Qualquer autor que trabalhe na área católica, confronta-se, a
dada altura, com a sabedoria de Coélet: “Não há limite para fazer livros, e o
muito estudar é enfado da carne” (Eclesiastes 12,12). Já no século III AC –
muito antes da invenção da imprensa, dos livros baratos ou do Kindle – os mais
sábios de entre os homens conseguiam perceber que às vezes corremos o risco de
nos afogarmos nas nossas próprias palavras.
Então, como hoje, parece ainda que muitas dessas colecções
de textos não passavam de palavras: textos cuja escrita não era muito urgente e
cuja leitura, consequentemente, também não. As coisas verdadeiramente
importantes encontram-se num pequeno número de locais, como a Bíblia e alguns
clássicos.
Mesmo a escrita “séria” nem sempre é tão séria como pensa,
sobretudo as lamentações sobre como os tempos vão mal e a insensatez de quem
não o compreende. O padre John Neuhaus gostava de recordar que Adão bem podia
ter dito a Eva, enquanto saíam do Paraíso: “Minha querida, estes são tempos de
mudança”. Reparar na mudança é fácil, é mais difícil saber o que fazer com ela.
O nosso amigo Philip Lawler, um dos melhores jornalistas
católicos ainda vivos e autor do livro “Faithful
Departed: The Collapse of Boston’s Catholic Culture”, o melhor livro
escrito sobre a crise dos abusos sexuais na Igreja (escrito ao abrigo dos
trabalhos do Faith & Reason Institute), tem perfeita noção das tentações do
comodismo e da melancolia que se abatem sobre os escritores. Precisamente como
contraponto, juntou uma série de ensaios sobre as coisas que estão bem com a “Igreja:
When Faith Goes Viral: 11 Success Stories on the New Evangelization from
Alabama to Vladivostok” [Quando a Fé se Torna Viral: 11 Histórias de
Sucesso da Nova Evangelização, do Alabama a Vladivostok].
Como se pode ler na Introdução :
O desafio para o
Cristianismo não é desenvolver um grande esquema para guiar as acções de toda a
gente, mas sim activar cada pequena rede, encorajando milhares de iniciativas
individuais. Claro que algumas falharão. Outras darão apenas resultados
modestos. Mas outros tornar-se-ão virais. Como não podemos adivinhar quais é
que terão sucesso, a abordagem mais produtiva talvez seja de encorajar o maior
número possível de projectos.
Isto parece perfeitamente em linha com a nova perspectiva do
Papa Francisco e os grandes movimentos de renovação na história do Catolicismo
– os Franciscanos, os Dominicanos, os Jesuítas – começaram da mesma forma.
Lawler reconhece que nem todos os exemplos que escolheu terão o mesmo impacto
com todos os leitores, mas é precisamente por isso que estes ensaios sobre
grupos tão variados são tão importantes. Este não é um daqueles livros de que se
vai esquecer, é um convite à acção.
Alguns dos capítulos falam de projectos que lhe poderão ser
familiares, como o canal de televisão EWTN,
por exemplo, a cadeia televisiva católica mais influente do mundo, que teve
sucesso onde bispos, empresários e barões dos media se afundaram, inspirada por
uma simples freira, nascida Rita Rizzo, sem qualquer experiência no mundo dos
meios de comunicação electrónicos, para não falar no mundo arriscado de
conteúdos televisivos.
John Burger dá-nos um olhar sobre FOCUS, o Fellowship of Catholic University Students,
que teve um começo humilde, tornando-se uma formidável força de conhecimento
verdadeiramente católico e – talvez mais importante – uma das poucas
instituições que encoraja os estudantes a residir em campus universitários
moralmente corruptos a viver vidas verdadeiramente católicas.
Na minha opinião, alguns dos capítulos mais interessantes
lidam com movimentos de renovação fora dos EUA. Lawler escreve sobre a minúscula
comunidade católica de Vladivostok, que tem atraído muita atenção na região não
só entre o remanescente de católicos que sobreviveu clandestinamente à
repressão soviética, mas também entre os muitos ortodoxos que teoricamente
ainda são crentes mas que não sabem nada sobre a sua fé e não a praticam.
Graças a dois padres missionários a Igreja da Santíssima Mãe de Deus foi
restaurada e chegou um órgão doado do Minnesota, permitindo a criação de um
ministério musical fantástico e concertos que atraem milhares de pessoas.
Outro caso em que a beleza serviu para galvanizar os bons e
os verdadeiros, a paróquia de St. John
Cantius, em Chicago, que esteve quase morta, é hoje um dos mais belos
espaços de oração na América do Norte, com um grande número de paroquianos e
missas frequentes na Forma Extraordinária do Rito Romano.
Na América Latina o Movimento
de Vida Cristã criou um programa chamado Natal é Jesus. O seu âmbito é mais
alargado do que possa parecer à primeira vista. Começou como uma tentativa de
contrariar o consumismo e secularismo do Natal moderno, mesmo nas nações de
língua espanhola e portuguesa, primeiro com uma lema negativo – Não existe
Natal sem Jesus –, mas rapidamente percebeu-se que a verdadeira mensagem era
positiva – e tinha um alcance muito maior que as centenas de milhares de
famílias e crianças no Natal, primeiro no Perú e depois espalhando-se até
países como o Ecuador, Brasil, Costa Rica e Nicarágua.
Como se pode ler noutros capítulos, há iniciativas parecidas
em países do antigo bloco soviético onde, como nos explica Emily Stimpson, há
25 anos as pessoas eram impedidas de falar sobre a sua fé pelo Comunismo: “Hoje
essa mensagem está a chegar dos media e da cultura em geral”.
Há situações ainda piores no mundo, claro, e há católicos
que procuram dar-lhes resposta – frequentemente sob pena de perseguição
sistemática ou até morte – no Quénia, na Índia e sob o jugo pesado do Islão. Os
ensaios dedicados a estes irmãos e irmãs na fé são alguns dos mais tocantes de
todos.
Não deixe de procurar este livro nas suas compras de Natal.
Os seus capítulos inspiradores podem ajudá-lo, apesar de todas as tentações
cínicas sobre o estado do nosso mundo pós-moderno, a saudar o nascimento do
Salvador com maior alegria e, quem sabe, com maior esperança.
Robert
Royal é editor de The Catholic Thing e presidente do Faith and Reason Institute
em Washington D.C. O seu mais recente livro The God That Did Not Fail: How
Religion Built and Sustains the West está agora disponível em capa mole da
Encounter Books.
(Publicado pela primeira vez em The
Catholic Thing na segunda-feira, 9 de Dezembro de 2013)
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