Estavam em choque com a notícia de que eu tenho seis filhos.

Como muitos leitores do The Catholic Thing, alguns dos quais com o dobro dos meus filhos, sabem, estes estão entre os comentários mais polidos que os pais de famílias numerosas recebem de pessoas incrédulas, gozonas ou frequentemente hostis. Nesta minha experiência recente pelo menos esses dois amigos não recorreram a golpes sujos, como às vezes acontece. Desse género o menos pessoal é o recorrentemente usado: “mas vocês não têm televisão?”

A nossa sociedade já não tolera comentários ofensivos sobre a aparência ou a etnia de alguém. Não é aceitável, na maior parte dos casos, ridicularizar uma pessoa por causa da sua religião, apesar de a religião em si ser um alvo comum dos intelectuais “iluminados” e das figuras públicas. Já lá vai o tempo em que o anticatolicismo era considerado o “último preconceito socialmente aceite”. Mas as acções preconceituosas, desde comentários ofensivos a vandalismo de estátuas, costumam ser recebidas por legiões de defensores, tanto institucionais como individuais, que estão dispostos a dar o corpo ao manifesto pela fé. Pelo menos os detratores não podem ser anticatólicos e sair incólumes.

De igual forma, hoje estamos proibidos de comentar sobre o “estilo de vida” de outro – ou pelo menos de certas escolhas. O caixa do supermercado não dirá nada sobre o cliente com vários piercings, tatuagens, roupa rasgada e cabelo pintado de roxo. As redes sociais suspendem as contas de utilizadores que fazem comentários negativos nesse sentido, ainda que a admissão dessas mesmas “escolhas de estilo de vida” fosse impensável há uns anos. 

Mas quando se chega ao “estilo de vida” de ter uma família numerosa, o filtro pessoal e social desaparece. Depois de deixar passar o punk, porque é que o caixa se sente obrigado a perguntar-me se são todos meus quando me aproximo com os meus filhos? As redes sociais exercem algum tipo de vigilância em defesa daqueles que são ridicularizados por ter famílias numerosas? Desde estranhos a conhecidos, parece que as pessoas simplesmente não conseguem deixar de comentar as famílias grandes. “Eles têm, tipo, seis filhos”, disse recentemente o dentista à sua nova assistente, como se esse facto tivesse alguma coisa a ver com o arranjo dos dentes do meu filho.

Às vezes até gente de ir à missa, bem-intencionada, contribui para este assalto às famílias numerosas. Há anos que ouço, pelo menos uma vez por mês, uma variação da boca “deves ter as mãos cheias”. Mais do que uma vez, depois da missa, alguém usou os dedos para contar os meus filhos na minha presença, como se fosse incompreensível para ele o que estava a ver.

Mas o pior, porém, são as ofensas que os meus filhos adolescentes ouvem dos seus pares, de tempos a tempos, sobre os seus pais. Não os posso reproduzir aqui para este público bem-educado, mas não terão dificuldades em imaginá-los.

Tantos golpes, vindos de todos os lados, levam-me a concluir que esta animosidade para com famílias numerosas é o último preconceito aceitável na América.

Os pais de famílias numerosas sabem muito bem que estão nas margens de uma sociedade que transformou as crianças em comodidades, em vez de as colocar no centro, enquanto objetivo, da vida de casal. Na Cultura da Morte as famílias pequenas são a norma esperada. Afinal de contas, quantas pessoas são encorajadas agora a pensar na maçada que é criar crianças durante anos a fio, prejudicando assim o tempo de lazer do pai e da mãe.

A família d'Avillez saúda a Cultura da Morte

E agora, com a ideologia do clima no pico da moda, devemos esperar que as famílias pequenas se tornem não apenas a norma, mas mesmo um requisito? Os especialistas em alterações climáticas dizem-nos que a melhor forma de cortar com as emissões de carbono é reduzir o número de filhos. Da ridicularização dos pais que têm muitos filhos até à pressão para que não os tenham, é um curto passo.


A Cultura da Morte e a ideologia do clima têm sido perigosamente bem-sucedidas na sua missão: em vários países do mundo há uma queda populacional, com governos na Europa e na Ásia a pagar às famílias para terem mais filhos. E por “mais” querem dizer um, dois ou pelo menos três, por oposição a nenhum. Estes esforços não acontecem para afirmar o bem que são as crianças, porém, mas para limitar as consequências de um inverno demográfico. Já não há nação sobre a terra que cultive aquilo que em tempos era compreendido pelo termo “típica família católica irlandesa”.

Num mundo assim as famílias numerosas continuarão a ser um alvo a abater. São sinais de contradição: testemunhos de vida, amor e sacrifício numa cultura que optou pela morte, apatia e egoísmo. As reações automáticas quando se vêem muitos filhos revelam claramente uma consciência pesada.

Uma vez que a principal razão pela qual pais católicos optam por ter muitos filhos, nos dias de hoje, é o amor a Deus, encontramo-nos novamente, nesta nossa era descristianizada e secular, na posição do Povo de Israel, diante da escolha apresentada por Deus.

Ponho diante de vós a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe a vida para viveres, tu e a tua descendência, amando o Senhor, teu Deus, escutando a sua voz e apegando-te a Ele, porque Ele é a tua vida. (Deut. 30, 19-20)

Talvez nunca tenhamos o equivalente a uma Liga Católica dos Direitos Civis e Religiosos para defender as famílias numerosas da discriminação. Não faz mal, não procuramos defensores neste mundo. Que as famílias numerosas sejam o último preconceito socialmente aceite diz mais sobre os perseguidores do que os perseguidos, que sabiam bem no que se estavam a meter, “porque acreditou em mim, hei de salvá-lo, hei de defendê-lo, porque conheceu o meu nome.” (Salmos, 91,14).

Os pais de famílias numerosas até se podem cansar das bocas e piadas, mas aturá-las-ão com paciência, porque procuram a aprovação de Deus, e não a da sociedade. Temos do Senhor a promessa de que a exclusão social traz a inclusão celestial. Ironicamente, sendo a inclusão o último grito da moda nos círculos iluminados, as famílias numerosas estão a percorrer o caminho mais duro: “Felizes sereis, quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o género de calúnias contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque grande será a vossa recompensa no Céu”. (Mt. 5, 11-12)


David G. Bonagura, Jr. leciona no Seminário de São José, em Nova Iorque. É autor de Steadfast in Faith: Catholicism and the Challenges of Secularism, que será lançado no próximo inverno pela Cluny Media.

(Publicado pela primeira vez na segunda-feira, 22 de Novembro de 2021 no The Catholic Thing)

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